O Grand Colombier testemunhou hoje o fim de uma era na Volta a França em bicicleta, com o descalabro de Egan Bernal a significar o ocaso da INEOS, que passou o testemunho à Jumbo-Visma e aos eslovenos.
As fragilidades da equipa
britânica, que venceu sete das últimas oito edições do Tour, e do ainda campeão
em título eram um segredo mal escondido e, hoje, na inédita chegada ao Grand
Colombier, onde o esloveno Tadej Pocagar (UAE Emirates) bateu o camisola
amarela e compatriota Primoz Roglic ao ‘sprint’, foram potenciadas a um nível
inimaginável pela sua sucessora, a Jumbo-Visma, que ‘afundou’ Bernal no início
da subida e conseguiu afastá-lo da luta pela geral final.
“Hoje, passei o pior dia da
minha vida em cima de uma bicicleta”, confessou o colombiano de 23 anos ao
cortar a meta, ciente de que as suas aspirações acabaram no sopé da contagem de
categoria especial - perdeu mais de 07.20 minutos para o duo de eslovenos e vai
passar o segundo dia de descanso como 13.º da geral, a 08.25 de Roglic.
Com o ‘colosso’ ameaçador
ainda lá longe, foram vários os audaciosos, entre os quais o português Nelson
Oliveira (Movistar), que tentaram integrar a fuga do dia, mas só Kévin Ledanois
(Arkéa-Samsic), Simon Geschke e Matteo Trentin (CCC), Jesús Herrada (Cofidis),
Marco Marcato (UAE Emirates), Niccolo Bonifazio (Total Direct Energie), Michael
Gogl (NTT) e Pierre Rolland (B&B Hotels-Vital Concept) conseguiram
distanciar-se do pelotão, decorridos que estavam 30 quilómetros dos 174,5 da
etapa que saiu de Lyon.
Os oito chegaram a ter 04.30
minutos de vantagem para o grupo de favoritos, uma margem que foi decaindo à
medida que a estrada inclinou e que a harmonia entre os fugitivos desapareceu,
devido a um forte ataque de Geschke na Montée de la Selle de Froment (primeira
categoria), a que só Herrada, Rolland e Gogl conseguiram responder.
O ciclista austríaco da NTT,
que até foi aquele que evidenciou mais dificuldades na primeira contagem do
dia, distanciou-se dos seus companheiros de fuga, mas acabou por ser alcançado
pelo experiente francês da B&B Hotels-Vital Concept na subida ao Col de la
Biche, com os dois a iniciarem os temíveis 17,4 quilómetros da escalada ao
Grand Colombier (com uma pendente média de inclinação de 7,1%) com efémeros
dois minutos de vantagem para o grupo do camisola amarela, sempre comandado
pela Jumbo-Visma.
O compasso fortíssimo imposto
pelo ‘esquadrão amarelo’ causou ‘moça’ entre os favoritos e eliminou Bernal: a
13 quilómetros do alto, o campeão em título ‘estourou’, num momento em que
Nairo Quintana também descolou (o colombiano da Arkéa-Samsic cedeu 03.50
minutos, caiu para nono da geral e está fora da luta pelo pódio), e, mesmo
ajudado por uma INEOS apagada, hipotecou definitivamente um lugar no pódio em
Paris – os ‘patrões’ da equipa devem estar a questionar-se se a opção de deixar
de fora Geraint Thomas, em grande destaque no Tirreno-Adriático, terá sido a melhor.
Implacáveis, os ciclistas da
equipa holandesa aceleraram para potenciar as perdas daquele que, à partida,
era o terceiro da geral e o seu maior rival, desincentivando ataques entre os
pretendentes ao ‘top 3’ da geral – Adam Yates (Mitchelton-Scott) foi o único a
tentar, a sete quilómetros da meta. No grupo dos candidatos, mais preocupados
em preservar um lugar no ‘top 10’ do que em subir posições, foi mesmo Roglic a
mexer, sendo imediatamente seguido por Pogacar.
Num ‘déjà vu’ das etapas de
alta montanha anteriores, os dois eslovenos discutiram a vitória da etapa entre
si, com o corredor da UAE Emirates a levar a melhor e o camisola amarela a ser
segundo, ambos com o registo de 04:34.13 horas. Cinco segundos depois, cortou a
meta o australiano Richie Porte (Trek-Segafredo), a cumprir a sua última época
como líder de equipa, e logo de seguida, a oito segundos, chegou Miguel Ángel
López (Astana).
Embora López tenha sido o
melhor colombiano da jornada, foi Rigoberto Úran (Education First) quem ocupou
o lugar deixado vago pelo seu compatriota Bernal, sendo agora terceiro a 01.34
minutos. Graças às bonificações da etapa, Pogacar ‘roubou’ quatro segundos a
Roglic e está a 40 segundos da amarela.
Na segunda-feira, o pelotão
cumpre o segundo dia de descanso e a última ronda de testes de deteção do novo
coronavírus, antes de, no dia seguinte, enfrentar a 16.ª etapa, uma ligação 164
quilómetros entre La Tour-du-Pin e Villard-de-Lans.
Nelson Oliveira (Movistar) vai
entrar na derradeira fase da ‘Grande Boucle’ confortavelmente instalado na 57.ª
posição da geral, a 02:08.29 horas do esloveno da Jumbo-Visma.
Fonte: Sapo on-line
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