Por: Miguel Marques
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
Jonas Vingegaard quebrou o
silêncio sobre os momentos tensos que marcaram a Volta a Espanha de 2025, uma
edição que ficará na memória não apenas pelas vitórias, mas também pelos
protestos que ameaçaram interromper o andamento da corrida. O dinamarquês, que
acabou por conquistar a camisola vermelha em Madrid, à frente de João Almeida e
Tom Pidcock, revelou à Wieler Revue como o pelotão esteve à beira de abandonar
a competição durante o auge das manifestações.
O antigo bicampeão da Volta a
França falou sobre o caos gerado pelos protestos, que visavam a participação da
Israel - Premier Tech, com várias equipas a questionar a continuidade da
corrida. "Havia um grupo de conversação da CPA, e Matteo Jorgenson
representava a nossa equipa", começou Vingegaard. "Sempre dissemos
que queríamos continuar a correr, mas algumas equipas estavam a favor de parar
a Vuelta por completo. Eu estava com a camisola vermelha e fiquei contente por
seguir em frente".
Unidade
no pelotão em tempos de tensão
Durante a edição de 2025, as
etapas da Vuelta foram várias vezes interrompidas por manifestantes,
especialmente no norte de Espanha, com estradas bloqueadas e etapas atrasadas.
A tensão atingiu um ponto crítico quando os organizadores chegaram a sugerir à
equipa israelita que se retirasse da corrida para apaziguar os ânimos, mas a
equipa, no seu direito, recusou a proposta.
Vingegaard explicou que, após
as primeiras interrupções, os ciclistas chegaram a um entendimento interno
sobre como reagir. "Houve muita discussão sobre o que a UCI e os
organizadores podiam fazer", lembrou o dinamarquês. "Entre nós, decidimos
que, se os protestos continuassem, pararíamos a corrida. Mas, no dia seguinte,
voltaríamos a tentar. Normalmente, sempre havia pelo menos uma equipa que
queria continuar, mas desta vez a união foi visível".
Esse consenso representou um
raro momento de solidariedade no pelotão, onde os interesses das equipas
frequentemente geram divisões. O acordo foi interpretado como uma tentativa de
proteger tanto a segurança dos ciclistas quanto a integridade do desporto
durante uma das grandes voltas mais politicamente carregadas dos últimos
tempos.
Reflexão
sobre a vulnerabilidade do ciclismo
Aqueles momentos de incerteza
levaram Vingegaard a refletir sobre a fragilidade do ciclismo como desporto.
"O nosso desporto é muito frágil", afirmou. "É fácil para alguém
protestar e bloquear uma estrada. Depois da etapa de Bilbao, muitos perceberam
como somos vulneráveis e como é fácil fazer manchetes. Espero que não voltemos
a enfrentar situações tão graves como esta".
A Vuelta 2025 tornou-se um
ponto de discussão sobre a interseção entre política e ciclismo profissional,
com os protestos contra a Israel - Premier Tech a interromperem a corrida em
vários momentos. Esse cenário gerou debates sobre como os organizadores, a UCI
e os sindicatos de ciclistas devem lidar com manifestações direcionadas a
equipas ou patrocinadores durante as competições.
Empatia
pelos ciclistas da Israel - Premier Tech
Apesar de estar no centro da
controvérsia, Vingegaard expressou compreensão pelos ciclistas da Israel -
Premier Tech que ficaram no meio do turbilhão. "Falei com alguns
deles", contou Vingegaard. "Havia muita pressão sobre os ombros
deles, já que os protestos estavam todos direcionados à equipa. Não sei se se
sentiram seguros, mas certamente não foi fácil para ninguém, nem para
eles".
A Vuelta de 2025 ficará não
apenas marcada pela conquista do título de Vingegaard, mas também pela
turbulência fora da bicicleta, que expôs a vulnerabilidade do ciclismo e o
quanto o desporto pode ser usado como uma plataforma para questões muito
maiores do que a própria competição. "Depois daqueles dias", refletiu
o dinamarquês, "todos nós percebemos como as coisas podem mudar
rapidamente, e como o ciclismo pode se tornar algo muito maior do que apenas um
desporto".
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