Por: Carlos Silva
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
Vamos analisar e fazer uma
antevisão da 19.ª etapa da Volta a Itália 2025, que leva o pelotão às
duríssimas estradas do Vale de Aosta, num dos dias mais exigentes e
potencialmente decisivos de toda a Corsa Rosa. Trata-se de uma jornada de
montanha pura, com quase 5 mil metros de desnível acumulado, marcada por
subidas longas, irregulares e encadeadas, capazes de abalar por completo a
hierarquia da classificação geral.
A etapa começa de forma
impiedosa, com apenas 3 quilómetros de falso plano antes da primeira ascensão
do dia: 11 quilómetros a 4,6%, suficientes para ativar as primeiras
movimentações entre as equipas dos favoritos. Com os líderes da geral a
anteciparem o desgaste que se avizinha, é provável que se assista a uma luta
feroz para colocar gregários em fuga e preparar ataques mais tarde no dia.
O grande trio de dificuldades
começa com o Col Tzecore, que termina a 99 quilómetros do final. São cerca de
16 quilómetros de subida com pendente média a rondar os 7%, num esforço
prolongado que servirá como teste de resistência e de capacidade de gestão.
Embora ainda longe da meta, poderá já ser o momento de selecionar os principais
candidatos.
Segue-se o Col de
Saint-Pantaléon, com topo a 56 quilómetros da meta. É outra ascensão longa,
constante e desgastante e com uma descida extremamente técnica que poderá
favorecer ataques ousados ou provocar cortes inesperados. Esta combinação de
subida dura seguida de uma descida complicada exige atenção total.
Mas o verdadeiro palco de
todas as decisões será o Col de Joux. A última grande montanha do dia, com 15,1
km a 6,9%, surge como o ponto ideal para os ataques dos homens da geral. A
subida termina a 20 quilómetros da meta, o que permitirá consolidar vantagens
antes da aproximação final a Champoluc. Com o Giro em aberto e vários
candidatos ainda próximos entre si, espera-se fogo-de-artifício.
A cereja no topo do bolo é a
subida para Antagnod, já dentro dos últimos 10 quilómetros. Embora não tenha a
mesma dimensão das anteriores (9,5 km a 4,6%), apresenta uma segunda metade com
rampas até 11%, num momento em que as condições físicas estarão no limite. A
subida termina a apenas 4,6 km da meta, que será em descida até Champoluc, o
que promete manter a tensão até ao último quilómetro.
Pontos-chave:
Col Tzecore (16 km a 7%) –
termina a 99 km da meta
Col de Saint-Pantaléon (16 km
a 7%) – termina a 56 km da meta
Col de Joux (15,1 km a 6,9%) –
termina a 20 km da meta
Antagnod (9,5 km a 4,6%, com
rampas até 11%) – termina a 4,6 km da meta
Condições
climatéricas
Um dia quente e ensolarado nos
Alpes. Podemos ter algum vento de frente até ao início da primeira subida muito
dura e depois um vento lateral na subida final.
Os
Favoritos
Isaac Del
Toro (UAE Team Emirates – XRG)
A grande pergunta do dia é
simples, mas fundamental: conseguirá resistir aos quase 5000 metros de desnível
acumulado? A forma física continua sólida, a gestão de esforço tem sido
exemplar e a UAE tem sido, em termos coletivos, a formação mais forte do Giro.
A vantagem de 41 segundos sobre Richard Carapaz é insuficiente para garantir
tranquilidade. As subidas são longas e constantes e se algum dos adversários o
conseguir isolar, as coisas poderão ficar difíceis de controlar. A ausência de
uma equipa rival capaz de impor ritmo alto durante todo o dia joga a seu favor.
Richard
Carapaz (EF Education–EasyPost)
O equatoriano chega com
confiança em alta e pernas de trepador em estado puro, como ficou claro em
Brentonico. Tem o perfil ideal para este tipo de etapa: explosivo quando
necessário, resistente nas longas ascensões e experiente em momentos de
pressão. Se Carapaz estiver no seu melhor, pode virar a classificação de pernas
para o ar e vestir a Camisola Rosa. A EF deverá tentar endurecer a corrida,
mesmo que seja apenas por momentos e aproveitar qualquer fraqueza de Del Toro.
Simon
Yates (Team Visma | Lease a Bike)
Mais discreto nos últimos
dias, mas consistente. Yates é perigoso em etapas com subidas longas e ritmo
constante e a Visma tem executado boas tácticas nas últimas jornadas. No
entanto, é improvável que consiga fazer a diferença frente a Carapaz se este estiver
forte. Ainda assim, pode aproveitar o jogo entre os dois primeiros para atacar
num momento oportuno e até surpreender.
Derek Gee
(Israel–Premier Tech)
Talvez a maior surpresa deste
Giro. A sua forma tem evoluído de forma notável e entra na etapa com umas
pernas tremendas, como se viu nos últimos dias. Não sendo o mais explosivo,
beneficia de pendentes altas e pode saltar para o pódio se souber gerir bem os
momentos chave. A subida do Col de Joux pode ser o seu campo de teste
definitivo.
Outros
nomes na luta pela geral
Giulio Pellizzari (Red Bull –
BORA – hansgrohe): em excelente forma, com margem para subir ao top 5.
Damiano Caruso
(Bahrain–Victorious): deverá ser defensivo, mas é um nome a não descartar.
Egan Bernal (INEOS
Grenadiers): se tiver pernas, pode tentar atacar, embora o seu rendimento seja
ainda irregular.
Einer Rubio (Movistar): a
subir de forma, está perto do top 5 e é um dos mais fiáveis nesta última
semana.
Favoritos
à vitória de etapa (fuga)
Com o foco da UAE a centrar-se
em controlar os rivais directos, há boas hipóteses de uma fuga vingar. Muitos
trepadores terão liberdade e se estiverem com boas pernas podem tentar a sorte:
Romain Bardet – Experiente,
combativo e motivado para fechar o Giro com uma vitória.
Lorenzo Fortunato – Regular,
trepador puro e com faro para atacar no momento certo.
Christian Scaroni – Forte nas
subidas e em boa forma.
Afonso Eulálio – Tem-se
mostrado activo e está moralizado após a exibição no Mortirolo.
Daniel Martínez – Um dos mais
perigosos se entrar na fuga e tiver uma boa vantagem.
Outros
nomes a seguir com atenção:
Nicolas Prodhomme, Louis
Meintjes, Wilco Kelderman, James Knox, Nairo Quintana, Jefferson Alveiro
Cepeda, Wout Poels, Chris Harper, Pello Bilbao, Filippo Zana, Florian Stork, Yannis
Voisard, Carlos Verona
Possíveis
surpresas:
Antonio Tiberi ou Thymen
Arensman – têm qualidade para vencer, mas vêm de dias difíceis.
Max Poole, Tom Pidcock, Davide
Piganzoli – jovens ambiciosos, podem entrar na fuga e surpreender caso o
cenário tático favoreça os outsiders.
Previsão
Volta a Itália 2025 - 19ª etapa:
*** Richard Carapaz, Derek
Gee, Romain Bardet
** Simon Yates, Isaac del
Toro, Giulio Pellizzari, Lorenzo Fortunato, Afonso Eulálio
* Egan Bernal, Einer Rubio,
Damiano Caruso, Christian Scaroni, Daniel Martínez, Wilco Kelderman, Wout
Poels, Pello Bilbao, Carlos Verona, Max Poole
Escolha: Richard Carapaz
Como: Vence isolado e salta
para a liderança da corrida.
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