terça-feira, 30 de janeiro de 2024
“Primeira etapa cancelada Etoile de Bessèges”
Por: José Morais
Foto: Cor Vos
Esta quarta-feira, a 54ª
edição do Etoile de Bessèges era para começará em Bellegarde, pelo menos, era
esse o plano, porem, a etapa de abertura foi cancelada devido a um grande
protesto de agricultores, fontes confirmam isso à WielerFlits.
A 54.ª edição do Etoile de
Bessèges estava marcada para começar na quarta-feira, em Bellegarde, com a
chegada da etapa de abertura também a ser nesta cidade, a cerca de vinte quilómetros
de Nîmes, a etapa planejada tem pouco mais de 160 quilómetros de extensão e
acontece em estradas relativamente planas, embora a final seja muito difícil, de
fato, o final está localizado numa inclinação curta, mas difícil, com de cerca
de 800 metros a 7%.
No entanto, não teremos uma
grande disputa entre os fortes velocistas, já que a organização é obrigada a
cancelar a etapa, no departamento francês de Gard, os agricultores programaram
organizar greves em grande escala esta quarta-feira, com a organização do
Etoile de Bessèges a não ter capacidade policial suficiente para lidar com isso,
e ainda administrar a corrida.
“Rui Oliveira foi 14.º na primeira etapa do AlUla Tour”
Casper van Uden, holandês de 22 anos, lidera a prova
Por: Lusa
Foto: Instagram Rui Oliveira
O ciclista português Rui
Oliveira (UAE Emirates) foi esta terça-feira 14.º classificado na primeira
etapa do AlUla Tour, antiga Volta à Arábia Saudita, sendo 17.º na geral.
Rui Oliveira foi 14.º no final
dos 149,5 quilómetros com início e final em Al Manshiyah, onde o ciclista
holandês Casper van Uden (dsm-firmenich) se impôs ao sprint diante do
compatriota Dylan Groenewegen (Jayco AlUla) e do belga Tim Merlier (Soudal
Quick-Step), respetivamente segundo e terceiro com as mesmas 03:18.45 horas do
vencedor.
Na geral, Casper van Uden, de
22 anos, lidera com quatro segundos de vantagem para Groenewegen e seis sobre
Merlier, graças às bonificações distribuídas na meta, com Oliveira em 17.º, a
10.
O seu irmão gémeo Ivo, também
da UAE Emirates, foi 43.º na tirada e ocupa a 45.ª posição da geral, também a
10 segundos do jovem da dsm-firmenich.
Na quarta-feira, a segunda
etapa liga o Winter Park de AlUla à reserva natural de Sharaan.
Fonte: Record on-line
“Rafael Silva fez 11 análises para detetar anomalia”
Ciclista surpreendeu ao anunciar o fim da carreira, aos 33 anos
Por: Ana Paula Marques
Rafael Silva surpreendeu ao
anunciar o fim da carreira, aos 33 anos, devido ao facto de ter sido notificado
pela Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP) num “processo por eventual uso de métodos proibidos”
e cuja análise foi recolhida...em 2015.
Ao nosso jornal, fonte da ADoP
explicou que o ciclista foi submetido a 11 análises pelo menos desde 2015, que
traçaram o seu perfil. E na comparação entre todos os dados foi então detetada
a suposta anomalia nas análises recolhidas há nove anos, que levará à suspensão
de Rafael Silva, que para já poderá ser provisória.
Em comunicado, Rafael Silva
disse estar inocente, mas referindo que vai acatar a decisão da ADoP. “Encerro agora um ciclo. Saio com tristeza no coração,
mas de consciência serena e certo de que esta é a decisão que devo tomar. A
vida continua, agora fora da competição, mas sempre em cima da bicicleta”,
confessou o ciclista gaiense, que correu nas duas últimas épocas na Efapel de
José Azevedo, sendo que em 2015 competia na outra Efapel, agora a
Sabgal-Anicolor.
