segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

“FIGURAS MARCANTES DO CICLISMO LUSO”

Hoje falamos de: Joaquim Agostinho

Foram várias as figuras do pelotão nacional que marcaram as principais fases da evolução do ciclismo português, e das quais nos iremos ocupar neste capítulo, desde as proezas de José Bento Pessoa, nos finais do Século XVIII, aos inesquecíveis José Maria Nicolau e Alfredo Trindade, até aos históricos Alves Barbosa, Joaquim Agostinho e Marco Chagas.

Pelo meio ficaram Ribeiro da Silva, a dinastia dominadora do FC Porto (dos Moreira, Dias Santos, Sousa Cardoso, Mário Silva, José Pacheco, entre outros), os dois José Martins (o do Benfica e o da Coelima), José Albuquerque (o popular “Faísca”), o “leão” João Roque e os benfiquistas Peixoto Alves, Fernando Mendes e Francisco Valada, para terminar em Joaquim Gomes, Fernando Carvalho, Jorge Silva, Orlando Rodrigues, Vítor Gamito, Nuno Ribeiro e José Azevedo. 

Todos eles estão envolvidos na reconstituição, que a seguir fazemos, das breves biografias daqueles que elegemos como principais marcos históricos da evolução do ciclismo português


JOAQUIM AGOSTINHO

Nascimento: 07/04/1942 Naturalidade: Bregenjas (Silveira-Torres Vedras) Faleceu em 10/05/1984 Profissional: 1968   Equipas em Portugal: Sporting Clube de Portugal (1968 a 1973, 1975 e 1984). Equipas no estrangeiro: Frimatic (1969 e 1970), Hoover (1971), Magniflex (1972), Bic (1973 e 1974), Teka (1976 e 1977), Flandria (1978 e 1979), PuchSem-Campagnolo (1980), Sem-France Loire (1981 e 1983). 


UMA FIGURA INESQUECÍVEL

Joaquim Agostinho tem um lugar à parte na história do ciclismo português, marcando um capítulo que se pode designar por 'A era de Agostinho',

reservado ao nosso melhor ciclista de todos os tempos, "um fora-de-série", como diz Alves Barbosa.

Nenhum outro dos nossos melhores corredores alcançou o seu nível. Igualou o recorde de Alves Barbosa, obtendo três vitórias na Volta a Portugal, apenas com a diferença de que foram consecutivas (1970, 71 e 72). Só os controlos anti-doping o impediram de averbar os triunfos em 1969 e 1973 e coleccionar cinco seguidas, que seria a maior série de sempre. Mas foi além fronteiras que ele conseguiu as suas maiores proezas, evidenciando-se como notável trepador e contra-relogista, e detentor de um enorme espírito lutador. 

No 'Tour' de França conquistou dois terceiros lugares (1978 e 1979), um 5º (1980), um 6º (1974), dois oitavos (1969 e 1973) e quatro etapas, tudo isto em 13 participações. 

O momento mais alto da sua carreira foi alcançado aos 38 anos de idade com a vitória na subida do mítico Alpe d'Huez, no 'Tour' de França. Em cinco presenças na 'Vuelta' a Espanha foi 2º classificado em 1974, a poucos segundos do vencedor, o espanhol José Manuel Fuente (resultado que suscitou fortes dúvidas), um 6º lugar em 1973, um 7º em 1976, e três etapas.

Um tal palmarés, num ciclista que iniciou a sua carreira aos 25 anos de idade, tem um valor incalculável, principalmente tendo em conta a alta cotação que obteve. Em Portugal, onde não havia qualquer adversário à sua altura, o seu mais forte rival foi Fernando Mendes e pelos fortes laços de amizade que os ligava, Agostinho abriu-lhes as portas do ciclismo internacional.

Faleceu em resultado de uma queda na Volta ao Algarve de 1984, quando envergava a camisola amarela. A sua figura ainda hoje é recordada nas altas esferas do ciclismo mundial.


