Francês revela que no ciclismo
também há discriminação
Por: Ana Paula Marques
Grégory Baugé é um dos poucos
ciclistas negros que disputa a modalidade ao mais alto nível. O francês,
natural de Maisons-Laffitte, de 31 anos, falou dos acontecimentos que marcam
por estes dias o quotidiano da sociedade norte-americana: a morte do
afro-americano George Floyd e as consequências que isso provocou na população,
com manifestações em praticamente todos os estados.
Baugé tem feito carreira
sobretudo no ciclismo de pista, somando vários títulos mundiais e olímpicos, e,
apesar de confessar que nunca sentiu verdadeiramente a fúria de comportamentos
racistas, sabe que eles existem e também no ciclismo. "Em todas as situações da vida, sabemos
que existe, e no ciclismo, sim, já tive que lidar com essa situação. Não deveria
ser normal, mas quando é que vamos sair disso? Eu não sei ", disse o
ciclista francês em entrevista ao site ao "Cyclism’actu".
O que se tem passado nos
Estados Unidos na última semana deveria servir para alguma coisa. Mas Grégory
Baugé teme o contrário. "Já passou uma semana desde a morte de George
Floyd. É mais uma, mais uma, e não sinto que alguma coisa esteja a mudar. Tento
manter-me confiante, positivo, mas dói muito ver o que se está a passar".
Sobre o racismo no ciclismo, o
francês recorda alguns casos que são do conhecimento geral. "Desde que
estou no ciclismo ao mais alto nível, nunca senti verdadeiramente o racismo,
embora saiba que Kévin Reza viveu essa situação nos primeiros anos da carreira,
e não teve o apoio adequado".
O caso a que se refere de Reza
aconteceu no Tour de 2014, quando o também francês foi vítima de comentários
racistas por parte do ciclista da então Orica-GreenEdge, Michael Albasini. O
suíço viria mais tarde a pedir desculpas, mas negando que tivesse proferido
comentários racistas, dizendo que tinha sido mal interpretado. Kévin Reza
voltaria a viver situação igual, no Tour de 2017, com Gianni Moscon, tendo a
Sky optado por suspender o italiano por algum tempo.
Baugé explicou que os atletas
negros geralmente sofrem em silêncio, incapazes de falar e denunciar por medo
de não serem apoiados por aqueles que tomam decisões. "Sofremos e estamos
sozinhos. Vemos isso no futebol. Dizem que são contra o racismo, mas na verdade
não fazem nada. As autoridades não vêem isso como um problema. Como não gera
dinheiro, não se interessam".
Por causa desta inércia de
quem realmente pode fazer alguma coisa, o ciclista francês diz compreender a
violência associada às manifestações que têm ocorrido nos Estados Unidos.
"Até entendo a violência que se seguiu à morte de George Floyd. Não deveria
existir, mas há muita frustração porque na realidade parece que não há ninguém
para defender o caso".
Fonte; Record on-line