segunda-feira, 14 de novembro de 2016

“Thomas Dekker: «Usávamos cortisona todos os dias»”

Ex-ciclista explica a forma como a Rabobank recorria ao doping em 2007

Por: José Angélico

Foto: EPA

Depois de, em 2013, ter recusado comentar o facto de o compatriota e ex-companheiro de equipa Michael Boogerd ter admitido o recurso ao doping ao longo de uma década, o holandês Thomas Dekker pensa agora de forma diferente. O antigo ciclista, de 32 anos, que foi suspenso em 2010 devido ao uso de EPO, confessa em livro que o doping era "uma forma de vida na Rabobank", equipa na qual se estreou como profissional e onde acompanhou o fim da carreira de Boogerd.
"Thomas Dekker, Mijn Gevecht [Minha Luta]" é o título da obra assinada pelo jornalista holandês Thijs Zonneveld e na qual o ex-ciclista revela os sórdidos detalhes das práticas ilegais da equipa holandesa, às quais recorria de forma sistemática. Num excerto do livro publicado pelo jornal 'Algemeen Dagblad', Dekker afirma que Boogerd - foram companheiros de quarto no Tour de 2007 - lhe explicou como usar plasma de sangue humano e a obter EPO, que teria injetado oito vezes ao longo da Volta a França desse ano.

O holandês revela ainda como a equipa contornava as normas da UCI contra as substâncias interditas através do recurso às isenções para uso terapêutico (TCE). "Usávamos cortisona todos os dias. O nome do produto é Diprofos. Tínhamos um certificado médico. Nem sabia para o que servia, era uma fraude. Com a cortisona podíamos arriscar mais na corrida. E, além disso, sentia-me bem, com 68 kg para 1,88 metros. Nunca tinha estado tão magro antes", revela Thomas Dekker, que tinha então, em 2007, apenas 22 anos, e fazia a sua estreia no Tour (para Boogerd foi o seu último).
Mas o ex-ciclista vai ainda mais longe nas descrições do que aconteceu nessa Volta a França. "A partida é em Londres e nós chegamos uma semana antes. Na quinta-feira antes do arranque do Tour a UCI faz um teste. O meu hematócrito é 45, o do Michael (Boogerd) é 50. Ele está mesmo no limite, em risco. Um ponto mais e ele falha o teste antidoping. Os médicos da equipa propõem que todas as manhãs, às 6h00, antes que os controladores cheguem, introduza um infusão de água no seu corpo. Isso baixa-nos o hematócrito dois ou três pontos", explica.
Rabobank iniciou o Tour com Dekker, Michael Boogerd, Denis Menchov, Óscar Freire, Pieter Weening, Juan Antonio Flecha, Grischa Niermann e Bram de Groot, mas foi o dinamarquês Michael Rasmussen quem assumiu o maior protagonismo como líder da equipa para a classificação geral, antes de ser afastado pela própria equipa, após a 16.ª etapa, quando liderava a prova, alegadamente por ter mentido à UCI quanto aos locais onde estava ao longo desse ano - as regras exigem que o organismo seja informado para poder efetuar eventuais testes antidoping.
"Não sabíamos que ele tinha mentido sobre onde tinha estado ou que ele estava cheio de doping até ao pescoço, embora suspeitássemos. Não sabíamos que os médicos da equipa lhe deram injeções de Dynepo [EPO] do nosso stock, embora o soubéssemos depois desse Tour. Rasmussen parecia bem, era muito bom. Na primeira etapa de real montanha ele fugiu quando faltavam 60 km para o final. Só o voltamos a ver na chegada a Tignes, de camisola amarela", lembrou Dekker sobre o dinamarquês que acabaria por ser expulso.

Fonte: Record on-line

Sem comentários:

Enviar um comentário

Ficha Técnica

  • Titulo: Revista Notícias do Pedal
  • Diretor: José Manuel Cunha Morais
  • Subdiretor: Helena Ricardo Morais
  • Periodicidade: Diária
  • Registado: Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº: 125457
  • Proprietário e Editor: José Manuel Cunha Morais
  • Morada: Rua do Meirinha, 6 Mogos, 2625-608 Vialonga
  • Redacção: José Morais
  • Fotografia e Vídeo: José Morais, Helena Morais
  • Assistência direção, área informática: Hugo Morais
  • Sede de Redacção: Rua do Meirinha, 6 Mogos, 2625-608 Vialonga
  • Contactos: Telefone / Fax: 219525458 - Email: josemanuelmorais@sapo.pt noticiasdopedal@gmail.com - geral.revistanoticiasdopedal.com