Fonte: Record on-line
“Águeda aplaude Sabgal / Anicolor em dia de apresentação com casa cheia”
O Município de Águeda vestiu-se hoje, dia 29 de janeiro, de Amarelo Flúor, para receber a Apresentação Oficial da Equipa Profissional de Ciclismo Sabgal / Anicolor, que teve lugar no Centro de Artes de Águeda, perante um auditório cheio e que aplaudiu a formação que vai para a estrada em 2024, com um novo principal patrocinador, a Sabgal. A estrutura do Clube Desportivo Fullracing, que tem sede em Águeda, cresceu e está mais ambiciosa, sendo objetivo criar uma equipa de ciclismo portuguesa de referência no cenário internacional, para alcançar novos patamares.
Antes de ser dada a conhecer a
Equipa Profissional, quem inaugurou o palco foram as estrelas mais jovens, da
Academia Fullracing – Águeda, um projeto de formação que tem crescido e que em
2024 vai ter os escalões de Escolinhas e Cadetes. Coordenada pela aguedense
Vânia Baptista, a Academia conta atualmente com 30 crianças que participam em
várias provas nas vertentes de Estrada e BTT e vai dar início à sua terceira
temporada.
A partir daqui todas as atenções ficaram concentradas nos profissionais. Antes de virem a palco foi apresentado o calendário para 2024, bem ambicioso, onde há uma aposta nas corridas internacionais, tendo em conta o plantel que foi construído com esse objetivo. Além das provas do calendário nacional, com destaque para a 85.ª Volta a Portugal, a estrutura vai deslocar-se para corridas importantes como o Tour of Antalya, na Turquia (8 a 11 de fevereiro), o Gran Camiño (22 a 25 de fevereiro) e La Vuelta Asturias (26 a 28 de abril), ambas em Espanha. A Sabgal / Anicolor vai também participar no Circuit des Ardennes (4 a 7 de abril), Postnord Tour of Denmark (14 a 18 de agosto) e Skoda Tour de Luxembourg (18 a 22 de setembro).
O momento mais aguardado da
tarde chegaria com a a entrada em palco dos 15 corredores da estrutura. Os
portugueses Frederico Figueiredo (32 anos, Trepador), Rafael Reis (31 anos,
Contrarrelogista), Luís Mendonça (38 anos, Sprinter), Duarte Domingues (19
anos, Trepador), o uruguaio Mauricio Moreira (28 anos, Completo e
Contrarrelogista) e o russo Artem Nych (28 anos, Completo) são os seis
corredores que se mantêm da anterior temporada. Juntam-se em 2024 os
portugueses André Carvalho (26 anos, Completo), José Sousa (24 anos, Sprinter e
Rolador), Gabriel Baptista (18 anos, Completo) e Tiago Caetanita (18 anos,
Trepador e Contrarrelogista), o neerlandês Antwan Tolhoek (29 anos, Trepador),
o dinamarquês Mathias Bregnhøj (28 anos, Trepador e Contrarrelogista), o
britânico Oliver Rees (22 anos, Completo e Contrarrelogista) e os espanhóis
Guillermo García (24 anos, Completo) e Oscar Moscardó (25 anos, Rolador).
Após um conjunto de intervenções, com a Direção do Clube Desportivo Fullracing e os principais patrocinadores, Sabgal e Anicolor, bem como o Presidente da Câmara Municipal de Águeda e anfitrião da sessão e Delmino Pereira, presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo, houve um momento muito emotivo, que homenageou Fernando Emílio, jornalista do diário desportivo A Bola, por toda uma vida dedicada ao ciclismo e participação em 50 edições da Volta a Portugal.
Esta segunda-feira foi também
apresentada a equipa técnica e staff. A Direção Desportiva continua sob o
comando de Rúben Pereira, que mantém ao seu lado José Augusto Silva, Diretor
Desportivo Adjunto. Carlos Pereira é o Team Manager do Clube Desportivo
Fullracing e conta com o apoio de Maria João Gouveia (Direção) e Marta Varandas
(Comunicação e Imagem). Do restante staff fazem parte esta época os massagistas
Paulo Silva, André Sousa, Rúben Couto, Paulo Figueiredo, Sílvia Peixoto e Fábio
Afonso e os mecânicos Carlos Pinho, Fernando Vilela e Carlos Oliveira.
Mantém-se o médio Carlos Branco e o osteopata Gabriel Aroso e o novo
nutricionista é Pedro Meirinhos.
