Foram várias as figuras do
pelotão nacional que marcaram as principais fases da evolução do ciclismo
português, e das quais nos iremos ocupar neste capítulo, desde as proezas de
José Bento Pessoa, nos finais do Século XVIII, aos inesquecíveis José Maria Nicolau
e Alfredo Trindade, até aos históricos Alves Barbosa, Joaquim Agostinho e Marco
Chagas.
Pelo meio ficaram Ribeiro da
Silva, a dinastia dominadora do FC Porto (dos Moreira, Dias Santos, Sousa
Cardoso, Mário Silva, José Pacheco, entre outros), os dois José Martins (o do
Benfica e o da Coelima), José Albuquerque (o popular “Faísca”), o “leão” João
Roque e os benfiquistas Peixoto Alves, Fernando Mendes e Francisco Valada, para
terminar em Joaquim Gomes, Fernando Carvalho, Jorge Silva, Orlando Rodrigues, Vítor
Gamito, Nuno Ribeiro e José Azevedo.
Todos eles estão envolvidos na
reconstituição, que a seguir fazemos, das breves biografias daqueles que
elegemos como principais marcos históricos da evolução do ciclismo português
JOAQUIM
AGOSTINHO
Nascimento: 07/04/1942
Naturalidade: Bregenjas (Silveira-Torres Vedras) Faleceu em 10/05/1984 Profissional:
1968 Equipas em Portugal: Sporting
Clube de Portugal (1968 a 1973, 1975 e 1984). Equipas no estrangeiro: Frimatic
(1969 e 1970), Hoover (1971), Magniflex (1972), Bic (1973 e 1974), Teka (1976 e
1977), Flandria (1978 e 1979), PuchSem-Campagnolo (1980), Sem-France Loire
(1981 e 1983).
UMA FIGURA
INESQUECÍVEL
Joaquim Agostinho tem um lugar
à parte na história do ciclismo português, marcando um capítulo que se pode
designar por 'A era de Agostinho',
reservado ao nosso melhor
ciclista de todos os tempos, "um fora-de-série", como diz Alves
Barbosa.
Nenhum outro dos nossos
melhores corredores alcançou o seu nível. Igualou o recorde de Alves Barbosa, obtendo
três vitórias na Volta a Portugal, apenas com a diferença de que foram
consecutivas (1970, 71 e 72). Só os controlos anti-doping o impediram de
averbar os triunfos em 1969 e 1973 e coleccionar cinco seguidas, que seria a
maior série de sempre. Mas foi além fronteiras que ele conseguiu as suas
maiores proezas, evidenciando-se como notável trepador e contra-relogista, e
detentor de um enorme espírito lutador.
No 'Tour' de França conquistou
dois terceiros lugares (1978 e 1979), um 5º (1980), um 6º (1974), dois oitavos
(1969 e 1973) e quatro etapas, tudo isto em 13 participações.
O momento mais alto da sua
carreira foi alcançado aos 38 anos de idade com a vitória na subida do mítico
Alpe d'Huez, no 'Tour' de França. Em cinco presenças na 'Vuelta' a Espanha foi
2º classificado em 1974, a poucos segundos do vencedor, o espanhol José Manuel
Fuente (resultado que suscitou fortes dúvidas), um 6º lugar em 1973, um 7º em
1976, e três etapas.
Um tal palmarés, num ciclista
que iniciou a sua carreira aos 25 anos de idade, tem um valor incalculável,
principalmente tendo em conta a alta cotação que obteve. Em Portugal, onde não
havia qualquer adversário à sua altura, o seu mais forte rival foi Fernando
Mendes e pelos fortes laços de amizade que os ligava, Agostinho abriu-lhes as
portas do ciclismo internacional.
Faleceu em resultado de uma
queda na Volta ao Algarve de 1984, quando envergava a camisola amarela. A sua
figura ainda hoje é recordada nas altas esferas do ciclismo mundial.
