Por: Carlos Silva
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
José Azevedo já leva muitos
anos ligado ao ciclismo, alguns deles passados como braço direito de um dos
mais controversos ciclistas de todos os tempos: Lance Armstrong.
Lance Armstrong admitiu fazer
parte de uma rede de doping da qual ele seria o principal beneficiário, perdeu
todos os títulos da Volta a França e desceu do céu ao inferno num ápice. Com a
sua descida ao inferno arrastou consigo toda a modalidade, descredibilizando-a,
afugentando patrocinadores e foi um dos principais culpados da destruição do
ciclismo no seu próprio país.
Ainda hoje há quem defenda que
"naquela altura todos se dopavam e mesmo assim ele era o melhor",
algo que era tido como regra geral, um hábito e uma prática comum no pelotão
profissional.
José Azevedo não vê as coisas
dessa forma e explica."Não sei. Mas não me preocupa. Tenho orgulho no meu
percurso como ciclista. Tenho orgulho de ter corrido na ONCE, liderada por
Manolo Sainz, que também teve problemas. E de ter corrido na US Postal e
Discovery, de ser companheiro de equipa do Armstrong, de ter o Johan Bruyneel
como diretor desportivo. São pessoas com quem aprendi muito de ciclismo. A
nível da organização estrutural, programação, planificação, comportamento com
os corredores, até na parte psicológica", diz em conversa com O Jogo.
Azevedo fez parte de equipas
que têm um passado com ligações ao doping e nos dias de hoje ninguém se esquece
desses tempos e fala mal dessas equipas. "É lógico que o digam, até o
Armstrong esteve envolvido num grande problema de doping. O projeto tinha esse
lado, não era só o Armstrong. Mas se hoje sei que o Armstrong consumiu
substâncias proibidas foi porque ele o disse", explica.
Se ele se
dopava? Nunca vi
"Porque nunca vi. Nunca
fui assediado dentro da equipa para usar produtos dopantes. Foi algo que me
passou completamente ao lado. Tinha a minha missão na equipa, o meu calendário,
as minhas responsabilidades, ia para as provas e sabia qual era o meu lugar e o
que exigiam de mim, ajudar o Armstrong a ganhar. Só me preocupei com
isso."
Questionado sobre se nunca lhe
tinham perguntado por Armstrong, Azevedo diz. "Repito o que disse: nunca
vi, nunca fui assediado. Fiz o meu trabalho, tenho orgulho do que fiz na
carreira. O aconteceu, aconteceu a ele. Os corredores estão em sua casa, é aí
que treinam. Não sei o que se passa na casa dos outros. Posso falar por
mim."
Para continuar "E não vou
dizer mal dele, porque como pessoa, como colega de equipa, para mim foi do
melhor que existe. Nunca se comportou como vedeta, nunca teve uma falta de
respeito connosco, sempre valorizou o nosso trabalho. E nós não estávamos ali
por obrigação, éramos pagos para trabalhar para ele. E ele tinha sempre uma
palavra de agradecimento."
A imagem que o ciclista
americano passava para fora era completamente diferente da que realmente víamos
"Quando estávamos no hotel, autocarro, ou em estágios, éramos todos
iguais. Quando ele saía do autocarro passava uma imagem de distância, se calhar
para se proteger."
Quando Lance Armstrong
confessou que se dopava, tudo o que tinha feito no ciclismo e pelo ciclismo
simplesmente desapareceu, caiu no esquecimento. "Claro. Agora é visto como
a maior fraude do desporto. Cada um é livre de julgar. Tenho muito respeito,
consideração e admiração por ele. Apesar dos erros que cometeu, não podemos
esquecer que, como atleta, tinha muito potencial. Se ganhasse só por tomar
produtos, então não valia a pena treinar, qualquer um podia ser campeão."
Azevedo recorda os tempos que
partilhou com Lance, da forma profissional como se preparava e encarava o
ciclismo. "O Tour era preparado nove meses antes e nem a chuva o parava”
afirma, “Quem conviveu com ele, e tive esse prazer, começava a preparar o Tour
nove meses antes. Era um grupo de 12 corredores, que ia reduzindo até aos nove
finais. Quando começava a treinar, em novembro, era já com o plano para o
Tour”.
Azevedo revelou o que mais
admirava em Armstrong: “Lembro-me de uma vez, na zona da Califórnia, estar a
chover. Era um estágio de 15 dias e sabíamos que no seguinte estaria sol. Ele
já tinha ganho seis vezes o Tour e fomos todos treinar na mesma. Essa dedicação
e esforço eram exemplos a fixar", concluiu.
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