Antigo ciclista assume que o
seu comportamento foi "indesculpável"
Por: Lusa
O antigo ciclista Lance
Armstrong admitiu desejar "mudar tudo o que aconteceu" e ter sido
"um homem melhor" durante a sua carreira, na qual venceu sete edições
da Volta a França, que posteriormente perdeu por doping.
"Desejava poder mudar
tudo o que aconteceu. Desejava ter sido um homem melhor. Tudo o que posso dizer
é que lamento e seguir em frente", declarou na segunda parte do
documentário "Lance", exibido domingo pela cadeia de televisão
desportiva ESPN.
Numa rara demonstração de
arrependimento, Armstrong assume que o seu comportamento, pontuado por
reiteradas mentiras e uso de substâncias e métodos ilícitos para melhorar a sua
performance, foi "indesculpável", atendendo a que era não só "um
líder do desporto", mas também "o líder de uma causa", a do
cancro, doença que superou antes de vencer por sete vezes o Tour.
"Foi totalmente
inapropriado, aproveitei-me completamente do meu estatuto e, por isso, estou
profundamente arrependido", completou o antigo ciclista, agora com 48
anos.
A primeira parte do
documentário sobre a maior figura do ciclismo do século XXI, emitida na semana
passada, centrou-se na ascensão do texano e nas personagens que o rodeavam,
nomeadamente o polémico médico italiano Michele Ferrari, ou Floyd Landis, outro
vencedor do Tour (2006) caído em desgraça e um dos grandes 'inimigos' de
Armstrong, assim como nas contradições das suas entrevistas nos últimos anos.
A segunda parte de
"Lance" recupera a figura de Luke, o filho com quem subiu ao pódio
nas suas vitórias na 'Grande Boucle' (1999-2005) e que aparece como figura
antagónica do pai, pela sua postura antidoping.
"Sempre tive vontade de
lutar por algo e trabalhar por um objetivo específico vale sempre mais do que
escolher um atalho. E sinto que, se alguma vez o fizesse, diriam 'és como o teu
pai'", defendeu o jovem, que é jogador de futebol americano na
Universidade Rice, em Houston.
O texano perdeu as suas sete
vitórias na Volta a França em bicicleta, na sequência de um relatório da
Agência Antidoping dos Estados Unidos (USADA), que expôs o recurso do antigo
corredor norte-americano à dopagem sistemática.
Armstrong, um sobrevivente do
cancro, venceu o Tour consecutivamente entre 1999 e 2005 e, após anos de
suspeições, foi acusado e punido pela USADA, que, entre outras coisas, apoiou a
sua decisão em testemunhos de 11 dos antigos companheiros de equipa do
norte-americano.
A União Ciclista Internacional
confirmou posteriormente, em 22 de outubro de 2012, as sanções aplicadas pela
USADA, que irradiou Armstrong e anulou os resultados da maior parte da sua
carreira. Armstrong abandonou o ciclismo profissional em definitivo no início de
2011, depois de uma primeira retirada entre 2006 e 2008.
No seu relatório, a USADA
acusava Armstrong de ter montado "o programa de doping mais sofisticado da
história do desporto". Os testemunhos de 11 dos seus antigos companheiros
apontam para o recurso sistemático a eritropoietina (EPO), transfusões
sanguíneas e testosterona.
"Ninguém se dopa e é
honesto. Não és. A única forma de te dopares e seres honesto é se as pessoas
não te perguntarem [se te dopas], o que não é realista. No momento que alguém
pergunta, tu mentes. Pode ser uma mentira, se responderes uma vez. No meu caso,
foram 10 mil mentiras, porque respondi 10 mil vezes", reconheceu na
primeira parte do documentário.
Fonte: Record on-line