Por: Anderson Ricardo Schörner
“Então as mulheres serão
emancipadas pelo ciclismo?” – perguntou Pierre. “Bem, porque não? Parece uma
ideia tola, mas veja o progresso que já tem sido feito, pelo uso racional
mulheres libertam seus membros da prisão; então as facilidades as quais o
ciclismo possibilita para que pessoas estejam juntas tendem a aumentar a
relação e igualdade entre os sexos; a esposa e as crianças podem seguir o
marido onde for, e gostam de como podem se sentir livres e vaguear sem
incomodar ninguém.
Nesse sentido, há grande
vantagem para todos: uma toma banho de ar e da luz do sol, outra procura a
natureza, a terra, nossa mãe em comum, de onde deriva a força e a alegria do
coração, é como a brisa infla nossos pulmões! Sim, isso tudo purifica, acalma e
encoraja!” – respondeu a jovem Marie. (Émile Zola, em Les Trois Villes (As Três
Cidades), romance escrito entre 1893 e 1898).
Em 28 de outubro de 1886, foi
inaugurada a Estátua da Liberdade, em Liberty Island (Ilha da Liberdade), na
entrada do porto de Nova York. Patrimônio Mundial da Unesco e um dos pontos
turísticos mais visitados dos Estados Unidos, a estátua representa a liberdade
do povo.
Dez anos depois, Susan
Brownell Anthony declarou, em entrevista à repórter Nellie Bly, do jornal New
York World’s: “Isso tem feito mais para emancipar as mulheres do que qualquer
outra coisa no mundo, ela dá às mulheres um sentimento de liberdade e
autoconfiança”, Susan não se referia à estátua, mas a uma outra imagem de
liberdade: as mulheres andando de bicicleta.
Susan foi professora, ativista
e lutou pelos direitos feministas junto com Elizabeth Cady. Ela nasceu em
Massachusetts, em 1820; foi a segunda de sete filhos de uma família Quaker, que
por tradição, era abolicionista e defendia a igualdade entre homens e mulheres,
mais do que um ponto turístico, mais do que um objeto imóvel e sem vida, a
bicicleta levou a mulher para grandes conquistas sociais e desemaranhados
históricos.
É o caso da educação superior,
onde há um aumento global do número de mulheres frequentando universidades,
ultrapassando inclusive o número de homens, mas nem sempre foi assim… No
Brasil, apenas em 1827 surgiu a primeira lei permitindo a frequência de
mulheres no ensino básico, e o ensino superior ainda lhes era proibido, em
1879, quando enfim puderam ingressar nas instituições de nível superior, as
mulheres brasileiras que se “atreveram” a tal avanço enfrentaram críticas e
opressão. “Não é necessário que minha filha aprenda aritmética para encontrar
um marido”, pensavam os pais da época, entretanto, venceram.
Depois de formadas, as
mulheres de hoje procuram afirmação no mercado de trabalho, as condições ainda
não são totalmente justas e ideais, mas com certeza são melhores do que em
1887, quando Rita Lobato Velho, a primeira mulher a se formar médica no Brasil
e outras pioneiras em várias áreas de atuação, por vezes foram ridicularizadas.
Na política, o mundo assistiu
a ascensão de grandes mulheres assumindo cargos públicos importantíssimos e
tornando-se internacionalmente influentes, nosso exemplo maior remete à eleição
da primeira presidenta mulher do Brasil, Dilma Rousseff, mas nem sempre foi
assim… Apenas em 1932 as mulheres brasileiras tiveram direito ao voto. Um pouco
antes, em 1927, 15 mulheres haviam votado nas eleições do Rio Grande do Norte,
graças a uma alteração pleiteada pelo então governador Juvenal Lamartine, foi a
primeira vez que as mulheres votaram no Brasil e na América Latina, mas no ano
seguinte esses votos foram anulados.
De qualquer forma, neste mesmo
ano era eleita a primeira prefeita da história da América Latina: Alzira
Soriano de Souza, também no Rio Grande do Norte, no município de Lajes, em seu
discurso de posse, comparou o município a uma grande família e demonstrou
maturidade na questão feminina. “Determinaram os acontecimentos sociais do
nosso querido Rio Grande do Norte na constante evolução da democracia, que a
mulher, esta doce colaboradora do lar, se voltasse também para colaborar com
outra feição na sua obra político- administrativa, as conquistas atuais, a
evolução que ora se opera, abrem uma clareira no convencionalismo, fazendo
ressurgir a nova faceta dos sagrados direitos da mulher. Inovação estética não
pode ser, o que se observa é a consciência elegante de uma conquista.”
