Por: José Morais
No final século 19, o uso da
bicicleta como meio de transporte e de lazer já estava difundido em alguns
países. As mulheres também foram cada vez mais aderindo à utilização do veículo
de duas rodas, sendo que passou a ser um dos primeiros sinais de independência
e feminismo.
Talvez por isso uma “doença”
relacionada com o uso da bicicleta tenha misteriosamente surgido, fazendo com
que elas se sentissem com receio de subir na bike novamente. A tal condição foi
nomeada com algo como o “rosto de bicicleta”, que os médicos passaram a
advertir que poderia acontecer com as moças ciclistas.
Mas o que era isso exatamente? Segundo os médicos da época, o excesso de força ao pedalar, a posição vertical em duas rodas e ainda o esforço inconsciente para manter o equilíbrio poderia produzir uma expressão fatigada e exausta nas mulheres: o tal “rosto de bicicleta”. E, percebam, essa condição era alertada mais em relação ao público feminino.
Essa descrição foi até
documentada no periódico médico Literary Digest, em 1895, segundo relatou um
artigo de Joseph Stromberg, do site Vox. Os especialistas daquele período ainda
relataram que a condição deixava as mulheres coradas, mas às vezes pálidas, com
os lábios ligeiramente deformados, olheiras e a expressão de cansaço.
Quer mais? A condição ainda
foi descrita como se deixasse as mulheres com a mandíbula rígida e apertada e
olhos esbugalhados. Será que tudo isso era um tipo de “recalque” masculino para
as mulheres não se divertirem e se deslocarem mais com as suas bicicletas?
Provavelmente, sim, sendo uma forma de eles cortarem as asinhas das moças que
queria ser mais independentes.
A
invenção de uma doença
Uma menção desta “doença”
também apareceu em 1897 no periódico médico National Review, em que o médico
britânico A. Shadwell advertiu sobre os perigos de andar de bicicleta,
especialmente para as mulheres, descrevendo "o ciclismo como uma mania de
moda tem sido experimentado por pessoas que não se adequam a exercê-lo".
Além disso, havia quem dizia
que a condição era permanente, enquanto outros sustentavam que se a pessoa
passasse um tempo longe da bicicleta os sintomas da doença diminuiriam. Entre
os judeus, era ainda alertado que se andasse de bicicleta no domingo, era culpa
e condenação na certa.
Talvez na época isso tenha
aterrorizado muitas mulheres, mas obviamente, a doença da “cara de bicicleta”
não era algo real, o que nos leva à questão: porque os médicos estavam tão
preocupados com isso? Pressão dos maridos, dos pais e de toda uma sociedade?
Como falamos anteriormente,
era sim mais ou menos isso. Em 1890, na Europa e na América do Norte, as
bicicletas passaram a ser vistas por muitos como um instrumento do feminismo. O
veículo dava mulheres maior mobilidade, além de uma redefinição da feminilidade,
de atitude e até da moda. Para os homens, era apenas mais um “brinquedo”, mas
para elas a bicicleta abriu um mundo novo cheio de perspectivas.
Como não poderia deixar de
ser, principalmente naquela época, a reação de médicos e homens da sociedade
não foi positiva e, por isso, criaram várias razões para dissuadir a mulherada,
inventando que andar de bicicleta não fazia bem. Eles diziam que era muito
desgastante e inadequado para elas.
Os médicos afirmavam ainda que
o uso do veículo não só causava a doença do “rosto de bicicleta” como também
gerava cansaço, insônia, palpitações, dores de cabeça e depressão. Porém, ainda
em 1897, a médica Sarah Stevenson Hackett, de Chicago, afirmou que o ciclismo
não era prejudicial e que, na verdade, melhorava a saúde.
Isso pode ter aliviado para
algumas mulheres, mas provavelmente o mito da doença do “rosto de bicicleta”
ainda tenha perdurado por muitos anos, fazendo com que elas ficassem com receio
de pedalar.