Intervenções
na cerimónia de apresentação
Carlos
Pereira, Team Manager do Clube Desportivo Fullracing:
“O que
mais me dá gozo é trazer marcas novas para o ciclismo. Quando as marcas apostam
no ciclismo, apostam com um pé atrás, não sabem a época que os espera e o
retorno que vão tirar. A Sabgal jamais imaginaria ter uma equipa profissional
de ciclismo. O ciclismo é mais do que andar de bicicleta, é ambiente e
sustentabilidade, é marketing e publicidade”.
Rúben
Pereira, Diretor Desportivo da Sabgal / Anicolor Cycling Team:
“Esta
equipa deve-se muito ao Sr. Ernesto e ao Sr. Sampaio. Quanto ao calendário que
vamos ter pela frente, está é uma equipa muito bem estruturada, em que todos
sabem o seu papel. O espírito é sempre correr para ganhar. Nesta nova época,
vamos ter 120 dias de corrida e vamos dividir a equipa seis vezes ao longo do
ano, o que vai implicar uma logística muito grande. Queremos dar a conhecer
esta equipa portuguesa ao nível internacional”.
Ernesto
Vidal, Administrador da Sabgal:
“Uma
equipa não se faz com um patrocinador, mas com vários, com os ciclistas, com o
staff, com as crianças. O ciclismo é onde nos identificamos para promover a
nossa área de negócio. Vemos no ciclismo uma modalidade diferente, que vai às
populações. É emoção. Acresce que a equipa é de Águeda e eu sou de Águeda.
Vivenciar a equipa por dentro, no ano passado, foi uma oportunidade única para
perceber a união entre todos, é uma família. Águeda é uma terra conhecida no
mundo e com esta equipa vamos acentuar esse conhecimento. Achamos que é um
investimento com retorno”.
Fernando
Sampaio, Administrador da Anicolor – Sistemas de Alumínio:
“Hoje
estou extremamente feliz, porque estes dois empresários (principais
patrocinadores e naming da equipa) são os dois de Águeda. É um enorme orgulho
estar neste projeto. As forças vivas apoiam o ciclismo e esta que é a principal
equipa do ciclismo nacional, o projeto mais sustentável do nosso país. É um
sonho para todos nós contribuirmos para este projeto. Queremos notoriedade para
as nossas marcas que passam por ganhar provas, mas acima de tudo com a vossa
postura e a forma ética com que se posicionam, ou seja, notoriedade de uma
forma positiva”.
Delmino
Pereira, Presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo:
“É com
grande alegria que assistimos ao entusiasmo das marcas de Águeda ao apostar no
ciclismo, numa equipa imensa com 15 ciclistas. Marcas que ficam para a
história, do desporto, do ciclismo e das pessoas. Destaco a nova geração de
dirigentes que deu origem a este ciclismo de sucesso e que construiu equipas e
projetos de referência. Este, que hoje foi apresentado, um projeto que tem
ambição internacional e que em certos momentos vai ter duas estruturas a
competir em simultâneo em provas diferentes, o que é algo extraordinário. É um
projeto inspirador, que consegue mobilizar e cativar esta paixão por esta
modalidade”.
Jorge
Almeida, Presidente da Câmara Municipal de Águeda e anfitrião:
“Dia
feliz para mim e para todos os aguedenses, para todos os que gostam de
ciclismo. Este é um projeto português, diferente, inovador e já não nos
lembrávamos de ver um projeto com esta ambição a querer mostrar-se
além-fronteiras. Ao olhar para estes ciclistas, quando estiverem a dar os 150
%, lembrem-se que estão a viabilizar um projeto que é muito importante para a
afirmação desta modalidade no país. Pende sobre as vossas pernas, ombros, cabeças,
vontade e determinação fazer com que seja um projeto de sucesso. Estou
absolutamente convencido de que, no próximo ano, estaremos novamente aqui a
apresentar esta mesma equipa com ambições ainda maiores. O ciclismo é um
veículo de comunicação incrível, o único desporto de alta competição que vai à
porta das pessoas. É uma equipa de Águeda, um projeto, por um lado, altamente
rentável em termos de notoriedade e, por outro, estamos a afirmar-nos juntos
como o grande território que é Águeda”.
Artur Lopes,
Presidente da Assembleia Geral da Federação Portuguesa de Ciclismo:
“Este é
um projeto muito importante, muito bem defendido e espera-se que façam uma
época brilhante”.