Observa-se que a transição dos
séculos XIX e XX, marcada pela emancipação das mulheres, não seria a mesma sem
um veículo que permitiu rumar ao progresso e ao nivelamento entre direitos e
deveres de homens e mulheres, a bicicleta, símbolo de liberdade, saúde e
bem-estar, articulou de forma ímpar a contemplação feminina dessas
características. Através do seu próprio esforço, elas utilizaram a bicicleta
para uma longa viagem de conquistas, ainda em curso, ao comparar o período
atual com as condições dos anos 1.800, a evolução é gritante, embora algumas
culturas e sociedades ainda privem as mulheres da igualdade dos sexos, como no
Irã, por exemplo, onde ainda hoje as mulheres não podem andar de bicicleta.
A Hora de
Mudar
O século XIX é marcado pelas
novidades e invenções, resultantes principalmente da Revolução Industrial, vários
artigos foram aperfeiçoados e outros surgiram em decorrência dos avanços
científicos, tecnológicos e das novas necessidades da sociedade em geral.
Com a industrialização veio
também a urbanização, já que houve uma migração do campo para a cidade, mas a
massa de camponeses candidatos a operários encontraram um lugar pouco
receptível, que precisou ser reestruturado e revitalizado para a vida moderna,
a valorização do espaço público culminou na configuração da cidade como um
ponto de encontro e vivência social. Cinemas, bares, apresentações musicais e
áreas livres para o lazer e o desporto passaram a integrar os centros urbanos,
graças à novidade da energia elétrica e outras descobertas impulsionadas pelo
século XIX.
Neste cenário histórico, a
bicicleta era a moda, os ciclistas da época introduziam novas roupas e
acessórios, faziam barulho nas estradas com suas buzinas e aproveitavam melhor
a velocidade e o tempo, a mulher também começava a se fazer mais presente no
espaço público da cidade, fato que despertava o fascínio e a alegria de alguns,
mas preocupação de outros que viam na crescente participação e exposição
feminina, uma ameaça ao pudor e ao domínio masculino nas relações sociais.
A união deste invento
maravilhoso – a bicicleta – com a incrível força e determinação das mulheres em
mudar a sua situação culminou em um dos movimentos mais bonitos e libertários
da história humana. Longe ainda das injustiças atuais, a mulher daquela época
lutava pelo direito de, aos poucos, poder sair de casa.
A
fragilidade feminina
Uma figura pálida, doente e
dependente. Era basicamente assim que se descrevia uma mulher no século XIX, haviam
claras vantagens em manter a mulher em uma condição de fraqueza física e
emocional, aos olhos sociais da época, mulher sensata era aquela que,
totalmente dependente do seu marido, não tinha forças para votar, trabalhar e
estudar.
Atrás dos vidros de suas casas
e entre desmaios, injustiças e agressões, as damas quase não praticavam
atividade física, andar de bicicleta era considerado esforço demais para uma
mulher, quando as ideias e reivindicações de liberdade e igualdade começaram a
ganhar força, e a presença da mulher se intensificou no espaço público, a
bicicleta foi grande aliada, pois representou uma nova possibilidade de se
exercitar nas cidades, justamente no momento histórico em que começava a se
valorizar as atividades públicas de lazer.
Em 1894, dois clubes
masculinos de Boston lançaram o desafio e Annie Kopchovsky aceitou: ela daria a
volta ao mundo de bicicleta, algo inimaginável e intolerante; uma mulher estava
abandonando o lar e lançando-se ao desafio de provar que as mulheres não eram
frágeis e poderiam realizar os mesmos feitos dos homens, quinze meses depois, o
New York Times noticiava a mais incrível viagem realizada por uma mulher. Annie
retornava para casa e trazia consigo uma bagagem cheia de coragem e esperança
que seria distribuída, indiretamente, a todas as mulheres.
Roupa de
baixo
Christopher Connolly, em seu
artigo para a Mental Floss, a Liberdade da Mulher Chegou de Bicicleta, destacou
que as roupas femininas contribuíam para a fragilidade da mulher. “Suas vestes
eram tipicamente pesadas, exagerando a silhueta feminina enquanto escondia o
corpo, as curvas eram destacadas com espartilhos firmemente atados que, junto
com as longas e pesadas roupas de baixo, limitavam a capacidade das mulheres de
se mover e até mesmo respirar; daí a maior parte dos desmaios. Isso restringia
as mulheres não apenas fisicamente, mas moralmente também, em uma sociedade
onde expor acidentalmente um tornozelo assumia ares pornográficos de uma dança,
era necessário que a vestimenta protegesse a virtude de uma senhora”.
