Por: Carlos Silva
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
A Volta à Flandres, o segundo
Monumento da temporada e o ponto alto das clássicas flandrien, está marcada
para este domingo, 6 de abril, e promete ser, uma vez mais, um dos dias mais
emocionantes do calendário do ciclismo mundial. Com nomes como Mathieu van der
Poel, Tadej Pogacar, Wout van Aert, Mads Pedersen e outros especialistas em
clássicas confirmados, a corrida perfila-se como um duelo entre gigantes — com
a dureza do percurso a ditar o desfecho. Façamos uma antevisão da corrida.
268
quilómetros de brutalidade flandrien
A edição deste ano conta com 268,5 quilómetros entre Brugge e
Oudenaarde, num percurso que desafia os ciclistas não só pela extensão, mas
pelo tipo de esforço contínuo que exige. A primeira metade será relativamente
calma — com mais de 120 km de aproximação — mas a partir daí, a corrida entra
num ritmo infernal, com os setores empedrados e os famosos bergs a surgirem em
rápida sucessão.
Este ano, o Oude Kwaremont abrirá simbolicamente as hostilidades, sendo
o primeiro setor numerado da corrida. A partir dos últimos 140 km, os ciclistas
enfrentarão uma sequência de subidas que começará a fatiar o pelotão, criando
desgaste e preparando o terreno para os momentos decisivos.
A secção
decisiva: Kwaremont, Koppenberg e Paterberg
O momento-chave da Volta à Flandres surge, como habitualmente, no trio
lendário de subidas que molda o desfecho da corrida:
2.ª passagem pelo Oude Kwaremont (54,5 km para o fim)
Koppenberg (50,5 km) — 600m a 13,3%
Paterberg (44,5 km) — 400m a 13,5%
Este combo, compacto e demolidor, será o momento onde os grandes nomes
mostrarão as suas intenções. Ataques sérios, seleções naturais e quebras
irreversíveis são expectáveis aqui. Depois disso, o pelotão ou o que restar
dele raramente consegue recuperar.
Últimas
plataformas antes do clímax
O percurso mantém-se agressivo nas fases finais, com Steenbeekdries (39
km), Taaienberg (37 km) e Oude Kruisberg (28 km) a proporcionarem novas
oportunidades de ataque para os mais ousados. A corrida entra então na sua
secção derradeira, e com um grupo já bastante reduzido, a menor hesitação pode
ser fatal.
Última
volta ao Kwaremont e o golpe final no Paterberg
A terceira e última ascensão ao Oude Kwaremont surge a 16,5 km da meta.
Com 2,5 km de subida irregular a 3,7%, é uma subida que exige resistência pura,
sobretudo após mais de seis horas de corrida.
Logo depois, a subida final — o Paterberg — uma parede curta e explosiva
com 400 metros a 13,5%, atinge o topo a 13 km da chegada. Aqui, não há
slipstream que valha, é cada um por si. Um ataque bem-sucedido nesta rampa pode
decidir a corrida.
Final em
Oudenaarde: onde tudo pode mudar… ou não
Após o topo do Paterberg, os ciclistas enfrentam uma descida curta
seguida de uma longa secção plana até à chegada em Oudenaarde. Dependendo do
número de sobreviventes, esta fase final pode ver novos ataques ou um jogo
tático pelo sprint.
O Tempo
A previsão meteorológica para este domingo indica vento médio a forte de
nordeste, um factor que poderá ter impacto directo no desenrolar da Volta à
Flandres. Com a partida em Brugge e praticamente todo o trajeto inicial exposto
a vento lateral ou de costas, existe um risco elevado de existirem cortes, com
equipas a potenciarem divisões no pelotão muito antes das subidas empedradas.
No entanto, os dados do vento também trazem um desafio para os mais
ofensivos: os últimos 10 quilómetros decorrem com vento frontal, o que poderá
condicionar ataques a solo na fase final e favorecer a reaproximação de grupos
perseguidores, tornando a gestão táctica ainda mais delicada para quem tentar
arriscar cedo.
Os
Favoritos
Tadej
Pogacar (UAE Team Emirates - XRG)
A UAE apresenta um bloco tão completo que, em teoria, poderia gerir a
corrida de forma táctica e proteger Pogacar até ao final. Mas todos sabemos que
esta será, inevitavelmente, uma corrida para o esloveno. O alinhamento da
equipa tem Florian Vermeersch e Tim Wellens em excelente forma, Jhonatan
Narváez como uma alternativa valiosa nas colinas, e ainda António Morgado, Nils
Politt e Mikkel Bjerg, tendo o Português fechado Top-5 no ano passado. No
entanto, Bjerg e Politt deverão sacrificar-se cedo.