Fonte: Clube Desportivo Fullracing
“Nova publicação a partir de 1 de fevereiro…”
País Magazine
Por: José Morais
A partir de 1 de fevereiro, a
Revista Notícias do Pedal vai lançar um novo suplemento, será uma publicação
generalista, onde vai abordar uma grande diversidade de assuntos e notícias
diversas, denominado de “País magazine”,
Vamos assim divulgar tanto a
atualidade, como recordar momentos antigos, esperemos que seja do vosso agrado.
Este novo projeto, a partir de
1 de fevereiro pode ser seguido em:
Blogue: https://paismagazine.blogspot.com/
Facebook: https://www.facebook.com/paismagazine
YouTube: https://www.youtube.com/@PaisMagazine
E-mail: paismagazine06@gmail.com
“À conversa com…”
Hoje falamos de Luís Costa, um paraciclista com muita determinação e força de vencer
Por: José Morais
Fotos: Facebook Luís Costa
Como muitas outra modalidades
desportivas para deficientes, o paraciclismo é um desporto que necessita de
muito apoio e carinho, não sendo muitas vezes bem tratado, pouco falado e
divulgado, sendo olhado muitas vezes como atletas de um patamar muito inferior,
onde continua a existir o estigma do “Coitadinho,
é do aleijadinho”.
O paraciclismo é um desporto que deriva do ciclismo, sendo o mesmo destinado a atletas com deficiências, sendo a sua prática realizada em bicicletas adaptadas, handbike, ou triciclos, a origem da modalidade deu-se na década de 80, com a União Ciclismo Internacional-UCI a partir de 2006, a promover o campeonato mundial de paraciclismo, nas vertentes de estrada e pista, com exceção dos anos em que se realizem jogos olímpicos.
E o paraciclismo em Portugal,
como em muitas outras modalidades fica bastante aquém de apoios e divulgações,
não mostrando os feitos dos nossos atletas, e para saber um pouco mais da
determinação, e da modalidade, fomos à procura de um paraciclista de renome em
Portugal.
Falamos
de Luís Costa, e um pouco da sua história:
“Luís Miguel Pinto Costa, 50 anos de idade, natural de Castro Verde, atualmente a residir em Portimão, de profissão, Inspetor da Polícia Judiciaria, onde as motas eram, e continuam a ser a sua grande paixão, andando diariamente na sua Harley Davidson”.
Mas a sua grande paixão em nada desmoronou, “no dia do seu aniversário em 2003, precisamente no dia
que completava os seus 30 anos de idade, num grave acidente de viação de mota
que sofreu, deu origem a que lhe fosse amputada a sua perna direita”.
Luís Costa não desistiu da vida, senhor de uma perseverança, e de uma vontade
inabalável de viver, na altura não era um atleta federado, praticava atletismo
por lazer.
De salientar de que Luís Costa, foi antigo paraquedista, esteve na Bósnia, e sempre teve força de vencer e lutar, porem… dez anos após o seu acidente, despertou-lhe a atenção para o antigo piloto italiano Alessandro Zanardi, que tinha perdido as duas pernas, num acidente de Fórmula Indy em 2001, e a sua prestação do mesmo nos Jogos Paralímpicos de Londres em 2012, a sua motivação despertou, era imensa na altura, que um ano depois estava a competir com o antigo piloto italiano.
A entrevista:
Notícias do Pedal: Luís Costa, como foi a tua infância?
Luís Costa: -
Igual à maioria das crianças, creio eu.
Cresci no seio de uma família normal, sem dramas. E felizmente foram-me
incutidos os valores corretos em termos de educação e respeito.
Como era a tua vida antes do acidente?
L.C.: - Antes do acidente a minha vida dividia-se entre o trabalho,
treinos de atletismo e ginásio, família e amigos. Ou seja, não era muito
diferente do que é atualmente, exceto que agora o desporto tem um peso muito
maior nessa equação.
Praticavas desporto, qual, eras federado?
L.C.: - Não era federado. Fazia treinos de corrida (atletismo) e
ginásio, mas apenas para me manter em forma, sem competir.
Após o acidente, quais as tuas preocupações?
L.C.: - Ui, tantas…inicialmente preocupava-me se seria capaz de
voltar a desempenhar a minha profissão normalmente e muitas outras preocupações
que com o passar do tempo deixaram de ser “problemas”
e passaram a ser encaradas com normalidade.
