O corredor da Jumbo-Visma esperou por Pogacar, quando o ainda bicampeão da prova francesa caiu na descida do Col de Spandelles, e ‘derrotou-o’ na subida final
Por: Lusa
Jonas Vingegaard viu hoje o
seu ‘fair play’ premiado com um triunfo no Hautacam, onde o
dinamarquês comprovou ser o ciclista mais forte da 109.ª Volta a França, ao
distanciar, talvez definitivamente, o bicampeão Tadej Pogacar.
No adeus à montanha, o
discreto dinamarquês demonstrou que o desportivismo compensa e que será um
digno vencedor deste Tour: o corredor da Jumbo-Visma esperou por Pogacar,
quando o ainda bicampeão da prova francesa caiu na descida do Col de
Spandelles, e ‘derrotou-o’ na subida final, já depois de o esloveno da UAE
Emirates ter descolado por culpa da passada do extraordinário camisola verde
Wout van Aert, que andou em fuga praticamente toda a jornada e ainda foi
terceiro no alto do Hautacam.
“É
incrível. Hoje de manhã, disse à minha namorada e à minha filha que queria
ganhar por elas e consegui”, disse Vingegaard, depois de
ter conquistado, na 18.ª etapa, a sua segunda vitória na Volta a França e ter
ampliado para 3.26 minutos a diferença na geral para ‘Pogi’, hoje segundo a mais de um minuto.
A apenas duas jornadas da
etapa de consagração, e com o contrarrelógio de sábado como o derradeiro teste
à liderança do corredor da Jumbo-Visma, o duelo entre os dois parece
definitivamente sentenciado, com o próprio segundo classificado a reconhecer a
derrota e o fracasso no assalto à terceira amarela consecutiva nos Campos
Elísios.
“Penso
que sim... mas ainda há uma etapa que posso tentar ganhar. Darei tudo. Até
Paris, faltam três dias”, respondeu Pogacar, ao ser
questionado se tinha perdido o Tour hoje.
A derradeira jornada nos
Pirenéus e nas montanhas deste Tour apresentava duas contagens de categoria
especial ao longo dos 143,2 quilómetros entre Lourdes e o alto do Hautacam, a
última das quais precisamente na meta, um ‘menu’ atrativo para aqueles que
ainda sonhavam com um triunfo em etapa na 109.ª edição.
Embora Van Aert tenha atacado
assim que a partida real foi dada, a fuga só ganhou contornos no sopé do
Aubisque: quando faltavam mais de 80 quilómetros para percorrer, ‘isolaram-se’ 32
ciclistas, perseguidos por outros 15, que foram sendo ‘engolidos’ pelos
16,4 quilómetros de ascensão da lendária montanha.
Entre os 22 fugitivos que
‘sobreviveram’ à primeira contagem da jornada havia candidatos ao ‘top 10’,
como Enric Mas (Movistar) ou Alexey Lutsenko (Astana), trepadores, como
Valentin Madouas e Thibaut Pinot (Groupama-FDJ) e Daniel Martínez (INEOS), e
combativos, como Dylan Teuns (Bahrain Victorious), Giulio Ciccone
(Trek-Segafredo), Michael Woods (Israel-Premier Tech) ou Rigoberto Urán (EF
Education-EasyPost), além, claro, do camisola verde.
Foi no Col de Spandelles,
classificado como de primeira categoria, que o grupo da dianteira se separou e
Mas quebrou, sucumbindo ao ritmo imposto por ‘WVA’ e comprometendo o seu lugar
no ‘top 10 - haveria de cair para a 11.ª posição no final da tirada.
Depois do ‘show’ dado
pela UAE Emirates na véspera, hoje o duelo entre Vingegaard e Pogacar esteve
momentaneamente ‘adormecido’,
com os dois primeiros classificados deste Tour a limitarem-se a seguir na roda
dos seus companheiros até o esloveno atacar em Spandelles, para pronta resposta
do camisola amarela.
As movimentações do camisola
branca continuaram nos 10,3 quilómetros da contagem de primeira categoria, mas
o ainda bicampeão em título do Tour nunca conseguiu distanciar o dinamarquês,
facto aproveitado por Geraint Thomas (INEOS), o terceiro da geral, para,
finalmente, tentar surpreender os ‘miúdos’ – só o conseguiu durante umas
dezenas de metros.
Ao contrário do que se
esperava, não foi a subir, mas a descer, que a Volta a França quase ficou
decidida: primeiro, foi Vingegaard a esquivar por muito pouco uma queda, depois
de o pedal lhe saltar, e, depois, foi mesmo ‘Pogi’ a cair, ao ‘deslizar’ na gravilha num dos mais belos momentos desta
edição, o dinamarquês parou para esperar pelo seu adversário, que reconheceu o
gesto de ‘fair play’ com um aperto de mão.
Enquanto na frente Van Aert,
Pinot e Martínez começavam a escalar os 13,6 quilómetros até ao topo do
Hautacam com dois minutos de vantagem, mais atrás os dois primeiros da geral
recebiam a companhia de Thomas, além de Sepp Kuss (Jumbo-Visma) e de Louis
Meintjes (Intermarché-Wanty-Gobert), que andou toda a jornada na perseguição à
fuga, sem nunca a alcançar, e acabou rapidamente ‘descartado’ pelo grupo do
camisola amarela – subiu, contudo, ao sexto lugar na classificação.
Uma das perguntas mais
recorrentes nos últimos dias no mundo velocipédico foi ‘o que é que Van Aert não consegue fazer?’ e
o belga voltou hoje a expandir os seus limites, atacando no Hautacam para
‘eliminar’ os seus dois companheiros de fuga, antes de unir-se às outras duas
grandes figuras da 109.ª edição para protagonizarem aquela que será uma das
imagens memoráveis desta ‘Grande Boucle’.
‘WVA’ voltou a acelerar e deixou ‘pregado’ ao
chão Pogacar, (definitivamente) afastado da luta pela amarela, abrindo caminho
para o triunfo do seu líder, consumado com um ataque a mais de três quilómetros
da meta.
Vingegaard ganhou, com o tempo
de 3:59.50 horas, Pogacar foi segundo, a 1.04 minutos, e Van Aert terceiro, a
2.10, com Thomas a ser o primeiro dos ‘outros’ no quarto lugar, dando também ele um passo
decisivo para regressar, depois de dois anos de ausência, ao pódio final.
Só uma hecatombe impediria o
galês de 36 anos, campeão em 2018 e ‘vice’ no ano seguinte, de ‘experimentar’
o único degrau que lhe falta no Tour: embora esteja a oito minutos da
camisola amarela, tem o francês David Gaudu (Groupama-FDJ), o quarto
classificado, a mais de três minutos, e o colombiano Nairo Quintana (Arkéa
Samsic) a mais de cinco, sendo que ambos são contrarrelogistas medíocres.
Já Nelson Oliveira (Movistar),
despediu-se das montanhas com o 46.º lugar na etapa e vai partir, na
sexta-feira, para os 188,3 quilómetros, maioritariamente planos, entre
Castelnau-Magnoac e Cahors, na 55.ª posição da geral.
Fonte: Sapo on-line
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