Ciclismo feminino evoluiu e
atletas reforçam necessidade de aposta
Por: Lusa
Foto: FP Ciclismo
O ciclismo feminino em
Portugal tem evoluído, dizem à Lusa várias atletas a competir nos Nacionais de
estrada, em Castelo Branco, mas faltam apoios a todos os níveis e a pandemia de
covid-19 veio piorar as coisas.
Se é reconhecido um aumento no
número de praticantes, as dificuldades motivadas pela pandemia, a falta de
investimento e de interesse pela vertente feminina de um desporto acarinhado
pelo país são problemas elencados pelas corredoras ouvidas pela Lusa nos
Nacionais de estrada.
Para a nova campeã de elite de
fundo, Maria Martins, apurada para os Jogos Olímpicos Tóquio'2020, e a correr
no estrangeiro pela Drops, há "uma grande progressão nestes últimos dois
anos".
"Já
não corria em Portugal desde 2018, e chegar aqui e ver esta corrida com um
pelotão enorme... é positivo e surpreendente. Dou os meus parabéns às equipas
de formação, porque é importante que não parem. O futuro são elas",
disse à Lusa a vencedora do sprint final deste sábado, em Castelo Branco.
A atleta, apurada no omnium de
ciclismo de pista, espera poder inspirar "muitas" novas ciclistas, ao
lado de Raquel Queirós, também a caminho dos Jogos no cross country olímpico,
lembrando as inspirações que teve, como Daniela Reis, sem correr desde o ano
passado, devido a uma queda.
Na corrida, ficou "muito surpreendida pela positiva"
com o pelotão, não só pelo respeito como pelo número de atletas, observando "uma evolução notória". "É bom para o ciclismo feminino. O futuro pode ser
muito bonito", atira a ciclista, de 21 anos.
No 21.º lugar ficou uma
estreante, Marlene Gonçalves (Douro BTT CPAD), de 31 anos, uma atleta habituada
ao BTT, mas que, devido à redução de corridas pela situação pandémica, quis "experimentar".
"O ciclismo feminino em
Portugal tem muito que evoluir, somos um bocadinho esquecidas. Com esta
pandemia, ainda piorou", declara.
A ciclista lamenta a falta de
apoios e atenção para o pelotão feminino, pedindo "alguém dentro da Federação Portuguesa de Ciclismo que fosse
mulher". "Para
ajudar a puxar-nos um bocado para cima", desabafa.
Aos 44 anos, Ana Valido ainda
correu junto do pelotão de elite, e não na categoria de veteranas, embora tenha
abandonado, e traz "25 anos de
ciclismo" no corpo, desde um tempo que, conta à Lusa,
chegou a ser "a única mulher
federada".
"Acima
de tudo é por gosto. É preciso gostar mesmo da modalidade, tive um problema de
saúde grave e voltei. (...) Agora, temos aqui um pelotão de uma centena de
ciclistas, evoluiu mesmo muito. [Mas] falta ainda muito apoio ao ciclismo
feminino em Portugal", comenta.
A experiente ciclista, em 2015
vice-campeã nacional de contrarrelógio, vê o número de praticantes a aumentar,
mas lamenta que "equipas e
patrocinadores" não se interessem mais.
Para evoluírem, explica, as
ciclistas precisam de "correr lá
fora", e se não há condições financeiras para isso, com
"falta de patrocínios", tudo se torna "muito complicado".
"O
número de praticantes aumentou, vêm até do BTT ou do triatlo, para a estrada.
Mas era preciso investir mais para que a geração nova pudesse crescer mais e
serem mais competitivas lá fora", analisa.
A veterana lembra o papel de
Maria Martins e Raquel Queirós, que ajudam "pelo
menos a trazer outras ciclistas que se interessam", mas
para trazer mais patrocínios a pandemia "complicou" tudo.
Uma das razões para continuar
a correr, afirma, é poder "ajudar outras
a perceber que isto envolve muita coisa, não é só andar de bicicleta".
"É preciso uma paixão muito grande pelo
ciclismo", diz.
Prova disso é que na equipa da
Bairrada, pela qual corre, cresce uma jovem de 17 anos que esta sexta-feira
teve um dos grandes momentos da ainda curta carreira, ao vencer a prova de
fundo de juniores.
Trata-se de Beatriz Pereira,
de Vila Nova de Famalicão, que não cabia em si de contente com o título, até
pela ambição, que não esconde, de correr em 2022 "numa
equipa internacional", pois Portugal "ainda tem muito
para crescer".
"Gostava
de entrar numa grande equipa e o meu sonho é fazer um Giro Rosa. Também quero
entrar na universidade [em medicina]. O sonho é chegar ao nível mais alto",
admite.
A jovem vê "muito por onde crescer" para a
modalidade e, para isso acontecer, "é
essencial apoiar as atletas e conseguir mais praticantes".
"Infelizmente,
ainda há o hábito do queres perseguir o ciclismo, não vale a pena. As atletas
acabam por desistir sem explorar o seu potencial. E deixar de dizer que é um
desporto de homens, porque não é", desabafa.
Tata Martins e Raquel Queirós,
mas também Daniela Campos, esta sexta-feira segunda classificada, "ajudam muito", mas também
Daniela Reis, porque as mais novas "olham
para elas como um exemplo".
"Ao
vê-las conseguir... ok, se calhar dá para perseguir este sonho, posso tentar.
Sei que nunca me irei perdoar se não tentar perseguir este sonho de ser
ciclista profissional", declara.
Beatriz Pereira descreve ainda
a experiência de correr com Martins e Campos no pelotão, numa prova que juntou
cadetes, juniores, elite e veteranas, de "incrível".
"É
como jogar futebol com o Cristiano Ronaldo. Têm tanto para nos ensinar. Até o
pedalar é diferente, o andamento, a técnica, a tática...",
remata.
Fonte: Record on-line