Na altura eras casado e tinhas filhos, que pensaste?
L.C.: - Quando tive o acidente tinha um filho com 4 meses de idade e
questionava-me se seria capaz de desempenhar o meu papel de pai com as
limitações físicas que passei a ter. Claro que isso foi ultrapassado, e hoje em
dia já esse primogénito já é um adulto e tenho um mais novo com 9 anos. Ambos
cresceram a conviver com a minha diferença física e isso nunca lhes fez
confusão.
Como reagiu a tua família e amigos?
L.C.: - Naturalmente foi um choque para todos, ainda por cima no dia
em que fiz 30 anos. Mas acho que eu próprio ajudei toda a gente a ultrapassar o
sucedido, com a minha positividade.
Após a tua amputação, como foi a tua recuperação e que tempo
demorou a mesma?
L.C.: - A minha recuperação foi muito rápida, tendo em conta a
gravidade do acidente. Para além da amputação da perna, também fraturei a
cervical, mas saí do hospital ao fim de apenas 30 dias e no dia seguinte fui
para o ginásio. Ao fim de 6 meses coloquei a primeira prótese e regressei ao
trabalho.
Que apoios tiveste?
L.C.: - A família, os amigos e os colegas de trabalho foram os
maiores apoios.
Como ficaste emocionalmente e psicologicamente?
L.C.: - Fiquei revoltado nos primeiros dias, mas rapidamente “chutei a bola para a frente” e segui com a minha vida. Claro que nem tudo é um
mar de rosas, também tenho dias difíceis em que só me apetece ficar sozinho,
mas isso acontece com todos nós, não é…
Mantes-te na tua profissão, tiveste restrições, que mudou, e
como te adaptaste?
L.C.: - Mantive-me na minha profissão, a desempenhar as mesmas
funções que tinha antes do acidente. Inicialmente nada mudou por causa do
acidente em termos laborais. As maiores alterações vieram a acontecer alguns
anos depois, quando descobri o paraciclismo e adquiri o estatuto de alto
rendimento. Tive que mudar de área de trabalho, e adaptar o meu horário às
exigências da alta competição.
Alessandro Zanardi foi uma inspiração para ti, porquê?
L.C.: - Porque eu lembrava-me do acidente dele e quando, em 2012, se
começou a falar tanto dele devido à sua participação nos Jogos Paralímpicos de
Londres, isso despertou-me o interesse pelo paraciclismo e foi o ponto de
partida para eu começar a treinar. E desde logo um dos meus objetivos foi
chegar ao nível dele e se possível poder ganhar-lhe. Levei alguns anos, mas
consegui fazê-lo.
Porque só dez anos depois do acidente, decidiste iniciares
no paraciclismo?
L.C.: - Simplesmente por desconhecimento
da existência da modalidade. Quem me dera ter começado uns anos antes.
Porque optaste por praticar numa handbike, e não numa
bicicleta tradicional de duas rodas adaptada?
L.C.: - Porque devido
ao treino de ginásio, tinha mais bases para fazer força com os braços, ao invés de pedalar
com apenas uma perna, ainda por cima com dores frequentes no joelho.
Que dificuldades sentiste quando iniciaste?
L.C.: - Uma grande dificuldade inicial foi
adaptar-me ao movimento de braços, e ter que perder muito peso. O treino de
ginásio tinha-me dado um grande volume muscular, creio que pesava então cerca
de 80 kgs e atualmente peso entre 55 a 58 kgs, dependendo da fase da
época. Outra grande dificuldade foi o
custo de uma handbike decente para competir. Tive que começar por uma pesada e
nada competitiva e ao longo dos anos ir adquirindo melhores.
Algumas vez pensas-te em desistires por não conseguires e
ser muito difícil?
L.C.: - Não, isso nunca me passou pela
cabeça.
Sentiste-te arrependido de teres iniciado tão tarde?
L.C.: - Sim, se tivesse começado logo após
o acidente, teria usufruído de mais 10 anos de competição, com menos idade e
por isso provavelmente com maior capacidade física. Mas acho que mesmo assim
não me tem corrido mal.
Se pudesses mudar que farias?
L.C.: - Nada. As coisas são como são, é
aproveitar o que temos e somos.
Na altura que começaste a competir que sentias?
