Promissor corredor da Kelly-Simoldes-UDO ambiciona integrar top 10 final nesta edição da Volta a Portugal
Por: Lusa
Foto: Lusa
Hélder Gonçalves
(Kelly-Simoldes-UDO) descobriu uma paixão na engenharia de software e, aos 23
anos, pondera já deixar o ciclismo, com a decisão a ser adiada pela esperança
de ainda ter uma oportunidade no pelotão internacional.
"Sou engenheiro de
software. Ao longo deste ano todo, quase todos os meses trabalhei para uma
empresa em Barcelos. Apesar de não ter contrato, trabalho por projeto, é mais
freelancing. E sempre concilio bem as coisas, também para a minha sanidade
mental, [para] não focar só no ciclismo, porque [a engenharia] é uma área de
que eu gosto mesmo. E até custa-me dizer isto, para os meus colegas de equipa,
mas o ciclismo não vai durar. Não é uma coisa que eu me veja a fazer a longo
prazo, porque descobri outra paixão", resumiu à Lusa.
Segundo na classificação da
juventude na passada edição da Volta a Portugal, o promissor corredor da
Kelly-Simoldes-UDO, que ambiciona integrar o top 10 final nesta edição, está
preparado para encostar a bicicleta, depois de descobrir que "o ciclismo
não é uma profissão de sonho, como pensava quando era miúdo".
Não é que a engenharia seja
mais fácil, nota Hélder Gonçalves, apenas apresenta "outros tipos de
desafios", como datas de entrega ou reuniões.
"É uma área que não tem
nada a ver, mas é uma área que me apaixona e é uma área que me está a causar
grande reflexão para ver quando termino a minha carreira de ciclista. Já muito
pensei se não seria este ano, e se esta não seria a minha última Volta. Esse
pensamento ainda está na minha cabeça, independentemente do resultado [final].
Já disse muitas vezes que até poderia ganhar a Volta a Portugal que nada do meu
pensamento mudava", revelou.
Embora prefira deixar
"essa parte de reflexão para quando terminar a Volta", uma vez que
está "totalmente focado" nos 11 dias da prova, Gonçalves justifica a
opção pela engenharia em detrimento do ciclismo pelo facto de "gostar de
desafios" e ter a vontade de "trabalhar em outros países e
viajar".
Nesta decisão também pesa a
remuneração, uma questão em que o jovem "nem queria tocar": "Estamos
a falar, por vezes, de 10 vezes mais. E não estou só a querer dizer que se
ganha mal no ciclismo, nada a ver. De facto, [a engenharia de software] é uma
profissão que está em grande procura do outro lado, e são salários brutais,
principalmente em países que eu já visitei. E não tenho nada que me agarre
aqui. Também já falei com a minha namorada. E é uma coisa que eu quero arriscar
na minha vida".
No entanto, o ciclista da
Kelly-Simoldes-UDO não esconde que antes de desistir do ciclismo gostava de ter
uma experiência lá fora, algo que, acredita, até já poderia ter acontecido se
tivesse nascido noutro país.
"Infelizmente, custa-me
dizer isto, mas acho que se tivesse nascido no outro lado da fronteira já
estava a correr num escalão mais acima. Nem é questão do meu valor. Eu vejo por
colegas que correram contra mim nas camadas jovens, seja em júnior, seja no ano
passado, em sub-23, na Taça das Nações... quase todos correm já num escalão
acima. E colegas que vêm correr aqui, a Portugal, nestes 11 dias ou em troféus
como o Joaquim Agostinho, e chegam no final da tabela classificativa e isso
custa-me imenso", assumiu.
De acordo com Gonçalves, os
ciclistas que estão em Portugal "são bastante prejudicados, mas não há
nada a fazer".
"Ainda ontem
[segunda-feira], comentei com um colega que talvez gostasse de ter uma
oportunidade, mas sei que talvez nunca a vá ter. Mas sei que não depende de mim
sequer, nem das minhas qualidades", avaliou, 'culpando' a 'fama' do
ciclismo nacional, cimentada pelo escândalo de doping da W52-FC Porto, pela
ausência de convites.
O atual 16.º classificado da
Volta a Portugal nota, contudo, que "as coisas estão a melhorar, inclusive
este ano", algo que o vai levando a adiar a decisão de sair do ciclismo,
por sempre ter aguardado por uma oportunidade para mostrar o seu valor, como
mostra "sempre" que vai correr a outros países pela seleção nacional.
"Vejo que isto é um pouco
monótono, o facto de termos sempre as mesmas corridas, os mesmos adversários, e
gostava também de tentar algo mais, porque sinto-me confortável, confiante, não
tenho problemas em adaptar-me a qualquer tipo de risco ou o que seja. E,
pronto, sempre aguardei algum contacto, já tive algumas conversas, mas ainda
não surgiu nada, a ver se é este ano. Já surgiram algumas portas que estão
semiabertas à custa desta Volta a Portugal e vamos ver se eu as abro de
vez", concluiu.
Fonte: Record on-line
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