Marco Chagas considera que os
feitos de João e Ruben Guerreiro no Giro podem representar um momento de
viragem no ciclismo português
Por: LUsa
Foto: Getty Images
Marco Chagas considerou esta terça-feira
que os feitos de João Almeida e Ruben Guerreiro na Volta a Itália podem
representar um momento de viragem no ciclismo português, embora anteveja que
nem todos os novos adeptos vão fidelizar-se à modalidade.
O antigo ciclista acredita que
o quarto lugar final de João Almeida (Deceuninck-QuickStep), o melhor de sempre
de um português no Giro, e a vitória na classificação da montanha de Ruben
Guerreiro (Education First) vão, "se calhar, ser até um momento de
viragem", com a dinâmica que se criou em torno do duo a dever ser
aproveitada quer pela Federação Portuguesa de Ciclismo, quer pelas equipas e
"por todas as pessoas que trabalham no ciclismo em Portugal".
"Acho que isto mexeu
completamente: quando vejo jornais, televisões -- televisões! -, o mais
difícil... quando toda a gente vai à procura de notícias do Giro, do João, do
Ruben, que se enviam jornalistas, o que inicialmente não estava nada
previsto... eu acho que não pode voltar a ser o que era antes, acho que se vai
tirar partido disso, que o ciclismo vai beneficiar com isso", afirmou em
declarações à agência Lusa.
O quatro vezes vencedor da
Volta a Portugal, que chegou a disputar a Volta a França, não recorda nenhum
momento em que tenha havido tanta projeção da modalidade, nem no tempo de Joaquim
Agostinho. "Na nossa modalidade, e eu já posso falar de há 50 anos para
cá, eu nunca vi nada igual, mesmo sabendo que nos tempos de hoje parece mais
fácil, porque a forma como se comunica hoje não é igual", reforçou.
Reconhecendo que a prestação
do jovem de A-dos-Francos, que há muito segue e em quem depositava uma grande
expectativa, o surpreendeu -- "acho que nunca, ninguém, nem o pai, nem a
mãe, nem os diretores, nem o próprio João contariam com tanto" -, Marco
Chagas fala numa "situação única", criada por dois jovens que a
maioria das pessoas nem sabia que existiam.
"Acho que vai ficar muita
[desta 'febre'], mas alguma desaparece, porque há pessoas que não percebem nada
disto. Algumas dessas pessoas, depois de domingo, é como um balão que se
despeja e não se fala mais nisso. Agora, tenho para mim que uma grande
percentagem das pessoas que nunca tinha ouvido falar deste rapaz e que pouco ou
nada ligavam ao ciclismo vão olhar de maneira diferente. Todas as pessoas
ligadas à modalidade têm de aproveitar, porque creio que muito disto vai ficar.
A expectativa quanto ao João passa a ser muito grande, mas acho que ele é como
o algodão: não engana", vincou.
Daqui para a frente,
"nunca mais nada vai ser igual em relação ao João Almeida, tanto a nível
nacional", em que a presença de Almeida "vai ser obrigatória, um
pouco à semelhança do que tem acontecido com o Rui [Costa] no que diz respeito
às representações da seleção", mas também a nível internacional,
exemplificando com o gesto de Vincenzo Nibali, "o tipo que tem o maior
palmarés, dos poucos do mundo que ganhou as três grandes Voltas, um senhor das
bicicletas", que partilhou uma foto com o português no dia em que este
perdeu a 'maglia rosa'.
"O João conseguiu um
estatuto, um lugar, para já, dentro daquela equipa -- espero que seja aquela,
que ali está muito bem. Nunca mais vai ser a mesma coisa, a partir de agora tem
o seu estatuto, ninguém lhe toca. É ele e mais seis ou sete colegas. Criou uma
personagem que nunca mais ninguém o tira dali. O João tem 22 anos, se não tiver
nenhum problema físico que o afete, vai ter 10 anos para brilhar ao mais alto
nível. E nós vamos ter muitas alegrias e muito roer de unhas como tivemos
nestes dias por causa dele", previu.
O também comentador de
ciclismo encontra na personalidade e no comportamento aguerrido do ciclista da
Deceuninck-QuickStep duas das maiores razões para o 'miúdo' ter cativado todo o
país
"A gente olha para aquele
menino, que é um menino, mas é um menino com um ar sério, ou seja, um ar de
entrega, de um miúdo que está ali a fazer um trabalho de uma forma muito clara,
um trabalho bem feito, e quando chega a hora da verdade, ele, em vez de se
encolher, como faria a maioria, estava ali e marcava presença. Dizia 'estou
aqui para o que calhar'. As pessoas gostam muito de ver, aquele ar dele, a
postura, o facto de, na véspera do Stelvio, arrancar e fazer a diferença, não é
para qualquer um. A maioria daquela gente, mesmo com 10 anos de profissional,
chegavam ali e deixavam-se estar muito quietinhos", destacou.
Chagas não tem dúvidas de que
João Almeida irá ser "um dos grandes corredores do Mundo" e a próxima
"grande figura" do ciclismo português "nos próximos anos".
Fonte: Record on-line
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