L.C.: - Sentia-me bem, por ter ali um novo
objetivo de vida. Quando comecei a competir internacionalmente, senti que
precisava melhorar muito se queria algum dia vir a fazer parte do grupo dos “grandes”, para discutir com eles os
pódios a nível mundial.
E atualmente como te sentes?
L.C.: - Hoje em dia a situação é
totalmente diferente, sei que sou um dos atletas sobre quem recaem as atenções.
Embora com 50 anos de idade, já levo muitos anos a alcançar regularmente
resultados de relevo em Taças do Mundo, Campeonatos do Mundo e Europeus. Para
além dos vários pódios já alcançados, continuo a lutar pelo top 5 mundial todos
os anos. Os meus adversários estão sempre à espera de que eu saque “um coelho da cartola” e que lhes possa estragar a festa.
Em Portugal não existe profissionalismo no paraciclismo, o
que sentes quando competes fora do nosso país com atletas que são
profissionais?
L.C.: - O paraciclismo é uma modalidade
amadora, em Portugal e em todo o mundo. De um modo geral, não há paraciclistas
profissionais, ninguém vive exclusivamente disto, nem mesmo os campeões do
mundo. Não confundir o fato de que muitos se dedicam exclusivamente ao
paraciclismo, com profissionalismo. Alguns podem não fazer mais nada para além
do paraciclismo, mas não têm um contrato que lhes dê um ordenado ao fim do mês.
Vivem de pensões, subsídios, seguros, patrocínios, etc. Em tantos anos, só tive
conhecimento de dois ou três paraciclistas que assinaram contratos
profissionais, em países estrangeiros, claro. Por isso, tendo conhecimento dessa
realidade, não me sinto em inferioridade de condições em comparação com os meus
adversários, sejam de que país forem.
Sentes-te com mais força para lutar e vencer?
L.C.: - Bem, a confiança, a vontade e a
ambição continuam intactas, sem dúvida. Já a capacidade física a partir de
agora é sempre uma incógnita. Tenho 50 anos e estou a competir com atletas na
casa dos 20, porque no desporto adaptado não há escalões etários. Um pormenor
que a maior parte das pessoas desconhece ou desvaloriza.
Gostavas de ser profissional, qual o estatuto que te daria
ser?
L.C.: - Ser profissional não me daria um
estatuto maior do que aquele que tenho. Quantos profissionais do ciclismo
português conquistaram medalhas em Campeonatos do Mundo e Europeus, como eu já
fiz? Mas gostaria, sim. Apenas pela possibilidade de assim poder deixar a minha
atual profissão e dedicar-me em exclusivo ao desporto, com os óbvios ganhos que
isso poderia trazer à minha performance.
Como são os teus treinos, fazes os mesmos sozinhos ou com
treinador?
L.C.: - Os meus treinos são como qualquer
treino de ciclismo. O treinador envia-me o plano diário e eu executo. Todos os
dados ficam registados no ciclocomputador, são depois descarregados para um
sistema informático e o treinador acede à informação sempre que necessita.
Treino sempre sozinho, 6 dias por semana, com duração média entre 1h30 e 3h30.
E mais 3 treinos/semana no ginásio como complemento.
Como consegues conciliar no teu dia a dia, treinos,
profissão, competições, família, e convívio com amigos?
L.C.: - Com muita “ginástica”. Mas tenho que dar prioridade
a algumas coisas em relação a outras. É o preço a pagar pelo sucesso e a
família e amigos são sempre os mais prejudicados, infelizmente.
Nas provas em que participas, quais as que te sentes
melhores, e mais gostas de competir?
L.C.: - As provas em que me sinto melhor
são os contrarrelógios, é aí que consigo obter os meus melhores resultados. No
contrarrelógio só dependo de mim, enquanto nas provas em linha há demasiados
fatores a ter em conta, como as táticas de alguns atletas que trabalham em
equipa, a colocação, as fugas, etc. Em
termos de perfil, gosto mais quando os percursos são montanhosos, pois sou leve
e isso dá-me alguma vantagem.
O que foi participar nos Jogos Olímpicos do Rio, e competir
nas condição de líder mundial?
