quarta-feira, 29 de outubro de 2025

“Vai melhorar porque os 'pintores' chegam esta semana” Wiggins denuncia cultura “racista e homofóbica” no ciclismo britânico”


Por: Carlos Silva

Em parceria com: https://ciclismoatual.com

Sir Bradley Wiggins, primeiro britânico a vencer a Volta a França e cinco vezes campeão olímpico, revelou na sua nova autobiografia The Chain aquilo que descreve como uma cultura profundamente tóxica e discriminatória no seio do programa nacional de ciclismo do Reino Unido.

Em excertos do livro publicados pelo jornal The Sun, o antigo ciclista afirma ter ouvido linguagem racista, sexista e homofóbica utilizada por figuras de topo da British Cycling durante a sua carreira, incluindo comentários ofensivos dirigidos a Victoria Pendleton e Shanaze Reade, duas das maiores ciclistas britânicas da sua geração.

“Ouvi a palavra f**** [injúria homofóbica]* usada para descrever um membro gay da equipa de gestão sénior do ciclismo britânico”, escreve Wiggins, acrescentando que o funcionário em questão acabou por se demitir devido à cultura que enfrentou.

O vencedor da Volta a França de 2012 afirma ainda que uma das atletas foi alvo de comentários misóginos por parte de um dirigente, que brincou sobre o ciclo menstrual de Pendleton para explicar variações no seu rendimento.

“Antes de uma prova da Taça do Mundo em Manchester, Victoria Pendleton estava a treinar na pista. Perguntei a um dos responsáveis como é que ela se estava a sair. Ele respondeu: ‘Está bem, mas vai melhorar porque os pintores chegam esta semana’. O silêncio foi ensurdecedor”, recorda Wiggins.

O britânico diz que esse tipo de atitude criou um ambiente de medo e silêncio dentro da equipa nacional.

“Éramos quatro homens e nenhum de nós era santo, mas todos percebemos que o comentário era totalmente inaceitável”, escreveu. “No ciclismo de elite, a linha entre crítica e humilhação era tão ténue que deixava de fazer sentido. Queria a minha filha nesse sistema? Absolutamente não.”

 

“Homofobia a outra escala”

 

Segundo Wiggins, um membro homossexual da estrutura técnica acabou por abandonar a organização, após ser alvo de um clima insustentável de discriminação.

“No final, ele demitiu-se porque não conseguia trabalhar com alguém cuja homofobia era de outra dimensão. É evidente que quem devia ter saído era a pessoa que fez o comentário”, escreveu o antigo campeão.

O ciclista também recorda a forma desigual como a federação tratava as relações pessoais dentro da estrutura, referindo o caso de Pendleton, que se envolveu com o seu treinador, algo que segundo Wiggins, foi tratado com severidade, enquanto outras situações semelhantes foram ignoradas.

“A Victoria apaixonou-se pelo treinador e ele perdeu o emprego, enquanto outro dirigente tinha um caso e nada aconteceu. Por amor de Deus, não se pode escolher por quem nos apaixonamos. Isso não é crime”, sublinhou.

 

Reação da British Cycling

 

Perante as revelações, a British Cycling emitiu uma declaração oficial, afirmando “não tolerar qualquer forma de discriminação” e garantindo que foram implementadas reformas estruturais desde a auditoria independente de 2017, que já havia identificado falhas semelhantes.

“Ao longo dos últimos dois ciclos olímpicos e paralímpicos, demonstrámos uma mudança cultural centrada no ciclista, que o ajuda a perseguir os seus sonhos num ambiente seguro e de apoio. Continuamos empenhados em promover uma cultura respeitosa e inclusiva, onde todos possam prosperar”, afirmou um porta-voz da federação.

 

“Senti-me rejeitado e não apreciado”

 

Wiggins, que se retirou do ciclismo profissional em 2016, revelou ainda que recusou uma proposta para ter uma estátua no exterior do Velódromo de Manchester, símbolo máximo do sucesso britânico na modalidade, por se sentir “rejeitado e não apreciado” pela instituição.

O seu novo livro, The Chain, promete revisitar os triunfos da era dourada do ciclismo britânico, mas também expor as suas contradições internas, revelando o lado sombrio de um sistema que durante anos foi apresentado como modelo de excelência desportiva.

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