Em 1881 foi fundada a Rational
Dress Society, organização de mulheres de Londres que queriam uma vestimenta
feminina mais digna e confortável. “O Rational Dress Society protesta contra
qualquer forma no vestido que deforme a figura, impeça os movimentos ou
prejudique de qualquer outra forma a saúde da mulher, é nosso dever exigir
vestimentas saudáveis, confortáveis e bonitas, que conduzam ao conforto e à
beleza”, era sua autodefinição.
Em 1888, uma carta publicada
pela Rational estabelecia que “o peso máximo da roupa de baixo (sem os sapatos)
não poderia ser superior a 7 kg.” Sete
quilos de roupas de baixo foi um motivo de comemoração, apesar da retaliação,
as mulheres ativistas da época, aproveitando-se do momento, se envolveram
rapidamente com a bicicleta, o hábito de usar a bicicleta como meio de
locomoção, lazer e, para as mais ousadas, até como desporto, foi um dos
responsáveis pela eliminação do uso do espartilho, pois com ele era
praticamente impossível pedalar.
Conforme se tornava mais usual
ver mulheres pedalando, as vestimentas passaram a ser mais curtas, justas e
leves, era a bicicleta influenciando a moda e o estilo de vida. As saias e
vestidos foram perdendo espaço para roupas que permitiam sentar, caminhar e
pedalar sem enroscar na corrente, os calções femininos que eram presos ao
tornozelo começaram a ganhar as ruas.
Essas mudanças, é claro, não
foram facilmente aceitas, a nova presença social das mulheres, vestidas com
roupas parecidas com as dos homens, desencadearam uma série de apreensões e debates,
mas pedalar tornava-se cada vez mais comum e, em 1896, o New York Journal of
Commerce estimou que os cinemas, restaurantes e outros lazeres perderam cerca
de 100 milhões de dólares por ano com o novo hábito de as pessoas pedalarem.
Apesar das críticas e ridicularizações, elas seguiram em frente.
Connolly ainda mencionou num seu
artigo que “antes das bicicletas, o cavalo era o melhor meio de transporte, mas
o acesso das mulheres ao cavalo era muito limitado. Cavalos eram perigosos e de
controle difícil, as mulheres deveriam montar de lado, com as duas pernas
juntas, o que as impedia de percorrer grandes distâncias, realimentando a ideia
de que não deveriam montar, em comparação, as bicicletas eram de manipulação
fácil, não havia motivos que impedissem uma mulher de subir numa bicicleta e
dignamente pedalar para onde quisesse, tão longe quanto quisesse, nenhum motivo
a não ser sua vestimenta e o dilema de sua fragilidade, que a faria perder a
virtude ou até a vida, tamanha sua exaustão.”
Apesar das pedras, tijolos e
da insistência para que retornassem à casa e se comportassem como mulheres, as
primeiras ciclistas continuaram rodando e trazendo conquistas à tona, as
mulheres espelharam na bicicleta, a saúde, vivacidade e sensação de liberdade
com que tanto sonhavam.
Anatomia
da mulher pedalando
As mulheres ainda tinham uma
batalha para vencer e assegurar de vez a prática do ciclismo, a questão girava
em torno de constatações médicas que diagnosticaram a bicicleta como causadora
de infertilidade, aborto e outros problemas físicos às mulheres, se a bicicleta
prejudicasse a maternidade, estava prejudicando a função social da mulher, que
era casar e procriar, “era um período estranho, insatisfatório, cheio de
aspirações ingratas, eu sonhava em ser útil ao mundo, mas éramos garotas
pobres, nascidas em uma posição social específica.
Não se pensava como necessário
fazer algo diferente que nos entretermos até que o momento e a oportunidade do
casamento surgisse, as mulheres das classes superiores também tinham que
entender que a única porta aberta para uma vida fácil e respeitável era a do
casamento, melhor qualquer casamento do que nenhum, uma velha e tola tia
costumava dizer”, registrou Charlotte Despard, escritora que viveu entre 1844 e
1939, demonstrando o ideário da época.
