Carta Aberta da Federação Portuguesa de Ciclismo
Por: Delmino Pereira (Presidente da Federação
Portuguesa de Ciclismo)
A Federação Portuguesa de Ciclismo olha com
preocupação para o Plano de Recuperação e Resiliência. O documento, que poderia
ser uma oportunidade também para o desenvolvimento do desporto, é, isso sim,
uma oportunidade perdida.
A importância do desporto para o bem-estar e a
saúde das pessoas e da sociedade, para a ativação da economia e até, no caso do
ciclismo, para a defesa do ambiente e para a mobilidade ativa sustentável,
justificavam outra centralidade do setor nas prioridades do país.
Exige-se que o Estado crie condições para a
retoma do desporto, no prazo mais breve possível, compreendendo as dificuldades
acrescidas do movimento desportivo no pós-confinamento.
Quanto maior for o período de paragem, mais
difícil será trazer de volta praticantes, sobretudo jovens. Além disso, a crise
económica criará barreiras à captação de patrocinadores privados.
O investimento no desporto é altamente
reprodutivo, de forma direta e indireta. Todo o investimento no desporto gera
mais-valias económicas, pois é investido na economia, através da contratação de
serviços inerentes à realização dos eventos, à deslocação de praticantes,
equipas e atletas, e à dinamização da hotelaria. Indiretamente, a competição
desportiva motiva os adeptos, de todas as idades, à prática da atividade física
e uma modalidade como o ciclismo tem ainda a capacidade de divulgar territórios
e de captar turistas.
A necessidade de alargar o número de pessoas
ativas, em defesa da saúde e do bem-estar, e o respeito pelo direito
constitucional de acesso generalizado ao desporto deve obrigar o Estado a
investir no setor. De outro modo, corre-se o risco de aprofundar o fosso entre
aqueles que têm meios para a prática desportiva e de atividade física e os
outros, muitos mais em tempo de crise económica, que não têm meios para custear
este direito constitucional.
É, pois, urgente capacitar e dotar de meios
financeiros as entidades que terão em mãos a desafiante tarefa de reativar a
atividade desportiva. Deve ser um investimento inteligente, percebendo que o
desporto é feito de diferentes realidades. As modalidades que se praticam na via
pública, como é o caso do ciclismo, têm dificuldades acrescidas, como o
pagamento de policiamento, a contratação da montagem de estruturas itinerantes,
custos com medidas sanitárias logisticamente mais complexas por terem de ser
adaptadas à via pública.
Por outro lado, são modalidades sem receitas de
bilheteira e que não fazem impender sobre o Estado custos avultados de
construção e manutenção de infraestruturas. Ainda no caso do ciclismo, Portugal
tem todo o interesse no investimento na prática quotidiana, enquanto modo de
transporte, dado que tem uma importante fileira exportadora da indústria de
bicicletas, acessórios e componentes.
Fonte: Federação Portuguesa de Ciclismo
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