NO ‘TOUR’

Entre 1969 e 1983, Joaquim Agostinho disputou 13 edições do 'Tour' de França, e desistiu apenas numa delas. Tinha 27 anos quando se estreou nas estradas francesas e tinha 42 anos quando se despediu do 'Tour'. Os melhores resultados alcançados foram dois terceiros lugares (1978 e 1979) e dois quintos lugares (1971 e 1980), classificando-se sempre entre os 15 primeiros, como o indica o seu palmarés: um 6º lugar (1974), três oitavos (69, 72 e 73), um 11º (1983), um 13º (1977), um 14º (1970) e um 15º (1975), resultados a que se juntam as seguintes cinco vitórias em etapas: 1969 (Nancy-Mulhouse  e La Grande Motte-Revel); 1973 (Bordéus-Bordéus); 1977 (Voiron-Saint Etienne, da qual foi desclassificado por irregularidade); 1979 (Les Menuires-Alpe d’Huez). 


NA ‘VUELTA’

Foram cinco as presenças de Joaquim Agostinho na ‘Vuelta’ a Espanha e o balanço corresponde perfeitamente àquilo que seria de esperar de um ciclista da sua estirpe, com uma carreira de vulto no ‘Tour’ de França.

Nas estradas espanholas conquistou algumas vitórias, tendo ficado a 11 segundos do triunfo na ‘Vuelta’ de 1974, e ainda hoje se suscitam graves suspeitas quanto ao rigor dos cronometristas. Não foi lá muito feliz a sua estreia na ‘Vuelta’ de 1972, porque após ter sido 3º no prólogo de Fuengirola. veio a abandonar a corrida devido a uma grave queda na 8ª etapa, que ligou Vinaroz a Tarragona.

Agostinho perdeu o conhecimento e foi levado de urgência para o Hospital de Barcelona, onde lhe foi diagnosticada fractura de crânio, ficando ali internado durante quatro dias.  Nas outras participações conseguiu o 6º lugar em 1973, o 7º em 1976 e o 15º em 1977, tendo registado vitórias em três etapas e vestiu a camisola amarela durante cinco dias.


NO ‘GIRO’

Joaquim Agostinho disputou uma única vez o ‘Giro’ de Itália, mas não chegou ao fim. Foi em 1972 e corria então na equipa TEKA, com Fernando Mendes.  A queda do espanhol Santiseban, da KAS, que sofreu forte e perigoso traumatismo ao bater com a cabeça no ‘rail’ de protecção na descida para Catânia (Sicilia), impressionou bastante Agostinho que acabou também por desistir com problemas de saúde.  Fernando Mendes terminou a corrida em 17º, cabendo a vitória ao italiano Felice Gimondi.
 

NA VOLTA A PORTUGAL

De cinco vitórias só três valeram Joaquim Agostinho participou em seis edições da Volta a Portugal, tendo conquistado um surpreendente segundo lugar na sua estreia, em 1968, e cinco vitórias consecutivas nos anos seguintes, mas foi desclassificado em duas delas (1969 e 1973) por controlos anti-doping positivos. No ano da estreia (1968) causou sensação pelo segundo lugar alcançado, a escassos 57 segundos do vencedor, o benfiquista Américo Silva, e ainda andou três dias com a camisola amarela, mesmo sem vencer qualquer etapa.

Com a vitória no contra-relógio da última etapa da Volta de 1969, Joaquim Agostinho sagrou-se vencedor absoluto, mas, já depois de lhe terem sido prestadas todas as honrarias, veio a ser destituído do triunfo, que foi atribuído ao 2º classificado, Joaquim Andrade (Sangalhos), e relegado para o 7º lugar.

Na sua última participação na Volta, em 1973, o ‘doping’ retirou-lhe o quarto triunfo, conquistado mercê de sete vitórias de etapa e 15 dias de liderança, em benefício do espanhol Jesus Manzaneque, da equipa Messias. José Martins e Fernando Mendes foram os seus principais adversários no plano nacional, na transição para a gesta de Marco Chagas.


RESUMO 

Volta a Portugal: 1968 - 2º; 1969 - 7º; 1970 - 1º; 1971 - 1º; 1972 - 1º (24 etapas).

