Por: Carlos Silva
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
O Critérium du Dauphiné da
próxima semana marcará o ponto final na carreira de Romain Bardet. O francês,
profissional desde 2012 e que durante largos anos carregou sobre os ombros o
peso das esperanças francesas, despedir-se-á do pelotão no domingo, 15 de
junho, no alto do Plateau du Mont-Cenis.
Apenas há uma semana, Bardet
terminou a sua última Grande Volta, a Volta à Itália, onde esteve próximo de
completar o quadro de vitórias nas três Grandes Voltas, mas o feito escapou-lhe
por muito pouco.
Será que alguém alguma vez
desvendou o ponto fraco que comprometeu os sonhos de Bardet e Thibaut Pinot e,
por extensão, de toda a nação francesa na Volta a França?
Como disse o jornalista Hugo Coorevits ao WielerFlits, a trajetória de Bardet no topo do ciclismo esteve sempre marcada pela tensão entre um talento promissor e as limitações evidentes. "A cortina fecha-se no domingo, 15 de junho, no Plateau du Mont-Cenis. O Romain Bardet encerrará ali uma carreira profissional que começou em 2012. Uma carreira que não correspondeu totalmente às expectativas que os seus compatriotas e ele próprio depositaram nele, quando em 2013, terminou a sua primeira Grande Volta no décimo quinto lugar."
Coorevits recorda-se da
primeira vez que encontrou Bardet, na Amstel Gold Race de 2013, quando o jovem
francês protagonizou uma fuga ousada e só foi alcançado a nove quilómetros da
meta. "Aproximei-me dele e disse-lhe: 'Acho que tens uma grande carreira à
tua frente'. Ele abanou a cabeça discretamente em sinal de concordância."
Toda a França acreditava em
Bardet, assim como começava a depositar fé em Thibaut Pinot, seu conterrâneo e
rival. "A imprensa francesa celebrou o aparecimento de um novo duelo, à
imagem de Jacques Anquetil contra Raymond Poulidor", diz Coorevits.
Contudo, essa rivalidade nunca alcançou a dimensão prevista. "O grande
problema era que ambos eram fracos no contrarrelógio."
Em resposta aos dotes de
trepador de corredores como Bardet, a organização da Volta a França ajustou o
percurso, reduzindo os quilómetros dos contrarrelógios e introduzindo as crono
escaladas. A medida resultou até certo ponto. Em 2016, Bardet terminou em
segundo lugar após uma vitória épica na etapa de Saint-Gervais Mont Blanc. No
ano seguinte, estava a apenas 23 segundos de Chris Froome antes do decisivo
contrarrelógio de Marselha, mas uma prestação desastrosa fez com que perdesse
dois minutos. "De repente, Bardet 'quebrou' e cedeu o segundo lugar a
Rigoberto Urán."
Em 2019, acumulavam-se as
dúvidas. "Na véspera do Critérium du Dauphiné de 2019, sugeri-lhe numa
entrevista: 'Abandona a luta pela geral. Foca-te nas clássicas'. Ele olhou-me
fixamente, mas não respondeu. A pressão do Tour começava a pesar e as expectativas
da AG2R La Mondiale tornavam-se excessivas."
A mudança para a Team DSM, em
2021, trouxe uma nova vida a Bardet. Ele foi pai, tivemos a pandemia e a
transferência para uma nova estrutura deram-lhe aquilo que ele tanto precisava.
"O homem que tem um mestrado em gestão de empresas teve tempo para
refletir e decidiu virar a página após nove anos na AG2R."
Sob a orientação de Iwan
Spekenbrink, Bardet encontrou a liberdade que procurava. "Spekenbrink
disse-lhe simplesmente: 'Não tens de ganhar. Queremos apenas ver a tua melhor
versão. No final de contas, isto é apenas ciclismo.' Bardet voltou a correr à
moda antiga, como um ciclista de ataque nato, com visão e instinto."
Essa filosofia valeu-lhe uma
vitória na sua última Volta a França, que disputou o ano passado. "No
primeiro dia da sua décima primeira e derradeira participação na Volta a
França, Bardet concretizou um sonho antigo. Foi para a fuga com o jovem Frank
van den Broek, que lhe ofereceu a vitória e com ela, a tão desejada Camisola
Amarela."
Posteriormente Bardet
confessaria ao L'Équipe que nunca se sentiu verdadeiramente como um ciclista
para lutar pela classificação geral. "Outro top-10 numa Grande Volta não
me traria grande satisfação."
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