O
ciclista espanhol Gustavo Veloso (W52-FC Porto) confessou à Lusa que, da “dura”
Volta a Portugal de 2016, guarda recordações de dias de tensão, extravasada em
declarações “mal interpretadas”, e a lição de não poder mostrar os seus
sentimentos.
Passaram
quase 365 dias desde que Gustavo Veloso perdeu a Volta a Portugal para o seu
companheiro Rui Vinhas. As imagens e sons daquele 07 de agosto, quente de
emoções, ainda pairam na memória de todos, especialmente na do bicampeão
derrotado, que no regresso a Lisboa, cidade que o consagrou como campeão em
2014 e 2015 e que consumou a sua derrota no ano passado, recordou uma edição
“dura”, muito mais a nível psicológico do que competitivo.
“Não
foi uma Volta mais difícil que outras, foi diferente. Em 2013, perdi para um
colega de equipa [Alejandro Marque] por quatro segundos, mas era a primeira
Volta. Não havia o favoritismo que eu tinha no ano passado. Eram circunstâncias
diferentes”, distinguiu o galego em entrevista à agência Lusa.
As
circunstâncias de que o líder da W52-FC Porto, de 37 anos, fala prenderam-se
com a rivalidade que muitos tentaram incentivar entre si e o seu colega
português, que viria a ficar à sua frente na geral, depois de fugir para a
amarela na terceira etapa.
“No
momento em que o Vinhas ganhou a camisola amarela, todas as perguntas dos
jornalistas eram orientadas para uma hipotética disputa entre os dois. Parece
que a Volta éramos só nós. Desde esse ponto de vista, foi uma Volta dura.
Chegou um momento em que eu já estava farto de responder sempre às mesmas
perguntas”, lembrou.
À
distância de um ano, o experiente espanhol reconhece que as polémicas
declarações que proferiu no último dia, quando, no calor do momento, argumentou
que tinha sido ele o mais forte na estrada, traduziram o turbilhão de emoções e
tensão acumulados durante a competição.
“Fui
um bocado mal interpretado. Naquela situação, as pessoas só conseguiram ver
aquelas declarações e esqueceram-se dos dez dias antes. Com essa pressão, com
os jornalistas sempre a perguntar sobre a rivalidade… foi um momento em que eu,
depois de cruzar a linha de meta, senti que tinha tirado uma mochila cheia de
pedras. Estive pressionado durante toda a Volta. O líder era o Vinhas e a
pressão continuava toda a cair em mim. Estavam constantemente a perguntar-me se
ia atacar o Vinhas, quando eu ia na roda dos adversários, para servir como
travão para ele não perder tempo. Foram umas declarações que fiz, que era o
mais forte e que nem sempre quem ganhava era o mais forte… penso que não disse
nada que não fosse verdade”, defendeu-se o líder ‘dragão’.
Veloso
garantiu, no entanto, que em nenhum momento pretendeu retirar mérito ao feito
do seu colega e que, horas mais tarde, superado o “choque emocional” que sentiu
quando concluiu o contrarrelógio, celebrou o triunfo do pequeno trepador
português como se fosse seu na tradicional festa do Sobrado, localidade sede da
W52-FC Porto.
“Naquela
altura, tinha os sentimentos à flor da pele. As pessoas não repararam, mas as
lágrimas caíam, quando tinha o capacete do ‘crono’ ainda posto. Houve um
pequeno detalhe, que ninguém viu: eu tinha auricular, por isso, cortei a meta a
saber que não ganhava a Volta. E esperei pelo Vinhas para o felicitar. Podia
ter-me ido embora”, revelou.
Por
isso, desenganem-se aqueles que esperam ver cisões na formação portista na 79.ª
Volta a Portugal, que arrancou hoje com um prólogo em Lisboa, e termina a 15 de
agosto, com um contrarrelógio em Viseu.
“Nós
sabemos que, nestes últimos quatro anos, a nossa arma mais potente em relação
aos outros foi a união. Mesmo no ano passado, isso ficou demonstrado. Por muito
que as pessoas pudessem especular, na estrada demonstrámos que éramos uma
equipa unida e que nos respeitávamos. Este ano, tanto eu como o Vinhas podíamos
ter ido para outras equipas, talvez até com melhores condições. Se ficámos
aqui, é porque estamos à vontade. Mau ambiente não há”, realçou.
Visivelmente
mais zen do que nas edições anteriores, o favorito número um ao triunfo nesta
Volta a Portugal não nega que as agruras de 2016 também se traduziram em
ensinamentos.
“Aprendi
[hesita, demora uns segundos e suspira]… não sei o que aprendi. Se calhar,
coisas que já sabia… que, às vezes, não se pode mostrar muito os sentimentos”,
resumiu.
Fonte:
Sapo on-line
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