Outro problema apontado pelos
médicos girava em torno da moralidade. Além da posição de sentar na bicicleta,
vista por muitos como vergonhosa e imoral para uma dama, os médicos insistiam
que as jovens que andassem de bicicleta sentiriam prazer pela fricção do selim
em suas partes íntimas, o que incentivaria as mulheres a se tornarem depravadas
e imorais, um dos médicos defensores das bicicletas, Ludovic O’Followell,
escreveu em seu livro Bicicleta e os Órgãos Genitais, que “se, por azar, um
passeio de bicicleta revela à ciclista uma nova satisfação genital, não é
necessário concluir que a bicicleta cria depravadas, em investigação conduzida
por nós com o propósito deste trabalho, foram negativas todas as respostas à
pergunta: sentem algum prazer de ordem íntima quando pedalam?”
Mas essas novas mulheres
estavam se identificando tanto com a expansão da bicicleta e com a sua
oportunidade histórica, que resolveram enfrentar todas essas contrariedades.
Atos de verdadeira libertação sobre duas rodas não cessavam em todo o mundo,
principalmente Estados Unidos e Europa, e já era impossível separar a bicicleta
do movimento reivindicatório das mulheres.
Presente
e futuro
“Vejo cada vez mais mulheres
fazendo uso da bicicleta, seja para lazer, transporte ou como atividade física.
Esta tendência deve evoluir com o crescimento das ciclo-faixas e ciclovias que
estão aumentando a cada dia, a cultura da bicicleta existe da mesma forma para
mulheres e homens, e essa evolução é contínua, o futuro promete muitas vendas e
lojas lotadas de novidades para as mulheres que pedalam ou que desejam começar
a pedalar”, relatou Nildo Guedes, ciclista com 20 anos de experiência que atua
na equipe da Shimano Latin América.
Nildo revela também que as
mulheres trazem as suas peculiaridades, como o cuidado com a estética e saúde,
para o ciclismo, “homem compra somente o que precisa e quando precisa, já a
mulher é diferente, ela compra uma bermuda, aproveita e leva uma camisa e uma
meia para combinar, por isso, os produtos femininos são sempre voltados às
combinações perfeitas, a cada produto masculino lançado, uma versão feminina
também é preparada”.
O mercado comemora e vê com
bons olhos esse nicho, que ainda promete crescer muito nos próximos anos, a
busca das mulheres ainda é mais voltada para o lazer e exercício físico e,
portanto, linhas para atletas e acessórios para o uso da bicicleta como meio de
transporte ainda são menos explorados, as mulheres procuram ser mais cautelosas
e procuram agir com mais segurança, essa precaução limita o uso da bicicleta a
situações que não envolvam muitos riscos.
Mas percebe-se, também nessa
questão, uma mudança de postura das mulheres, ainda que timidamente, elas estão
buscando correr mais riscos e essa mudança se reflete na configuração familiar,
no trabalho e nas competições, “mesmo com todo o preconceito e com todo o
assédio que as mulheres sofrem diariamente nas ruas, acredito que a força
feminina tende a se impor cada vez mais, em competições, temos nomes fortes
como Liz Hatch e Rochelle Gilmore, vários pontos pesaram para que as mulheres
escolhessem outro veículo que não fosse a bike: ‘medo’ de adentrar espaços
tidos como ‘masculinos’, receio do assédio nas ruas que, independentemente do
meio de transporte, acontece sempre, falta de segurança no trânsito, falta de
roupas confortáveis para o pedal, o medo de quedas e a impaciência por parte
dos motoristas – buzinadas, xingamentos, arrancadas, etc., percebo que as
mulheres estão cansadas de terem um lugarzinho determinado pela sociedade e
estão, enfim, colocando a cara na rua e lutando por tudo que acham importante e
relevante para o mundo”, constatou Andreia Pires de Carvalho, 23 anos,
professora e que usa a bicicleta como meio de transporte, demonstrando que a
luta pela liberdade ainda continua.
“Comecei a pedalar em 2005 e
lembro que havia muito mais homens no pedal do que mulheres, não porque elas
eram frágeis, mas por acharem que isso é coisa de homem e de moleque, as
pessoas têm uma visão muito errada do ciclismo e, claro, isso vem também das
mulheres; acho até que mais delas do que deles, a mulher, mesmo no século XXI,
foi feita para casar e ter família, fazer tudo isso e ainda pedalar parece
coisa anormal, tanto que a maioria das mulheres que vejo no pedal é solteira ou
separada, e uma pequena parte pedala para fazer companhia ao marido ou parceiro,
trabalhar fora, ter uma carreira, filhos, marido e ainda conciliar o ciclismo
não é nada fácil, ainda mais sabendo que nesse meio tem mais homens que
mulheres pedalando”, declarou Tânia Cristina Carmonario, 37 anos, professora
que utiliza a bicicleta como meio de transporte e para exercícios físicos.
