Por: Miguel Marques
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
Enquanto Simon Yates
conquistava o Colle delle Finestre na 20.ª etapa, selando a sua vitória na
Volta a Itália com um impressionante ataque a solo, outra figura menos
mediática ajudou, discretamente, a moldar o desenrolar dramático da jornada.
Durante alguns minutos fugazes, enquanto Yates se afastava e os rivais Isaac
Del Toro e Richard Carapaz hesitavam, Dries De Bondt intrometeu-se no momento
decisivo da corrida.
O belga de 33 anos, ao serviço
da Decathlon AG2R LaMondiale, não tinha qualquer obrigação de puxar pelos
candidatos à classificação geral na temida ascensão. Mas, como mais tarde
confessou ao WielerFlits, foi tudo uma jogada calculada. Com o seu futuro incerto,
De Bondt usou a Volta a Itália como uma montra, quase literalmente, para se
promover.
"Ainda não recebi qualquer esclarecimento da minha equipa sobre se poderei ficar em 2026", admitiu De Bondt. "Por isso, pareceu-me uma boa ideia fazer o meu marketing durante o Giro".
Nos bastidores, o belga já
estava em contacto com outras formações. Uma delas era a EF Education–EasyPost,
casa de Richard Carapaz. "Fiz o mesmo com Ken Vanmarcke", contou,
referindo-se ao diretor da equipa americana. "Disse-lhe: se ainda estiverem
à procura de ciclistas para 2026, estou disponível".
A resposta de Vanmarcke chegou
mesmo antes da penúltima etapa: "Ele perguntou: 'Têm algo planeado para
hoje? Vai ser difícil colocarmos alguém na fuga. Mas se estiveres lá e
desempenhares um papel importante no desfecho da Volta a Itália, pode surgir
algo sério.' Isso inspirou-me a fazer o que fiz com o Carapaz".
Assim, quando surgiu a
oportunidade, De Bondt não hesitou. Com Del Toro e Carapaz a perderem terreno
para Yates, que estava apenas a 22 segundos, o belga assumiu a dianteira,
rebocando o duo pelas rampas iniciais do Finestre.
"Consegui colocá-los a
oito segundos do Yates", recordou De Bondt. "Mas depois de três
minutos a dar tudo, estava fora da corrida. Com 73 quilos, estava a debitar
muito mais potência que os trepadores. Eles podiam ver o Yates ali à frente,
nem sequer estava longe. Esperei que tivessem o cérebro e as pernas para fechar
o espaço. Depois, o jogo podia recomeçar. Mas já não conseguiram".
A sua atuação levantou
sobrancelhas e gerou perguntas entre adeptos e especialistas. Mas, segundo o
próprio, era esse o objetivo. "Depois dessa ação, muita gente me perguntou
porque fiz aquilo. E era mesmo isso que eu queria: que ficasse claro para todos
que estou no mercado".
Resta saber se o gesto ousado
resultará num contrato com a EF ou outra equipa. "Só me têm de contratar
se estiverem convencidos de que me podem usar. Se ao menos me levarem à mesa
das negociações com as pessoas certas, já é uma vitória".
Apesar de uma época sólida e
da experiência ao mais alto nível, De Bondt encontra-se num limbo cada vez mais
comum no mercado de transferências atual. "Todos a quem digo que ainda não
tenho certezas ficam surpreendidos. Para quem está de fora, parece óbvio que me
vão renovar o contrato. Mas não é isso que está a acontecer".
"Acho que sou vítima da
chegada de outros corredores", disse, referindo-se às contratações de
Tiesj Benoot e Olav Kooij. "E esses ciclistas trazem também o seu staff.
Isso significa menos lugares disponíveis e a equipa tem de ponderar bem como
preencher as vagas que restam. Não é fácil renovar com todos os que terminam
contrato".
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