Na
Holanda, um costume antigo faz com que motoristas obrigatoriamente olhem na
direção oposta da via antes de abrir a porta do carro, evitando colisões com
bicicletas.
Quem
usa bicicleta como veículo em grandes cidades já percebeu: há uma lista de
acidentes mais comuns envolvendo bicicletas. Grande parte deles acontece quando
um motorista faz uma manobra sem perceber a presença do ciclista ou não cumpre
as leis de sinalização para conversões.
Um
deles é conhecido em inglês como "dooring", quando um motorista ou
passageiro abre a porta do carro na lateral da via e atinge o ciclista com ela.
Com
o ciclista trafegando pela direita em uma ciclovia, por exemplo, isso pode
acontecer quando um passageiro desce do carro em direção à calçada. Quando há
carros estacionados do lado direito, um motorista ou passageiro desatento, que
tente sair do carro pelo lado da via, também pode provocar esse tipo de
acidente.
Em
Chicago, nos EUA, 1 a cada 5 acidentes com bicicletas acontece dessa maneira -
em 2012, houve um acidente do tipo a cada dois dias na cidade.
Os
números inspiraram cicloativistas norte-americanos a buscarem uma solução na
Holanda, país onde 27% de todos os deslocamentos são feitos de bicicleta e há
quase uma bike para cada habitante.
Lá,
apesar do número muito maior de ciclistas, uma diferença cultural simples faz
com que os acidentes do tipo sejam raros: os holandeses sempre abrem a porta do
carro usando a mão do lado oposto àquele que estiver encostado na porta. O
vídeo a seguir, com legendas em inglês, ilustra a técnica:
Esse
gesto simples força o passageiro ou motorista a girar o corpo e o olhar em
direção à mão da via - o que permite que ele veja, pelo retrovisor e
diretamente, se há um ciclista vindo ou não. Assim, é possível antecipar o
acidente e evitá-lo.
A
origem da "pegada holandesa"
Os
norte-americanos batizaram o estilo holandês de abrir portas de "Dutch
Reach", ou "pegada holandesa", em tradução livre. No entanto, na
Holanda, o hábito não tem um nome e sequer é visto como algo especial ou
diferente: é simplesmente como se abrem portas de carros.
Assim
como somos ensinados desde pequenos que é preciso olhar para os dois lados
antes de atravessar a rua - e, na vida adulta, isso se torna automático - é um
dado cultural holandês que é necessário abrir a porta de carros dessa forma.
Afinal,
na Holanda, com a grande quantidade de ciclistas a chance de atingir um ao
abrir a porta do carro é mais alta. Por isso, os holandeses já crescem com a
"pegada holandesa" como uma norma cultural enraizada. A "pegada
holandesa" é cobrada até durante o exame oficial de habilitação do país.
“A
ideia é substituir um hábito automático por outro hábito automático, sendo que
o segundo é mais seguro. Esperamos que [a 'pegada holandesa'] seja incorporada
em nossa sociedade como foi com os holandeses.”
Michael
Charney, médico aposentado, ciclista e criador da campanha pela adoção da
"pegada holandesa" nos EUA
No Brasil
A
regulamentação que determina como motoristas devem se comportar em relação a
ciclistas no Código de Trânsito Brasileiro diz, no artigo 49, que
"motoristas e passageiros são obrigados a verificar o perigo causado pela
abertura da porta antes de abri-la."
Essa
diretriz não garante somente a segurança do ciclista, mas assegura a do
motorista e do passageiro, já que não apenas ciclistas transitam pelas vias,
mas também outros veículos grandes e em alta velocidade.
Para
os ciclistas, não há recomendação específica no CTB que faça referência a esse
tipo de acidente. Cicloativistas brasileiros, no entanto, como o site Vá de
Bike, recomendam àqueles que pedalam no trânsito que ocupem a faixa da direita
integralmente, mantendo distância dos carros estacionados, ainda que isso possa
incomodar alguns motoristas.
Outra
dica do site diz respeito à iluminação dianteira - "à noite, os motoristas
buscam uma luz se aproximando para saberem se podem abrir a porta",
explica o texto.
Por
fim, como a "pegada holandesa" não é costume no Brasil, é
especialmente importante que os ciclistas em ciclovias redobrem a atenção com
carros parados a seu lado esquerdo - sobretudo em frente a locais tradicionais
de desembarque, como, por exemplo, estações de metrô, pontos de ônibus e portas
de escolas e faculdades. Nesses casos, o CTB define que a prioridade é sempre
do pedestre que está desembarcando.
Fonte:
Expresso
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