Entrevista a
Nairo Quintana, ciclista colombiano da Team Arkéa Samsic, ao programa “La
Montonera” do Eurosport Espanha.
Por: Vasco Simões
Eurosport - Como é que viveste este período de confinamento em
casa?
Nairo Quintana
- “Da melhor maneira possível. Desde a última vitória na etapa da Paris – Nice
tenho treinado todos os dias no simulador, à espera que toda esta situação
acabe e estabilize para voltarmos à estrada.”
Tu estiveste no grupo de ciclistas que pôde treinar ao ar livre
antes de 25 de maio, certo?
“Sim, alguns de
nós já pudemos começar com o protocolo necessário para voltar, mas falta ainda
a aprovação de mais dois ministérios indispensáveis para podermos sair. Há um
processo em marcha, mas estamos à espera e oxalá no final desta semana possamos
já estar na estrada.”
Preferes o treino ‘indoor’ ou ao ar livre?
“Confesso que
nunca tinha tido tanto tempo para treinar num simulador como em dias de chuva
ou em aquecimentos para um contrarrelógio. Quando vivi em Pamplona, por causa
das condições climatéricas, é verdade que trabalhava mais no simulador,
sobretudo se estava demasiado frio. Mas não era mais de três dias e praticamente
uma hora por jornada. Apesar de ter benefícios por continuar a pedalar, quando
não podemos sair ficamos ansiosos, por isso espero que a autorização chegue e
possamos sair de novo à rua para treinar.”
Em 2020 estavas a viver um dos melhores arranques de temporada
da tua carreira?
“Estávamos no
bom caminho. A preparação foi a mesma de outras ocasiões com um treinador que
já me acompanha há uns anos. Mudar de ares e novas motivações influenciam a
competir de outra maneira, porque a bicicleta é a mesma tal como outros
elementos.”
A adaptação à equipa foi rápida? Há um novo ambiente?
“Foi uma
mistura de um pouco de tudo. Quando chegas a um sítio novo, queres sempre fazer
as coisas da melhor maneira possível. Para além disso, toda a gente está
empenhada em ajudar por isso o mais simples é cumprir os objetivos tal como
foram delineados no início da temporada.”
Quais são os teus objetivos quando a competição regressar?
“O objetivo
principal é a Volta a França. Mais ainda estando numa equipa francesa. Antes do
Tour vamos participar em duas provas, que ainda não decidimos quais poderão
ser. Depois da Volta a França, vou competir nas Ardenas. Espero que a temporada
acabe da melhor maneira possível e que para a seguinte se recupere alguma
normalidade.”
Como encaras a incerteza sobre o estado de forma do pelotão
antes do arranque do Tour?
“O estado de
forma em que vamos chegar é realmente uma incógnita. Até mesmo o resultado
final da corrida será particular. No final de contas tens colegas que treinam
cinco horas enquanto tens treinadores a dizer para não treinar mais de três
horas, já para não falar do debate sobre se é melhor treinar de manhã ou de
tarde... Nem todos treinamos o mesmo tempo nem da mesma maneira e isso acaba
sempre por ter influência. Temos menos tempo de preparação e em corridas como o
Tour, que são muito compridas, só saberemos como é que o corpo vai reagir na
última semana se tivermos tido alguma carga de treino importante, porque
precisamos muito de aguentar essa carga.”
Como vai ser o regresso à competição depois da paragem?
“Os dados que
temos destes simuladores e ferramentas digitais durante o confinamento
demonstram que estamos bem, mas como dizem muitos colegas, não é a mesma coisa
do que quando sais à rua e treinas em estrada. Na Europa, alguns colegas já
puderam começar a treinar ao ar livre, e é esse ‘bichinho’ que todos sentimos,
de saber quando será a nossa vez de poder sair para pedalar.”
É preciso ter alguma força mental para aguentar esta situação?
“Não é fácil
gerir esta situação. Há pessoas que têm problemas e que podem entrar em
depressão ou em estados de animo negativos. A equipa dá-nos apoio em todos os
sentidos, e o mental é muito importante. Estamos em contacto constante para nos
mantermos sempre animados e ativos.”
Que memórias tens do Giro d’Italia 2014?
“Dessa corrida
guardo na minha memória muita alegria e emoção. Cada vez que tenho a
oportunidade de ver etapas dessa edição até fico arrepiado ao recordar esses
momentos tão bonitos. São recordações que queres ter sempre e usar como
motivação para continuar a competir.”
Como está a ser o desenvolvimento da equipa em torno do líder?
Tivemos
concentrações em Calpe e alguns treinos nos Alpes nos primeiros meses do ano.
Pouco a pouco, nesses momentos, vai ficando claro o papel de cada um em função
das necessidades existentes. Esta é uma equipa muito jovem, com um grande
futuro pela frente e este é o momento de partilhar conselhos e dirigir todos
estes ciclistas. Temos um bom diretor, sabemos como temos de trabalhar e que
equipas escolher em função das corridas. Todos os colegas têm um nível elevado
de qualidade e motivação.”
Como foi chegar a uma equipa nova?
“Já tinham
passado uns anos e precisava de uma mudança de ares sem polémicas nem guerras,
que são coisas que odeio. Encontrei um sítio onde estou confortável e onde
quero continuar a crescer. Faço o que gosto e só quero desfrutar do ciclismo.”
Achas que os desentendimentos e brigas do passado tiveram
influência no teu rendimento?
“Se não estou
bem num sítio é muito difícil continuar. Se o ‘feeling’ e a alegria acabam
significa que alguma coisa tem de mudar. Sempre me trataram bem na Movistar e
vivi bons momentos, mas chegou o momento de partir ainda que com muita mágoa e
começar um novo caminho.”
Tens um desejo?
“É uma situação
muito preocupante. O meu desejo é que se reativem as competições porque sem
corridas, há muita gente no ciclismo que vai passar grandes dificuldades. Neste
momento já existem equipas e ciclistas a passar dificuldades económicas e,
claro, vamos ter cortes de orçamento nas equipas, tal como já vimos no último
mês. Espero que depois desta pandemia tudo se acalme e recomece, ainda que sem
público.”
Vídeo disponível no link abaixo:
Fonte:
Discovery Networks
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