NO ‘TOUR’
Entre 1969 e 1983, Joaquim
Agostinho disputou 13 edições do 'Tour' de França, e desistiu apenas numa
delas. Tinha 27 anos quando se estreou nas estradas francesas e tinha 42 anos
quando se despediu do 'Tour'. Os melhores resultados alcançados foram dois
terceiros lugares (1978 e 1979) e dois quintos lugares (1971 e 1980),
classificando-se sempre entre os 15 primeiros, como o indica o seu palmarés: um
6º lugar (1974), três oitavos (69, 72 e 73), um 11º (1983), um 13º (1977), um
14º (1970) e um 15º (1975), resultados a que se juntam as seguintes cinco
vitórias em etapas: 1969 (Nancy-Mulhouse
e La Grande Motte-Revel); 1973 (Bordéus-Bordéus); 1977 (Voiron-Saint
Etienne, da qual foi desclassificado por irregularidade); 1979 (Les Menuires-Alpe
d’Huez).
NA ‘VUELTA’
Foram cinco as presenças de
Joaquim Agostinho na ‘Vuelta’ a Espanha e o balanço corresponde perfeitamente
àquilo que seria de esperar de um ciclista da sua estirpe, com uma carreira de
vulto no ‘Tour’ de França.
Nas estradas espanholas
conquistou algumas vitórias, tendo ficado a 11 segundos do triunfo na ‘Vuelta’
de 1974, e ainda hoje se suscitam graves suspeitas quanto ao rigor dos
cronometristas. Não foi lá muito feliz a sua estreia na ‘Vuelta’ de 1972,
porque após ter sido 3º no prólogo de Fuengirola. veio a abandonar a corrida
devido a uma grave queda na 8ª etapa, que ligou Vinaroz a Tarragona.
Agostinho perdeu o
conhecimento e foi levado de urgência para o Hospital de Barcelona, onde lhe
foi diagnosticada fractura de crânio, ficando ali internado durante quatro
dias. Nas outras participações conseguiu
o 6º lugar em 1973, o 7º em 1976 e o 15º em 1977, tendo registado vitórias em
três etapas e vestiu a camisola amarela durante cinco dias.
NO ‘GIRO’
Joaquim Agostinho disputou uma
única vez o ‘Giro’ de Itália, mas não chegou ao fim. Foi em 1972 e corria então
na equipa TEKA, com Fernando Mendes. A
queda do espanhol Santiseban, da KAS, que sofreu forte e perigoso traumatismo
ao bater com a cabeça no ‘rail’ de protecção na descida para Catânia (Sicilia),
impressionou bastante Agostinho que acabou também por desistir com problemas de
saúde. Fernando Mendes terminou a
corrida em 17º, cabendo a vitória ao italiano Felice Gimondi.
NA VOLTA A
PORTUGAL
De cinco vitórias só três
valeram Joaquim Agostinho participou em seis edições da Volta a Portugal, tendo
conquistado um surpreendente segundo lugar na sua estreia, em 1968, e cinco
vitórias consecutivas nos anos seguintes, mas foi desclassificado em duas delas
(1969 e 1973) por controlos anti-doping positivos. No ano da estreia (1968)
causou sensação pelo segundo lugar alcançado, a escassos 57 segundos do
vencedor, o benfiquista Américo Silva, e ainda andou três dias com a camisola
amarela, mesmo sem vencer qualquer etapa.
Com a vitória no
contra-relógio da última etapa da Volta de 1969, Joaquim Agostinho sagrou-se
vencedor absoluto, mas, já depois de lhe terem sido prestadas todas as
honrarias, veio a ser destituído do triunfo, que foi atribuído ao 2º classificado,
Joaquim Andrade (Sangalhos), e relegado para o 7º lugar.
Na sua última participação na
Volta, em 1973, o ‘doping’ retirou-lhe o quarto triunfo, conquistado mercê de
sete vitórias de etapa e 15 dias de liderança, em benefício do espanhol Jesus
Manzaneque, da equipa Messias. José Martins e Fernando Mendes foram os seus
principais adversários no plano nacional, na transição para a gesta de Marco
Chagas.
RESUMO
Volta a Portugal: 1968 - 2º;
1969 - 7º; 1970 - 1º; 1971 - 1º; 1972 - 1º (24 etapas).