Pogacar deverá atacar no Koppenberg, como em 2023, mas poderá também
testar os rivais no Oude Kwaremont ou no Paterberg, sem esperar pela última
volta. Se não conseguir isolar-se nas subidas, o vento frontal nos últimos 10
km poderá jogar contra ele. Ainda assim, poucos terão duvidas de que o Campeão
do Mundo atacará... e voltará a atacar.
Mathieu
van der Poel (Alpecin-Deceuninck)
O neerlandês venceu a Flandres três vezes e procura fazer história com
um quarto triunfo. Em 2024, venceu sozinho após atacar no Koppenberg. Este ano,
com Pogacar como rival direto, não terá vida fácil. Gianni Vermeersch será o
seu principal apoio, já que Jasper Philipsen e Kaden Groves estão guardados
para Roubaix.
Van der Poel prefere que a corrida não seja demasiado táctica. Se a UAE
ou a Visma lançarem ataques, a sua equipa pode não conseguir controlar todos os
cenários. A sua melhor hipótese será endurecer a corrida cedo e confiar na sua
superioridade física.
Mads
Pedersen (Lidl-Trek)
O dinamarquês está numa forma tremenda. Tem resistência, agressividade,
capacidade de sprint e sobrevive bem às subidas. Com Jasper Stuyven como braço
direito, terá liberdade total. O desafio será igualar os ataques de Van der
Poel e Pogacar nas subidas mais íngremes, o que pelo que tem mostrado este ano,
não é de excluir.
Pedersen é o tipo de ciclista que pode vencer em qualquer cenário, se
chegar no grupo da frente.
Team
Visma | Lease a Bike
Depois do erro táctico na Dwars door Vlaanderen, é improvável que a
Visma repita a mesma abordagem. A estratégia deve passar por destruir a corrida
antes das subidas, aproveitando o vento lateral nos primeiros quilómetros para
provocar cortes e isolar líderes rivais.
Wout van Aert e Matteo Jorgenson partilham a liderança, mas Van Aert
deverá ser mais agressivo no início, até porque Jorgenson parece estar melhor
nas subidas. A equipa sabe que não pode deixar tudo para o final — um ataque
bem sucedido de Pogacar pode deitar tudo a perder mesmo em superioridade
numérica.
Filippo
Ganna (INEOS Grenadiers)
O italiano tem sido uma das grandes surpresas das clássicas este ano.
Com Magnus Sheffield, Joshua Tarling e Ben Turner ao seu lado, a INEOS tem
ferramentas para o proteger e o lançar tacticamente.
Ganna não é o mais explosivo para os bergs, mas tem uma resistência e um
sprint fortes. Se resistir no grupo da frente, é perfeitamente possível fazer
um pódio.
Neilson
Powless (EF Education-EasyPost)
Vem de uma vitória brilhante na Dwars door Vlaanderen e está claramente
em forma. É inteligente tacticamente e pode aproveitar um cenário caótico para
repetir o pódio surpresa de 2024.
Alec
Segaert e Arjen Livyns
Dois belgas em ascensão, muito ativos nesta primavera. Numa corrida
agressiva com divisões desde cedo, podem ser peças valiosas no grupo
perseguidor.
Se a corrida for mais controlada e os ataques não resultarem em grandes
cortes, alguns sprinters com boa resistência podem surgir em posição de
discutir um lugar no pódio:
Luca
Mozzato – 2.º classificado em 2024
Biniam Girmay – em boa forma e irá estrear-se em Roubaix
Corbin Strong, Davide Ballerini, Paul Magnier e Iván García Cortina –
todos capazes de um sprint forte se sobreviverem às subidas
Vários nomes de peso podem não estar entre os favoritos à vitória, mas
num grande dia têm o talento e a consistência para um lugar entre os 10
primeiros:
Laurence Pithie, Matej Mohoric, Fred Wright, Rasmus Tiller, Joe
Blackmore, Casper Pedersen
Stefan Küng, Valentin Madouas, Dylan Teuns, Matteo Trentin
Previsão
Volta à Flandres 2025:
*** Tadej Pogacar, Mathieu van der Poel
** Mads Pedersen, Matteo Jorgenson, Filippo Ganna
* Tim Wellens, Florian Vermeersch, Jhonatan Narváez, Gianni Vermeersch,
Jasper Stuyven, Wout van Aert, Tiesj Benoot, Magnus Sheffield, Michael
Matthews, Neilson powless, Lennert van Eetvelt, Valentin Madouas, Stefan Küng,
Matteo Trentin
Escolha: Tadej Pogacar
Pode visualizar este artigo em: https://ciclismoatual.com/ciclismo/antevisao-volta-a-flandres-2025-van-der-poel-vs-pogacar-vs-pedersen-vs-van-aert-quem-sera-o-rei-dos-paralelos-flandrien