Texto:
Ana Marques Gonçalves
Foto:
Nuno Veiga LUSA
Awet
Andemeskel arriscou o futuro como ciclista quando fugiu da Eritreia, mas hoje,
depois de ter vivido dois anos como ilegal na Suécia, está a cumprir o sonho de
uma vida, que espera que termine no WorldTour.
“Sou
um refugiado. Sou da Eritreia, mas agora vivo na Suécia. Quando fui correr os
Mundiais com a minha seleção, em Itália [Florença], em 2013, fugi. Fui para a
Suécia e, durante dois anos, não peguei numa bicicleta. Não tinha documentos,
não tinha trabalho, não tinha dinheiro. A vida era muito dura. Não consegui
arranjar emprego, não tinha nada, nada. Vivia com um amigo, que me deu abrigo”,
contou à agência Lusa o corredor da Kuwait-Cartucho.es.
Nascido
a 05 de fevereiro de 1992 em Kakebda, na Eritrea, como mais velho de nove
irmãos, Awet Andemeskel não tem pudor em falar das suas origens humildes no
seio de uma família de agricultores, que chegou a passar fome e a sobreviver
sem água corrente, mas que, sem querer, lhe traçou o destino.
“Desde
a minha casa até à escola eram 15 quilómetros. Todos os dias pedalava para a
frente e para trás. Depois comecei a participar em corridas na cidade e percebi
que podia ser ciclista, porque comecei a ganhar logo no primeiro dia na minha
categoria. Pensei “afinal, sou bom”. Fiz dois anos de BTT e algumas grandes
equipas contactaram-me. Juntei-me à Debub (2009) e depois à seleção nacional,
que representei durante três anos”, recordou.
Foi
precisamente numa das suas aventuras com a equipa do seu país que Andemeskel
decidiu fugir. “Tive problemas com o visto para competir na Europa e também
complicações relacionadas com a política. Não quero falar sobre isso.
Simplesmente, chegava para mim. Agora estou feliz e faço o que quero”,
explicou.
Nos
dois penosos anos que passou na Suécia, país que escolheu para pedir asilo, e
que, no seu elaborado site, descreve como os piores da sua vida, nunca pensou
abandonar o ciclismo. Assim que se tornou um sueco legal, recomeçou a treinar
no ginásio, até aparecer a oportunidade da equipa de refugiados Ner Group-Marco
Polo (2015).
“Não
desisti do ciclismo, porque gosto demasiado desta modalidade. Era o meu sonho
e, neste momento, estou a vivê-lo. Estou feliz. Voltei ao ciclismo depois de
dois anos de paragem. Depois, quando a equipa de refugiados me deu uma
oportunidade, percebi que era uma boa chance para mim e usei-a. A primeira
época depois do regresso foi muito complicada, mas no ano passado encontrei a
Kuwait-Cartucho.es, que ainda era amadora. Treinei bem e ganhei um lugar na
equipa continental. Agora, tenho boas condições e espero poder mostrar-me”,
assumiu.
Mas
o refugiado sueco, que cresceu a admirar o luxemburguês Andy Schleck, vencedor
do Tour2010, e agora torce pelo colombiano Nairo Quintana, não quer apenas
competir, quer ter resultados para chegar ao WorldTour.
“Todos
os meus amigos, com a minha idade, estão lá. Corri com eles e, um dia ganhavam
eles, outros dias eu. Espero que possa chegar à elite”, confessou à Lusa o
ciclista de 25 anos.
Fonte:
Sapo on-line
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