A pandemia da COVID-19 privou o pelotão do convívio e bulício pré-etapas
A pandemia de covid-19 privou
o pelotão do convívio e bulício pré-etapas, mas (quase) todos estão conformados
com o preço a pagar para que a edição especial da Volta a Portugal em bicicleta
esteja na estrada até segunda-feira.
Quem conhece a Volta a
Portugal por dentro, estranha a nova realidade, a ausência do convívio, das
caras familiares, dos momentos e sorrisos partilhados entre cafés, em que as
rivalidades ‘caem’ e os adversários se distendem em longas conversas, alheios
às cores que têm vestidas.
Nesta edição especial, essas
imagens idílicas foram substituídas por rostos tapados, distanciamento social e
‘baias’ de segurança que separam, dentro do possível, a zona 0, o epicentro da
‘bolha’ onde só entra quem ‘passou’, sem positivo, no teste de deteção ao novo
coronavírus, e supera, diariamente, o controlo de temperatura, e a zona 1, onde
estão os outros elementos considerados ‘não essenciais à corrida’.
Os contactos são limitados,
sempre de máscara, que só pode ser retirada para beber o tal café, um ritual de
que 80% do pelotão prescindiu, em nome do bem-estar geral.
“Claro que o café é sempre um
momento de descontração antes da partida. Agora, o falar, continuamos a
fazê-lo... Podemos falar com os adversários, porque estão testados e
controlados como nós estamos. Mas também temos de passar [a imagem de
distanciamento] para aquela pessoa que está mais longe a ver não dizer ‘nós não
podemos ir lá, mas afinal eles estão todos juntos’”, destacou João Benta.
À agência Lusa, o ciclista da
Rádio Popular-Boavista, um daqueles que nunca abdicava da convivência matinal,
assumiu que agora o tempo antes das etapas custa mais a passar: “Não poder
estar com quem nós gostamos, com a família, os amigos mais próximos e,
logicamente, com a família do ciclismo, tem sido um pouco frustrante para nós.
Mas temos de aceitar essa situação e o importante é estarmos na competição.”
A mesma premissa é defendida
por Hêrnani Broco, para quem esta edição especial é “atípica”, num ano “muito
atípico”.
“A falta de convívio é um
preço alto a pagar, é uma edição que custa, custou imenso a todos nós, devido
às incertezas até à última hora, ao avançar e recuar. Foi desgastante para
todos. Psicologicamente, está a ser um ano difícil, mas pronto, a Volta está na
estrada, e esperemos que esses esforços se consigam manter para derrotarmos a
covid-19”, salientou à Lusa.
O diretor desportivo da LA
Alumínios-LA Sports sente a falta do público, numa “modalidade que é do povo”,
e também do convívio entre equipas e patrocinadores.
“Sentimos a ausência deles,
porque muitas vezes eles iam dentro da caravana, nos carros. Hoje em dia não se
pode fazer, mas temos de dar a volta a esta situação”, acrescentou, indicando
que os seus ciclistas “encaixaram bastante bem” as regras previstas no
protocolo sanitário da Volta a Portugal.
Menos conformado está Tiago
Machado, que não compreende as disparidades existentes entre as obrigações
impostas à sua modalidade e ao cidadão comum.
“Estamos a ser mais papistas
do que o papa. Acho que não há necessidade disto, já que temos tudo e mais
alguma coisa aberto, como os shoppings, as praias – no verão, estava tudo ao
molho. Não entendo haver tanta burocracia para pôr a corrida na estrada”,
notou.
Embora tenha ressalvado que as
normas da Direção-Geral da Saúde são para cumprir, o ciclista da Efapel disse
ter pena por só os profissionais do desporto estarem sujeitos a medidas tão
rigorosas.
“Se são esses sacrifícios que
temos de fazer para que haja ciclismo profissional na estrada, vamos fazê-los.
E para o ano, esperemos que já esteja tudo normal”, referiu, confessando sentir
“falta do carinho dos espetadores”.
Fonte: Sapo on-line
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