L.C.: - Não tenho memória se nos Jogos do
Rio cheguei lá como líder do ranking mundial, mas se assim foi, isso não teve
qualquer importância, o ranking mundial é apenas uma soma de pontos adquiridos
nas várias provas ao longo da época, o líder do ranking pode não ser
necessariamente um dos melhores atletas da classe nesse ano, como foi o meu
caso em 2016. Mas sobre a minha participação nesses Jogos, posso dizer que foi
o concretizar de um sonho, e era um dos meus objetivos principais quando
comecei a competir. Mas senti muito mais emoção ao participar nos Jogos de
Tóquio 2020, pois enquanto nos Jogos do Rio eu não tinha ainda qualquer
hipótese de me bater com os candidatos ao pódio, em Tóquio já eu tinha um
estatuto totalmente diferente e creio que até dei espetáculo, mesmo sem ter
chegado às medalhas.
Atualmente em Portugal és o único na tua categoria, gostavas
de ter mais atletas a competir, a competição seria melhor?
L.C.: - Gostava de ter mais atletas da
minha classe em Portugal, claro. Se a competição seria melhor, isso já é outra
história. Se tivesse mais 20 atletas da minha classe, mas o nível deles fosse
baixo, de que me adiantava? Por vezes o que conta é a qualidade e não a
quantidade.
Quais os locais que mais dificuldades sentes, tanto para
treinares como competires, e quais mais gostas?
L.C.: - Não sinto dificuldade a treinar em
nenhum tipo de terreno. Mas onde mais gosto de treinar é na montanha.
Apoios, Federação Portuguesa de Ciclismo dá são aceitáveis?
L.C.: - A FPC suporta todas as despesas
sempre que represento a Seleção Nacional, quer seja em provas, estágios ou
exames médicos. Mas existem outras entidades oficiais responsáveis pelas
despesas da minha preparação. Como tenho o estatuto de alto rendimento e estou
integrado no Projeto de Preparação Paralímpico Paris 2024, recebo uma bolsa
mensal através do comité Paralímpico.
Achas que o estado deveria ter mais intervenção e apoiar o
desporto adaptado?
L.C.: - Sim. Embora muita coisa tenha
melhorado nesse campo, há muito por fazer em termos de apoio às federações,
desporto escolar e clubes, que são a base do desenvolvimento do desporto
adaptado.
Sobre o teu treinador e selecionador que tens a dizer?
L.C.: - São profissionais muito
competentes e devo a eles grande parte do meu sucesso.
Os patrocinadores consegues, é fácil arranjar?
L.C.: - Não é fácil, aliás, é cada vez
mais difícil. Nesse campo, as coisas não funcionam como noutros desportos. Os
grandes resultados nem sempre são sinónimo de mais patrocínios. Antes de
conseguir a minha primeira medalha num Campeonato do Mundo, tinha muitos mais
patrocínios. A partir daí foram reduzindo de ano para ano e para 2024 não tenho
garantido um único Euro de patrocinadores privados! Os poucos patrocinadores
que tenho para a presente época são em bens e serviços. Infelizmente só se
aceitam euros para pagar a gasolina, portagens, hotéis, etc. Nenhum outro
paraciclista tem o meu palmarés neste país, mas acho que não conheço as pessoas
certas ou então sou pouco apreciado pelas empresas, paciência.
Se não fosse o apoio anual que a Câmara Municipal de
Portimão me dá, e que espero voltar a ter este ano, as coisas seriam muito
complicadas.
Uma handbike, uma bicicleta chamamos-lhe assim, para pedalar
com os braços, ronda os 20.000 euros, já que também são necessários acessórios,
rodas para os diversos tipos de provas e treinos, que apoio tiveste para
adquirir a mesma?
L.C.: - Isso é um preço relativo. A minha
handbike custou isso, sim. Mas pode-se adquirir uma nova por metade desse
valor. Ou usada por muito menos. Tal como uma bicicleta normal, as handbikes
não são todas iguais. Cada um deve investir à medida dos seus objetivos. Gastar
20.000€ numa handbike para um atleta de fraco nível será uma estupidez. Eu tive
a sorte de ter o apoio da Câmara Municipal de Portimão para adquirir esta minha
handbike atual. Submeti um projeto ao Município e o mesmo foi aceite,
felizmente.
Não és um homem de lamentações, e continuas a andar de moto,
como sentes isso?
