O ciclista espanhol admitiu querer deixar “o sorriso” como maior legado, a atenção à crise climática e ao papel da bicicleta nessa questão
Por: Lusa
O espanhol Luis Angel Maté
(Euskaltel-Euskadi) vai terminar a carreira este ano, aos 40 anos, dizendo em
entrevista à Lusa querer deixar “o sorriso” como maior legado, atento à crise
climática e ao papel da bicicleta nessa questão.
O mais sorridente dos 119
ciclistas que alinharam à partida na 85.ª Volta a Portugal, mesmo antes de
vencer, na Guarda, pelo segundo ano seguido, e de vestir a camisola de líder da
montanha, Maté distribui simpatia na partida, na estrada e na chegada.
O sorriso constante, de resto,
é uma imagem de marca que muitos comentam, seja no café antes de arrancarem ou
após o pódio, e, questionado pela Lusa, explica que este é extensão natural de
como se sente a correr.
“Temos o melhor trabalho do
mundo, que é montar na bicicleta e atravessar sítios maravilhosos, como
Portugal, conhecer gente de todo o lado. É bom para a saúde e para o meio
ambiente. É só vantagens”, afirma.
Maté nasceu em Marbella e aí
embarcou numa carreira que o levou a correr 11 vezes a Volta a Espanha e outras
seis a Volta a França, ocupando o verão em fugas, no trabalho em prol de
companheiros de equipa e na consciencialização de companheiros.
Aos anos passados na Cofidis,
principal equipa da carreira, seguiu-se este período na Euskaltel-Euskadi,
tornando-o desde 2021 num basco por adoção, que descobriu novas facetas até
decidir, em 2024, pôr um ponto final na carreira.
Quanto ao que vem a seguir,
tem pensado muito, mas ainda não decidiu. “Será certamente relacionado com
ciclismo, com a bicicleta. É a minha vida, o meu mundo e a minha paixão”,
atira.
Nunca imaginou chegar aos 40
anos ainda no pelotão profissional, desde que, em 2008 com a Andalucía-Caja
Sur, se estreou como profissional, e a razão da longevidade, claro está, é ter
“desfrutado sempre”.
“Sou um privilegiado por poder
subir à bicicleta a cada dia. Para mim, isso é muito”, diz.
Além de ser um apaixonado pela
modalidade, Maté tem-se desdobrado em ações que ligam a prática desportiva à
preservação do meio ambiente, preocupado que está com o clima.
“É [um tema] importante para
mim e para toda a gente. Vivemos uma crise climática internacional, que já está
a ter consequências devastadoras, e temos de consciencializar-nos que temos de
mudar de modelo de desenvolvimento. Nessa mudança, quanto à mobilidade, a
bicicleta deve jogar um papel muito importante”, afirma o ciclista espanhol.
Quanto à emergência climática,
em 2022 conseguiu 1.100 árvores para apoiar a reflorestação da Sierra Bermeja,
chegando a esse número ao multiplicar por três cada quilómetro em que andou na
fuga durante a Volta a Espanha desse ano, depois do incêndio naquela serra em
2021.
“Vivemos hoje em dia um tempo
em que estamos imersos, a cada verão, em terríveis catástrofes florestais. Em
Portugal sabem bem do que falo”, contou, em entrevista à agência Lusa em
setembro desse ano.
O homem que em 2021 fez uma
“vuelta de la Vuelta” (‘volta da Vuelta’), pedalando até casa e passando por
Portugal, para lembrar que a bicicleta pode ser um meio de transporte e um meio
de fruição, além de máquina desportiva, continua embrenhado na questão.
“O ciclista tem de
consciencializar-se que é uma montra pública, que as pessoas seguem. É uma
oportunidade bonita de mostrar ao mundo as vantagens que a bicicleta traz, no
desporto e para a sociedade em geral”, reforça.
Maté gosta tanto de Portugal
que viveu uma reta final da carreira como o vinho do Porto, uma vez que, aos 39
anos, estreou-se na Volta a Portugal, em 2023, com a vitória na Guarda e o
quinto lugar final.
Este ano, lidera a
classificação da montanha e ‘bisou’ naquela capital de distrito, confirmando
uma relação “bonita” com a Euskaltel-Euskadi, com quem assinou por partilharem
uma “total liberdade de interpretar o ciclismo”, e com o país vizinho.
“Sempre quis vir a Portugal, e
vinha muito, já que vivo perto do Algarve. Nunca podia vir à Volta, porque
estava no Tour ou na Vuelta. Consegui o ano passado, em que tive uma surpresa
muito grata. A realidade superou as expectativas. Estou muito contente de
conhecer a Volta, mas é uma lástima de conhecer tão tarde”, desabafa.
De resto, estas são das mais
bonitas páginas da carreira do espanhol de Marbella, que espalha simpatia e
consciencialização social pelo pelotão, a par de uma vitória na Volta a San
Luis, já em 2010, e na Rota do Sul – La Dépêche du Midi, em 2011.
Fonte: Sapo on-line
Sem comentários:
Enviar um comentário