Tour de França: 1969 - 8º; 1970 - 14º; 1971 - 5º; 1972 - 8º; 1973 - 8º; 1974 - 6º; 1975 - 15º; 1977 - 13º; 1978 - 3º; 1979 - 3º; 1980 - 5º; 1983 - 11º (5 etapas). Vestiu a camisola amarela 80 vezes e venceu uma vez a classificação por pontos.

Vuelta a Espanha: 1973 - 6º; 1974 - 2º; 1976 - 7º; 1977 - 15º (3 etapas e 5 dias de camisola amarela).

Campeão nacional: 1968 a 1973 (seis vezes consecutivas)

Vitórias de etapas em montanhas míticas: Alpe d'Huez, no Tour (1979)

Cangas de Oniz, na Vuelta (1974)

Alto da Torre, na Volta (1971 e 1973)

Pehas da Saúde, na Volta (1970)

Balmberg, na Volta a Suiça (1972)

Outras vitórias em montanha: Puerto del Léon, na Vuelta (1972)

Côte de Laffrey, no Tour (1971)

First Plan, no Tour (1969)

Grammont, no Tour (1971)

Manse, no Tour (1972)

Lautaret, no Tour (1972)

Hundruck, no Tour (1972)

Oderen, no Tour (1972)

Lalouvesc, no Tour (1977)

Croix de Chabouret, no Tour (1977)

Prémio Super Prestige Pernod: 1969 - 18º; 1974 - 10º; 1980 - 7º; 1980 - 7º.


OUTRAS PROVAS

O palmarés de Joaquim Agostinho é extenso e valioso, mesmo para além do ‘Tour’, da Vuelta e da Volta a Portugal. Deixamos aqui um resumo, onde se registam os resultados conseguidos nas corridas mais importantes, no plano nacional e internacional.

NACIONAIS Campeão Nacional de Estrada: 1968; 1969; 1970; 1971; 1972; 1973

Campeão Nacional CRI: 1968; 1969; 1970; 1971; 1972; 1973

GP Riopele: 1º em 1969

GP Robbialac: 1º em 1969

GP de Sintra: 1º em 1971; 1º em 1972

Porto-Lisboa: 3º em 1971

Prémio de Lisboa: 1º em 1972

Prémio do Estoril: 1º em 1973

GP Clock: 1º em 1975

Volta ao Algarve: 1 etapa em 1984.


INTERNACIONAIS

Volta ao Estado de S. Paulo (Brasil): 1º em 1968

Mundial de Estrada: 16º em 1968; 15º em 1969; 20º em 1973

Troféu Baracchi (Itália): 1º em 1969; GP Nações: 5º em 1969

Super Prestige Pernod (França): 18º em 1969; 10º em 1974; 7º em 1980;

Escalada de Montjuic (Espanha): 3º em 1970

Semana Catalã (Espanha): 1 etapa; 3º em 1974; 6º em 1976; 4º em 1977

A Travers la Lausanne (Suiça): 3º em 1971

Dauphiné Libere (França): 17º em 1971; 13º em 1973; 19º em 1975; 4º em 1977; 6º em 1979; 3º em 1980; 3º em 1981

Volta a Suiça: 5º em 1972; 24º em 1983

Liège-Bastogne-Liège (Bélgica): 17º em 1972

Midi Libre (França): 5º em 1973; 8º em 1974; 3º em 1980

Paris-Nice (França): 15º em 1973

Prémio de Serenac (França); 1º em 1974

Prémio de Montastruc (França): 1º em 1974

Côte de Allevard (França): 1º em 1974

Tour de l’Aude (França): 3º em 1975

Volta ao País Basco (Espanha): 12º em 1975; 3º em 1976

Volta ao Levante (Espanha): 3º em 1976; 6º em 1977

Ronde de Seignelay (França): 5º em 1977

Prémio de Monteron (França): 1º em 1978

Prémio de Vailly (França): 1º em 1978

Prémio de Lamballe (França): 1º em 1980

Bordéus-Paris (França): 3º em 1980

Quatro Dias de Dunquerque: 3º em 1980

Volta a Córsega (França): 3º em 1980

Critério Internacional (França): 19º em 1980

Tour da Romandia: 5º em 1981; 14º em 1983;

Fonte: FPC

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