L.C.: - Ando de mota diariamente, vou na
minha 15ª mota…
Viver do paraciclismo em Portugal será impossível, se isso
pudesse acontecer, dedicavas-te apenas a isso?
L.C.: - Sim, sem dúvida. Mas nunca vai
acontecer.
Existe rivalidade com os teus adversários, tens amigos entre
eles?
L.C.: - Tenho muitos amigos entre os meus
adversários e não vejo nenhum deles como “rival”.
Todos damos o nosso melhor e respeitamo-nos mutuamente.
Achas que o desporto adaptado é bem tratado, e visto com
bons olhos pelos outros desportistas e outras pessoas?
L.C.: - Sinceramente, não. Até alguns
ciclistas ditos “normais” por vezes
olham para os paraciclistas como atletas de um patamar inferior. Continua a
existir o estigma do “coitadinho, é aleijado” e pensam que fazer paraciclismo é algo tipo
cicloturismo…
Fala dos teus palmarés e resultados ao longo da tua carreira
de paraciclista?
L.C.: - De um modo resumido, posso dizer
que alcancei 4 diplomas paralímpicos (Rio de Janeiro 2016 e Tóquio 2020), duas
medalhas de bronze em Campeonatos do Mundo (2017 e 2022), uma medalha de prata
e outra de bronze no Campeonato da Europa (2021), uma medalha de ouro, 5 de
prata e 5 de bronze em Taças do Mundo, 22 títulos de Campeão Nacional e 10
Taças de Portugal.
Qual foi a prova que mais satisfação deu fazeres?
L.C.: - A prova de contrarrelógio no
Campeonato do Mundo em 2017, na África do Sul. Alcancei a minha primeira
medalha de bronze num mundial e muito perto do ouro e prata. Foi fantástico.
Que motivações e objetivos tens para o teu futuro?
L.C.: - Este ano estou focado na minha
provável participação nos Jogos Paralímpicos de Paris e ainda no Campeonato do
Mundo que se realiza na Suíça logo a seguir. A partir daí, tenho que analisar
bem as coisas. Se continuar sem patrocínios monetários, não sei. Mas ainda
sonho em participar nos Jogos de Los Angeles 2028…
Luís Costa, a tua cabeça foi sem dúvida o teu ponto forte,
em que algumas circunstâncias te ajudaram, pensas continuar assim forte?
L.C.: - Nem admito outra coisa. Quando a
cabeça não me ajudar mais, o resto torna-se complicado.
Que conselhos darias a alguém que passou, ou possa passar
algo semelhante a ti?
L.C.: - Que nunca desista. Mas que seja
realista nos seus objetivos. Cada vez conheço mais pessoas que sonham demasiado
alto e depois sofrem grandes desilusões.
Duas questões, alguma pergunta que gostavas que te tivessem
feito e nunca fizeram, e até quando pensas continuar a competir?
L.C.: - Gostava que me tivessem perguntado,
por que motivo desde há já alguns anos que estou a competir como individual e
não por um clube. Penso competir até 2028.
A finalizar, algo que aches interessante em dizer, e um
comentário final?
L.C.: - Só queria agradecer a oportunidade
de dar esta entrevista.
Obrigado pela entrevista.
Estas, as palavras de um homem com
muita determinação e força de vencer, que continue a lutar assim com os seus
sonhos e objetivos, trazendo louros para o nosso país, e levar o nome de
Portugal além-fronteiras, num desporto que deveria ser visto com outros olhos,
e ter sem dúvida mais apoios, já que esses atletas assim o merecem.
Ficha Técnica
- Titulo: Revista Notícias do Pedal
- Diretor: José Manuel Cunha Morais
- Subdiretor: Helena Ricardo Morais
- Periodicidade: Diária
- Registado: Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº: 125457
- Proprietário e Editor: José Manuel Cunha Morais
- Morada: Rua do Meirinha, 6 Mogos, 2625-608 Vialonga
- Redacção: José Morais
- Fotografia e Vídeo: José Morais, Helena Morais
- Assistência direção, área informática: Hugo Morais
- Sede de Redacção: Rua do Meirinha, 6 Mogos, 2625-608 Vialonga
- Contactos: Telefone / Fax: 219525458 - Email: josemanuelmorais@sapo.pt noticiasdopedal@gmail.com - geral.revistanoticiasdopedal.com