Por: Ivan Silva
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
O quarto lugar de Tadej
Pogacar no contrarrelógio da quarta etapa do Critérium du Dauphiné 2025 apanhou
muitos de surpresa. Num percurso talhado para especialistas, o esloveno da UAE
Team Emirates cedeu tempo para os seus dois grandes rivais, Remco Evenepoel e
Jonas Vingegaard, alimentando especulações sobre o seu real estado de forma a
menos de um mês da Volta a França. Mas e se o desempenho abaixo do habitual não
fosse sinal de fraqueza, mas sim parte de um plano deliberado?
É essa a tese defendida por
Tom Danielson, ex-ciclista profissional norte-americano, agora analista, que
partilhou uma leitura arrojada do desempenho de Pogacar no X (antigo Twitter):
"Pogacar ficou em 4º
lugar! Como é que isso pode ter acontecido? É engraçado, se fosse outro
qualquer, diríamos que foi um bom resultado. Mas é o Pogi, e ele normalmente
ganha. Acho que ele pedalou deliberadamente a um ritmo controlado, alinhado com
o treino, sabendo que terminaria atrás do Jonas."
Danielson vai mais longe, sugerindo que Pogacar terá escondido intencionalmente o seu verdadeiro nível, precisamente porque Vingegaard está presente no Dauphiné. Evitar revelar dados relevantes sobre a sua forma pode ser, segundo ele, um movimento estratégico:
"Não vejo nenhum mundo em
que Tadej apareça três semanas antes do Tour e dê tudo por tudo, deixando
escapar uma enorme quantidade de dados sobre o seu desempenho. Se o Jonas e a
Visma centram tanto da sua preparação em torno dele, por que lhes dar essa
informação de bandeja?"
Cinco
sinais de que "Pogi" poderá ter fingido
Na sua
análise, Danielson elenca cinco indicadores que sustentam a sua teoria:
Linguagem corporal e ritmo
controlado: Segundo Danielson, Pogacar exibiu uma postura passiva, pedalou com
uma cadência mais baixa do que o habitual e não mostrou o habitual vigor nas
curvas e acelerações.
Perdas de tempo incomuns logo
no início: O tempo perdido nos primeiros 9 km, mesmo com acesso à informação
das diferenças em tempo real, revela, na visão do ex-ciclista, um esforço
demasiado estável e sem tentativas de correção.
Cadência fora do normal: A
escolha de um ritmo de pedalada mais lento desde o início seria, segundo
Danielson, mais indicativo de um ritmo de treino do que de um esforço máximo de
competição.
Um bidon cheio num
contrarrelógio? A presença de um bidon num percurso de 20 km, onde cada grama
conta, é apontada como indício de que Pogacar não estava focado na vitória, mas
sim a simular uma sessão de treino cronometrado.
Falta de declarações
pós-corrida: Ao contrário do habitual, Pogacar evitou falar com a imprensa após
a etapa. Para Danielson, isso não reflete frustração, mas sim uma forma de não
dar explicações detalhadas sobre uma estratégia deliberada.
"Historicamente, ele
sempre foi honesto nas derrotas. Desta vez, o silêncio e o comunicado da equipa
a falar em 'ritmo demasiado conservador' soam mais a confirmação do que a
desculpa."
Uma
leitura arrojada, mas plausível?
A tese de Danielson é ousada,
mas não totalmente descabida. Pogacar sempre foi um corredor inteligente, com
grande capacidade de gestão emocional e física. Num cenário onde Evenepoel
precisa de se afirmar e Vingegaard testa o regresso após lesão, não seria
descabido que o esloveno preferisse não abrir o jogo antes de Paris.
Ainda assim, há quem sublinhe
que Pogacar raramente abdica de competir ao mais alto nível, mesmo em corridas
secundárias. A própria UAE já confirmou que o esloveno seguiu um "ritmo
controlado", sugerindo que o foco está claramente em julho, e não em
junho.
Jogos
mentais... ou uma fraqueza pontual?
A etapa 5 pode ser de
transição, mas o fim de semana montanhoso revelará mais sobre o verdadeiro
estado de forma de Pogacar. Se voltar a ser dominante nas subidas, Danielson
poderá ver a sua teoria ganhar força. Caso contrário, a dúvida sobre um
possível desgaste após uma primavera extenuante também ganhará terreno.
O certo é que, em ano de duelo
a três com Vingegaard e Evenepoel, cada gesto, pedalada e escolha estratégica
será amplamente escrutinada. E se há alguém capaz de controlar o enredo antes
do grande palco, é Tadej Pogacar.
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