Nildo também vê como promissor
o mercado de alta performance para o público feminino, “muitas mulheres que
iniciam sua busca por saúde optam inicialmente por aquela pedalada casual com o
namorado ou sozinhas, porém é nítido o aumento do público feminino em provas de
ciclismo, Triathlon e MTB, as mulheres são muito competitivas”, completa.
A presença de mulheres em
grupos de pedal – alguns exclusivamente femininos – tem aumentado nos últimos
anos, apesar dos obstáculos que ainda enfrentam nas machistas ruas de nossas
cidades, aos poucos, elas se aventuram nas competições e provas que exigem
muito preparo físico e inteligência emocional, aos poucos, também, os
organizadores das provas tomam medidas para fortalecer a presença feminina. Um
exemplo é o Desafio Santana – Arapiraca, que este ano, em sua 7ª edição, terá
uma competição exclusivamente feminina.
A disputa será em 06 de
novembro, em um percurso de 100 km. Uma das maiores ciclistas da atualidade,
Renata Rodrigues já confirmou presença no desafio, em 2010, a atleta conquistou
o Rally Piocerá, o Moda Cup e o solo do Super 12 horas do Nordeste, incentivada
pelo esposo, também ciclista, Ivanildo, Renata fala sobre a importância de
atitudes como esta para alavancar a participação das mulheres, “meu marido já
participou do desafio e elogiou demais a organização.
Desde então, tive certeza que
chegaria a minha oportunidade e essa é uma boa hora, é legal o desafio ter uma
competição só para mulher, as mulheres estão conseguindo seu espaço na
sociedade de um modo geral, o que ainda falta são pessoas para nos dar
oportunidade de mostrar nossos valores, o desafio é um exemplo disso, quando
nos presenteia com essa competição, que quebra barreiras”.
Liberdade é palavra fácil de
associar com a bicicleta e por isso ela continua até hoje fazendo parte de
movimentos revolucionários, há quem lute pela sustentabilidade, pela
simplicidade, por cidades mais humanas, por economias mais justas, não são
motivos supérfluos ou condições passageiras… São causas liberatórias no sentido
mais profundo da palavra, é fácil entender, portanto, porque as mulheres que
lutaram pelo feminismo logo se envolveram com a bicicleta, e que este
envolvimento ainda provoca constantemente mudanças de costumes por parte da
sociedade, e de valores em relação à fragilidade, elegância e delicadeza das
mulheres.
Aline Cavalcante, 25 anos,
jornalista que utiliza a bicicleta como meio de transporte, define como a
bicicleta é instrumento de independência, cidadania e saúde, “a bicicleta é um
poderoso instrumento de transformação e inserção social, pois com ela é
possível retomar o espaço público, conhecer melhor o lugar onde vive, entender
os problemas e participar das soluções, pedalar, seja por desporto, lazer ou
transporte, é um exercício físico que libera endorfina e deixa a pessoa mais
ligada, disposta, criativa e antenada com o mundo. Isso eu chamaria de
liberdade mental: a capacidade de retomar a cidadania e a consciência de
sociedade! Para as mulheres, em especial, a bicicleta traz a força e a
autonomia que lutamos durante tanto tempo para conquistar, percorrer distâncias
usando suas próprias pernas é bonito, poético e libertador, capaz de aumentar a
autoestima, melhorar o relacionamento interpessoal e a saúde das mulheres, hoje,
sou mais independente e me sinto cidadã, participante ativa e protagonista da
minha história.”
Erasmo Carlos cantaria: “Dizem
que a mulher é o sexo frágil, mas que mentira absurda! Eu que faço parte da
rotina de uma delas, sei que a força está com elas… vejam como é forte a que eu
conheço, sua sapiência não tem preço, satisfaz meu ego se fingindo submissa,
mas no fundo me enfeitiça. Quando eu chego em casa à noitinha, quero uma mulher
só minha, mas pra quem deu luz, não tem mais jeito, porque um filho quer seu
peito, o outro já reclama a sua mão, e o outro quer o amor que ela tiver, quatro
homens dependentes e carentes da força da mulher!” E elas responderiam: “Por
que não um quinto elemento: a bicicleta?”
Fonte: Revista Bicicleta