Por: Carlos Silva
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
Depois de 14 épocas no coração
de uma das dinastias mais dominantes da era moderna, Salvatore Puccio pendurou
a bicicleta. O siciliano de 35 anos põe um ponto final na sua carreira após uma
vida inteira ao serviço da Team Sky e mais tarde, da INEOS Grenadiers -
admitindo que o ciclismo que agora deixa para trás, sofreu muitas alterações,
quando comparado com o que encontrou em 2011.
Em entrevista ao TuttoBiciWeb,
Puccio refletiu sobre um pelotão que considera mais rápido, mais tenso e mais
perigoso do que nunca.
“É extremamente perigoso e
desgastante. Já quase ninguém trava. Se abrandamos por um instante, perdemos
quarenta posições e para podermos recuperá-las é brutal”, disse Puccio. “Se
deixamos um espaço aberto, há alguém que entra logo. Não é uma questão de mudanças,
é mental. Os acidentes que se veem na televisão são apenas um por cento do que
realmente acontece dentro do pelotão.”
“O
ciclismo mudou muito”
A decisão de abandonar surgiu
no final de uma temporada atribulada, marcada por lesões e por uma reflexão
pessoal. Puccio fraturou o pulso antes da Volta aos Alpes, o que o afastou da
Volta a Itália, a corrida onde viveu o ponto alto da sua carreira: vestiu a
Camisola Rosa em 2013, após a vitória da Sky no contrarrelógio por equipas.
De regresso à competição,
percebeu como o ciclismo tinha evoluído.
“O ciclismo mudou muito, é
muito mais exigente agora. No último inverno treinava três vezes por dia para
me manter competitivo”, contou. “A nutrição também mudou completamente. Antes
saíamos para pedalar cinco horas depois de comer uma omoleta. Agora levamos os
bolsos cheios de géis e aprendemos a absorver 120 gramas de hidratos de carbono
por hora.”
Essa exigência, reconhece, tem
um preço. “O pelotão está tão compacto que o caos começa logo no quilómetro
zero. Recentemente atingi 84 km/h numa descida e fiquei assustado.
Infelizmente, acho que só vai piorar”, acrescenta.
Um
gregário que simbolizou a lealdade
Ao longo de mais de uma
década, Puccio foi sinónimo de lealdade e profissionalismo. Desde que se tornou
profissional, em 2011, vestiu sempre a mesma camisola - primeiro da Sky, depois
da INEOS - tornando-se um pilar silencioso na engrenagem de campeões como
Bradley Wiggins, Geraint Thomas, Egan Bernal e Filippo Ganna.
“Sempre vesti a mesma camisola
porque me sentia bem nesta equipa. Vi muitos colegas entrarem e saírem, mas eu
prefiro a estabilidade e a calma. Não gosto de mudanças”, confessou.
Mesmo sem vitórias
individuais, Puccio mede o sucesso de forma diferente. “Cada vitória dos meus
colegas é como se fosse minha. Tive a sorte de correr com verdadeiros campeões.
Para um gregário isso é tudo. Podes dar tudo o que tens, mas se o teu líder não
ganhar, o teu trabalho não conta para nada.”
Um novo capítulo no carro da
equipa
Puccio despediu-se em casa,
nas clássicas italianas de outono - Giro dell’Emilia, Tre Valli Varesine e Il
Lombardia - e prepara-se agora para uma nova etapa como director desportivo. Já
se inscreveu no curso da UCI e não esconde a vontade de continuar ligado ao
pelotão.
“Gostaria de passar para o
carro da equipa, nem que fosse noutra formação”, revelou. “Inspiro-me em Matteo
Tosatto, cheio de carisma e energia, e em Dario David Cioni, mais calmo e
ponderado. Gostava de encontrar um equilíbrio entre os dois.”
Com serenidade e sem
arrependimentos, Salvatore Puccio fecha um ciclo. “Estou incrivelmente feliz
com a minha carreira. Tirando o cansaço, faria tudo outra vez desde o início.”
Um fim discreto, mas digno,
para um ciclista que personificou o trabalho invisível que sustenta as maiores
vitórias do World Tour.
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