“Eu tinha receio de dizer que não tinha feito [a reintrodução de sangue], porque podia não ser convocado”, declarou, em tribunal.
O ciclista Daniel Mestre admitiu,
esta sexta-feira, em tribunal a realização de transfusões sanguíneas,
revelando, no entanto, que mentia ao então diretor desportivo da W52-FC Porto,
Nuno Ribeiro, sobre a frequência das mesmas por receio de não ser convocado.
Daniel Mestre, que confessou
ter-se dopado e praticado reintrodução de sangue no ano de 2021, admitiu que “dizia que fazia e não chegava a fazer”,
em dadas ocasiões, “não com medo de nada”, mas por sua própria decisão,
referindo mais tarde o receio de ficar de fora.
“Eu
próprio fazia e sentia medo de fazer a mim próprio, tirar o sangue e colocar. O
risco que corria. (...) Não sentia grande rendimento desportivo, para ser
sincero. Para a saúde, era das coisas mais prejudiciais que havia. Eu próprio
sentia que não devia fazer e dizia que tinha feito”,
contou.
Sem ficar claro se se referia
apenas às transfusões ou também às doses de produtos dopantes que confessou
tomar, explicou mais tarde, questionado por um dos advogados do processo, que
sentia “receio de dizer que não tomava e não
ser convocado para as corridas”, mas nunca foi “obrigado”.
Ouvido pouco antes - depois de
durante a manhã Samuel Caldeira e Ricardo Mestre também terem confessado,
Ricardo Vilela seguiu o mesmo caminho, confirmando igualmente a reintrodução de
sangue e admitindo o uso de substâncias dopantes, em 2021, para aumentar o
rendimento.
Sobre isso, falava com o
diretor desportivo e outro colega e arguido, Rui Vinhas, mas só “trocavam ideias”, uma das expressões mais
utilizadas pelos arguidos que decidiram, desde quinta-feira, prestar
declarações.
A entrega de sacos com o
próprio sangue, para serem guardados pela equipa até voltar a eles, foi outro
dos temas do interrogatório, assim como as substâncias administradas, como
menopur, TB 500, betametasona e hormona de crescimento.
Os ciclistas mostraram-se
ainda arrependidos, à semelhança dos outros que foram já ouvidos no pavilhão
anexo ao Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira, distrito do Porto, em
que decorre o julgamento desde quinta-feira.
Daniel Freitas, que correu na
equipa W52-FC Porto entre 2016 e 2018 e no período de investigação corria na
Rádio Popular-Boavista, foi o último dos ciclistas a prestar declarações,
confessando também o uso de doping “no final
de 2021, inícios de 2022”, além da reintrodução de sangue.
Além de “assumir os factos”, arrependido, explicou
que se dopava “sem ser em competição”,
afirmando não se recordar de falar sobre esta prática com Rui Vinhas ou Nuno
Ribeiro, apesar de no processo constarem contactos entre eles, em 2021.
No julgamento que arrancou
quinta-feira, todos os 26 arguidos respondem pelo crime de tráfico de
substâncias e métodos proibidos, mas apenas 14 deles respondem pelo de
administração de substância e métodos proibidos, terminando hoje a audiência
dos 10 arguidos que manifestaram intenção de se pronunciarem.
A próxima
sessão está agendada para 08 de março
A Autoridade Antidopagem de
Portugal (ADoP) sancionou os ciclistas presentes, à exceção de Jorge Magalhães,
cujo processo ainda decorre na instância desportiva. Todos cumprem sanções por
dopagem, com sete deles - Rodrigues, Vinhas, Ricardo e Daniel Mestre, Caldeira,
Neves e Vilela – com pena reduzida por terem reconhecido a culpa.
Foram já ouvidos os ciclistas
João Rodrigues, Samuel Caldeira, Rui Vinhas, Daniel Mestre, Ricardo Vilela,
Ricardo Mestre, Daniel Freitas e ainda outros três arguidos, a técnica de
farmácia Carina Lourenço, cunhada de Caldeira, o primo de Vilela Marco Paulo
Vilela Magalhães e Rui Sousa.
Fonte: Sapo on-line
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