Por: Lusa
Foto: Fernando Ferreira
A antiga triatleta
luso-francesa Anaïs Moniz sentiu-se frustrada pela ausência dos Jogos Olímpicos
Pequim2008 e Londres2012, após ter sido campeã mundial e europeia em júnior,
recuperando a serenidade na área do marketing.
"Vivo muito bem com a
ideia de não ter ido aos Jogos, apesar de ser o objetivo de qualquer atleta de
alta competição. Nada ficou por resolver e tudo isto fez de mim uma pessoa
muito apaziguada com o desporto", admitiu à agência Lusa a medalha de ouro
no Mundial de juniores de triatlo de 2005, que um ano antes tinha arrecadado o
título continental.
Lamentando ter queimado
"muitas etapas", ao cumprir apenas dois dos quatro anos na antecâmara
no escalão sénior, Anaïs Moniz sentiu desde cedo o "ritmo intenso
diário" da alta competição, condicionado pela "má gestão" de expectativas
"de tudo e todos" e pelo "foco constante no resultado",
enquanto colhia vários pódios internacionais.
"Comecei a sentir a minha
própria pressão aos 16 anos e não soube geri-la. Fui campeã do mundo no meu
primeiro ano de júnior e poucos esperavam isso. Dentro da minha cabeça também
teria de vencer nos anos seguintes e galgar até aos Jogos", partilhou.
Sem vaga para os Jogos
Olímpicos de 2008, fez um interregno no ano seguinte para concentrar esforços
no ciclismo, sagrando-se vencedora da Taça de Portugal feminina e vice-campeã
nacional de contrarrelógio, pouco antes de reviver "conflitos
interiores" como triatleta.
"Entrei em dualidade,
porque não queria treinar todos os dias e imaginava-me a trabalhar, e fiquei
desgastada. Nos últimos dois anos, recorri a um psicólogo, que foi importante
para o meu desenvolvimento pessoal e para me despedir bem da modalidade",
salientou.
Nessa fase, em que trocou o
Belenenses pelo Benfica, a atleta oriunda da cidade francesa de Besançon falhou
nova viagem aos Jogos de Londres e resolveu abandonar o triatlo em 2012, em
prol do curso de Marketing e Relações Públicas na Universidade Europeia.
"Fiz o 12.º ano e
dediquei-me só ao triatlo. A carreira de um atleta é muito curta e há que
precaver o futuro, porque ficamos sem nada quando deixamos a intensidade das
provas e existiram alturas em que estive no fundo do poço sem saber por onde
ir", confessou.
Diplomada desde 2016 e com a
vida social reativada, na sequência de "experiências espetaculares, em
sítios maravilhosos, e com outras culturas" municiadas pela carreira de
atleta, a luso-francesa voltou a jogar à bola com duas épocas na defesa do
Belenenses, que sucederam à passagem fugaz pelo Clube Futebol Benfica aos 15
anos.
Antes dos relvados, Anaïs
Moniz teve de conhecer Portugal, onde chegou em 1998, e adaptar-se às mudanças
impostas pelos negócios do pai, alimentando o "bichinho pelo
desporto", criado em solo gaulês, com a entrada na natação dos 'azuis' do
Restelo, apesar da oposição inicial dos treinadores pela "falta de
nível".
Os títulos nas piscinas
duraram cinco anos e abriram caminho à aposta firme no triatlo, seguindo as
pisadas da mãe e da irmã, fomentando um "lado mais rebelde" de forma
a ultrapassar "as bocas alheias", além da "desgraça" que
era competir menstruada.
"Ficava muito cansada,
tinha dores de cabeça e sentia-me maldisposta. Nas provas, deixava de ter
período e nem conseguia andar. Tive a minha primeira menstruação aos 18, testei
o corpo ao extremo e, às vezes, levava na cabeça dos treinadores sem que eles
percebessem isto", apontou.
A caminho dos 31 anos, a
discípula de Vanessa Fernandes é uma mulher resolvida, na medida em que adota
estratégias de marketing na empresa de engenharia eletrotécnica do pai em
Torres Vedras, coordena a escola de triatlo "Os Belenenses" em Lisboa
e desfruta da "tranquilidade" conferida pelas provas globais de trail
e swimrun.
Fonte: Record on-line
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