A época de 2025 de Melanie
Santos pode resumir-se numa palavra: imprevisível. Um ano que começou com
incertezas, atravessou dores, exigiu cirurgias, testou limites e, ainda assim,
devolveu à triatleta a certeza de que sabe recomeçar, mesmo quando tudo parece
desmoronar.
O primeiro sinal de esperança
surgiu num momento simples, quase banal, mas que carregava o peso de meses de
dúvidas: o dia em que conseguiu completar um conjunto de exercícios sem que o
ombro protestasse, depois de tanto tempo de lesão. Pela primeira vez, pensou:
“Ok, isto está mesmo a correr bem.” Era pouco para o mundo exterior, mas enorme
para quem viveu cada passo da recuperação.
Mas nem tudo foram vitórias
silenciosas. Houve dias duros, como no estágio de altitude em Font-Romeu, “num
daqueles dias em que tudo dói, o empeno entra pelos ossos e o ombro decide não
colaborar.” Nesses dias, o desejo de largar tudo e fugir para um pastel de nata
era mais que real. Vários, de preferência.
E ficou uma prova atravessada:
Hamburgo. No dia do seu aniversário, esperava mais, ela e o corpo. A vontade
estava lá, mas o resultado não apareceu. Ficou guardada, como ela diz, “para um
acerto de contas futuro”.
Entre altos e baixos, 2025
ensinou-lhe mais do que qualquer pódio: “Que não tenho medo de começar do zero.
Que sou muito mais teimosa do que pensava. E que a pausa não me tira valor e às
vezes até me devolve força”, recorda Melanie.
Depois da melhor prova da
época, a primeira mensagem seguiu para o João, “não só por estar sempre
presente, mas porque ele sabia, talvez melhor do que ninguém, o significado
real daquele dia.”
Se esta época tivesse uma
banda sonora, seria “Dive”, de Olivia Dean, uma música sobre mergulhar de
cabeça, sobre voltar aos riscos depois de uma queda, sobre confiar no salto. E
foi exatamente isso que Melanie fez ao regressar após a lesão.
Houve também espaço para
leveza. O momento mais divertido do ano surgiu longe dos treinos, longe dos
pódios: uma viagem a Ibiza, sem planos, sem estrutura, só amigas e gargalhadas.
A liberdade rara de respirar sem pressa.
Mas houve lágrimas também. O
dia em que o médico disse “tens de operar foi um murro no estômago: tristeza,
medo, e, paradoxalmente, um alívio: finalmente havia um caminho claro.
Quanto a excentricidades, o
snack mais bizarro do ano foi arroz com ketchup, que para ela é estranho, mas
para o Vasco Vilaça é praticamente alta gastronomia.
Se pudesse trocar de corpo com
outro triatleta por um dia, escolheria o Ricardo Batista, para poder viver na
lua por umas horas, conhecer o mundo que ele habita quando fica a olhar o
infinito, tão no seu próprio mundo.
No final, o gesto que mais a
tocou foi o apoio da seleção e da Federação de Triatlo de Portugal após a lesão
em Hamburgo. Nos momentos em que o chão parece desaparecer, perceber que não se
cai sozinha faz toda a diferença.
2025 não foi a época mais
linear, nem a mais fácil. Mas foi, sem dúvida, uma das mais transformadoras: um
ano em que Melanie Santos voltou a mergulhar, renascer e descobrir que, mesmo
entre turbulências, continua a saber exactamente quem é.
Texto
elaborado com base num questionário com as seguintes perguntas:
1 Como descreves esta época
numa palavra?
2. Qual foi o momento em que
pensaste: “Ok, isto está mesmo a correr bem”?
3. E o momento em que só te
apetecia largar tudo e ir comer um pastel de nata?
4. Há alguma prova que tenha
ficado atravessada, aquela que ainda hoje pensas “eu merecia mais ali”?
5.O que é que mais aprendeste
sobre ti nesta época?
6. Quem foi o primeiro a
receber uma mensagem depois da melhor prova da época?
7. Se a tua época tivesse uma
banda sonora, que música seria?
8. Qual foi o momento mais
divertido da época, dentro ou fora da competição?
9. E aquele momento em que
quase choraste (de raiva, cansaço ou alegria)?
10. Qual foi o snack mais
bizarro que comeste, este ano, antes ou depois de competir?
11. Se pudesses trocar de
corpo com outro triatleta por um dia, quem escolhias e porquê?
12. Há alguma pessoa ou gesto
que te tenha tocado particularmente durante a época?
Fonte: Federação Triatlo
Portugal