Por: Miguel Marques
Foto: Federação Portuguesa de
ciclismo
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
Com apenas 18 anos, José
Salgueiro é um dos nomes mais promissores do ciclismo português de formação.
Depois de uma época marcada pela vitória na Taça de Portugal de Juniores e por
participações consistentes em provas internacionais, à cabeça o 2º lugar na
geral do Challenge Comarcas Leonesas e o 9º posto na Vuelta Ciclista a la
Montaña Central de Asturias, o jovem corredor da Picusa Academy fala ao
Ciclismo Atual sobre o percurso, os desafios e a ambição de chegar ao mais alto
nível.
Desde cedo, o gosto pelas duas
rodas foi ganhando força. "Desde pequeno, costumava dar umas voltas de BTT
com o meu pai, uma ou duas vezes por mês, mas nada muito sério. Durante a época
de COVID comecei a pedalar semanalmente e acabei por descobrir uma verdadeira
paixão pelo desporto. Em 2021, após a pandemia, entrei para a ACR Roriz e
iniciei a minha caminhada de forma mais séria no ciclismo", recorda o
jovem minhoto, natural de Barcelos.
A temporada de 2025 trouxe
conquistas e aprendizagens. "A verdade é que a época não correu exatamente
como esperava. Não foi uma má temporada e até consegui bons resultados, mas
preparei-me para alcançar mais do que aquilo que acabei por conseguir. A Taça
de Portugal de juniores foi sem dúvida um dos pontos altos, mas a Vuelta a
Besaya e o Trophée Centre Morbihan também se destacaram, não apenas pelos
resultados, mas sobretudo pela minha prestação em prova".
Entre as muitas corridas
disputadas, há uma que ficou gravada na memória. "O Tour de Vallromey foi,
sem dúvida, a prova que mais me marcou este ano. Não só pela exigência do
percurso e pelo nível dos ciclistas presentes, mas também porque cheguei lá
doente (sem o saber na altura) e com alguma fadiga acumulada. Ter de enfrentar
o meu principal objetivo da época nessas condições, sem dúvida deixou-me uma
marca".
Sobre a experiência na Picusa
Academy, José fala com enorme reconhecimento. "Nos últimos dois anos, na
PICUSA, tive uma experiência excelente. Lá não há líderes fixos; todos
trabalham em função de quem está melhor. Muitas vezes, em 2024, fui eu a trabalhar
para os outros, mas quando era eu quem precisava de apoio, a equipa esteve
sempre ao meu lado, fazendo tudo o que pôde para me ajudar a ganhar. Grande
parte das conquistas que alcancei nestes dois anos deve-se, sem dúvida, aos
companheiros de equipa e à equipa técnica".
Correr em Portugal ou fora são
experiências distintas, e o jovem atleta sente bem essa diferença. "Sim,
sem dúvida, correr em Portugal também apresenta desafios. As corridas têm outra
dinâmica e a leitura da prova é fundamental, já que normalmente há menos
equipas a controlar. As provas acabam por ser mais imprevisíveis. No entanto,
lá fora o nível é mais elevado, tornando as corridas mais duras e difíceis de
disputar".
Quando questionado sobre o
tipo de corredor que é, a resposta mostra maturidade e autoconhecimento:
"Gosto muito de subir e costumo andar bem tanto em subidas curtas como
longas, especialmente se forem inclinadas. O que faz com que me destaque mais em
provas com mais que uma etapa, pois a partir do terceiro, quarto ou até quinto
dia sinto-me melhor e consigo evoluir ao longo da prova. Também me consigo
desenrascar nos contrarrelógios, o que penso que pode fazer de mim no futuro um
bom voltista".
A vida de um júnior é feita de
equilíbrios, e José não esconde as dificuldades. "Na verdade, não é fácil,
porque, enquanto júnior, não podemos descuidar a escola e os estudos. Ainda não
ganhamos dinheiro e não sabemos se a carreira no ciclismo será sustentável a
longo prazo. Conciliar estudos, treinos e provas, sobretudo fora de Portugal, é
desafiante, mas totalmente possível".
Quanto ao futuro, há ambição,
mas também realismo, naquele que será o seu primeiro ano enquanto sub-23.
"Em 2026, o meu objetivo é ser mais constante, para conseguir mostrar
realmente todo o meu potencial. Vou mudar de equipa, já que a PICUSA não tem
continuidade em sub-23. Penso que não posso revelar em que equipa vou correr,
mas irei dar o meu máximo. Nos anos seguintes, como a maioria dos ciclistas, o
meu grande objetivo é chegar ao World Tour e manter-me lá pelo maior tempo
possível".
Entre as referências, José
mostra gosto pelo ciclismo moderno e versátil: "O meu ciclista preferido é
Pogacar, mas também vibro muito com o Wout Van Aert, o Sepp Kuss e o Ben Healy.
Portugueses acabo sempre por torcer por eles quando correm no estrangeiro, mas
destaco o Rui Costa, pela sua inteligência dentro de corrida".
E, por fim, fica a lição que
carrega consigo e que resume bem a mentalidade necessária para vingar neste
desporto exigente: "O ciclismo deu-me muitos ensinamentos, mas a maior
lição foi perceber que o talento sozinho não chega. É preciso disciplina.
Muitas vezes não é a motivação que nos faz treinar e fazer as coisas bem, há
momentos em que a motivação não está lá, e é a disciplina que mantém o
trabalho. A motivação volta, mas aprender a continuar mesmo quando falta é
essencial, tanto para ciclistas como para qualquer pessoa".
José Salgueiro fecha assim o
seu capítulo júnior com a certeza de que o caminho está apenas a começar.
Disciplina, humildade e ambição não lhe faltam, ingredientes que fazem dele um
nome a seguir de perto nos próximos anos do ciclismo português.
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