Tour de França: 1969 - 8º;
1970 - 14º; 1971 - 5º; 1972 - 8º; 1973 - 8º; 1974 - 6º; 1975 - 15º; 1977 - 13º;
1978 - 3º; 1979 - 3º; 1980 - 5º; 1983 - 11º (5 etapas). Vestiu a camisola
amarela 80 vezes e venceu uma vez a classificação por pontos.
Vuelta a Espanha: 1973 - 6º;
1974 - 2º; 1976 - 7º; 1977 - 15º (3 etapas e 5 dias de camisola amarela).
Campeão nacional: 1968 a 1973
(seis vezes consecutivas)
Vitórias de etapas em
montanhas míticas: Alpe d'Huez, no Tour (1979)
Cangas de Oniz, na Vuelta
(1974)
Alto da Torre, na Volta (1971
e 1973)
Pehas da Saúde, na Volta
(1970)
Balmberg, na Volta a Suiça
(1972)
Outras vitórias em montanha:
Puerto del Léon, na Vuelta (1972)
Côte de Laffrey, no Tour
(1971)
First Plan, no Tour (1969)
Grammont, no Tour (1971)
Manse, no Tour (1972)
Lautaret, no Tour (1972)
Hundruck, no Tour (1972)
Oderen, no Tour (1972)
Lalouvesc, no Tour (1977)
Croix de Chabouret, no Tour
(1977)
Prémio Super Prestige Pernod:
1969 - 18º; 1974 - 10º; 1980 - 7º; 1980 - 7º.
OUTRAS PROVAS
O palmarés de Joaquim
Agostinho é extenso e valioso, mesmo para além do ‘Tour’, da Vuelta e da Volta
a Portugal. Deixamos aqui um resumo, onde se registam os resultados conseguidos
nas corridas mais importantes, no plano nacional e internacional.
NACIONAIS Campeão Nacional de
Estrada: 1968; 1969; 1970; 1971; 1972; 1973
Campeão Nacional CRI: 1968;
1969; 1970; 1971; 1972; 1973
GP Riopele: 1º em 1969
GP Robbialac: 1º em 1969
GP de Sintra: 1º em 1971; 1º
em 1972
Porto-Lisboa: 3º em 1971
Prémio de Lisboa: 1º em 1972
Prémio do Estoril: 1º em 1973
GP Clock: 1º em 1975
Volta ao Algarve: 1 etapa em
1984.
INTERNACIONAIS
Volta ao Estado de S. Paulo
(Brasil): 1º em 1968
Mundial de Estrada: 16º em 1968;
15º em 1969; 20º em 1973
Troféu Baracchi (Itália): 1º em
1969; GP Nações: 5º em 1969
Super Prestige Pernod
(França): 18º em 1969; 10º em 1974; 7º em 1980;
Escalada de Montjuic
(Espanha): 3º em 1970
Semana Catalã (Espanha): 1
etapa; 3º em 1974; 6º em 1976; 4º em 1977
A Travers la Lausanne (Suiça):
3º em 1971
Dauphiné Libere (França): 17º
em 1971; 13º em 1973; 19º em 1975; 4º em 1977; 6º em 1979; 3º em 1980; 3º em
1981
Volta a Suiça: 5º em 1972; 24º
em 1983
Liège-Bastogne-Liège
(Bélgica): 17º em 1972
Midi Libre (França): 5º em
1973; 8º em 1974; 3º em 1980
Paris-Nice (França): 15º em
1973
Prémio de Serenac (França); 1º
em 1974
Prémio de Montastruc (França):
1º em 1974
Côte de Allevard (França): 1º
em 1974
Tour de l’Aude (França): 3º em
1975
Volta ao País Basco (Espanha):
12º em 1975; 3º em 1976
Volta ao Levante (Espanha): 3º
em 1976; 6º em 1977
Ronde de Seignelay (França):
5º em 1977
Prémio de Monteron (França):
1º em 1978
Prémio de Vailly (França): 1º
em 1978
Prémio de Lamballe (França):
1º em 1980
Bordéus-Paris (França): 3º em
1980
Quatro Dias de Dunquerque: 3º
em 1980
Volta a Córsega (França): 3º
em 1980
Critério Internacional
(França): 19º em 1980
Tour da Romandia: 5º em 1981;
14º em 1983;
Fonte: FPC
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