Por:
Lusa
Foto:
Vítor Chi
O
antigo responsável da Agência Antidopagem Portuguesa e ex-conselheiro da
agência brasileira Luís Horta considerou esta quarta-feira os dados conhecidos
indiciam que o ciclista britânico Chris Froome (Sky) terá consumido uma
substância potencialmente dopante "acima do permitido".
Em
declarações à agência Lusa, o médico português afirmou não conhecer
"nenhum caso" em que um atleta tenha acusado uma concentração de
salbutamol - substância utilizada para o tratamento da asma e utilizada por
desportistas, entre os quais ciclistas - acima do permitido em resultado de um
uso terapêutico da substância.
"A
Agência Mundial Antidopagem [AMA] verificou através de vários estudos que se o
atleta utilizar Salbutamol em doses terapêuticas, os níveis da substância na
urina não ultrapassam os 1.000 nanogramas por mililitro. E não ultrapassando
isso, os próprios laboratórios nem reportam nada. Na urina do atleta foi
encontrado o dobro dessa concentração. Ora, isto em princípio indicia que o
atleta utilizou uma dose de Salbutamol superior à que é permitida",
defendeu.
A
análise à urina de Chris Froome realizada em 07 de setembro, após a 18.ª etapa
da Volta a Espanha, revelou uma concentração de 2.000 nanogramas por mililitro
de salbutamol, substância presente num dos medicamentos mais utilizados no
tratamento da asma, o dobro do autorizado pela AMA.
Sendo
um estimulante do aparelho respiratório, o fármaco tem efeitos anabolizantes em
doses elevadas, permitindo o aumento da massa muscular e a diminuição da
gordura corporal.
O
ciclista britânico Chris Froome, que sofre de asma, disse já que se limitou a
seguir "os conselhos do médico da equipa para aumentar" a dose de
salbutamol, mas tomando sempre "as maiores precauções" para garantir
que não excedia as doses permitidas.
Com
este controlo adverso, confirmado pela contra-análise, Froome terá de provar
"num estudo farmacocinético controlado que este resultado anormal é
efetivamente consequência do uso de uma dose terapêutica [por inalação]",
esclarecem as regras antidopagem.
"Nestes
casos, para dar o benefício da dúvida ao atleta, a AMA permite a realização de
um estudo farmacocinético controlado (...) em ambiente controlado é dada ao
atleta a dose terapêutica que ele diz ter tomado e depois são recolhidas
amostras, que são depois enviadas a um laboratório antidopagem para ver se os
níveis são superiores a 1000 nanogramas. Se forem superiores ele é um caso
muito especial, completamente fora do que é normal e o atleta pode ser ilibado.
Eu não me recordo de nenhum caso em que através de um estudo farmacocinético se
tenha provado isso", comentou.
Luís
Horta considerou, de resto, não existir "nenhuma razão terapêutica",
nem "em caso de agudização da asma", para "haver uma dose
superior àquela que a AMA define".
"Quando
um atleta asmático tem uma crise, muito provavelmente tentará resolver a
situação com Salbutamol nas doses terapêuticas e, se não conseguir, há outras
alternativas terapêuticas. Está tudo devidamente previsto", indicou.
O
médico explicou ainda que no caso das substâncias específicas (que podem ser
usadas para tratamento de determinadas doenças) como o salbutamol, o Código
Mundial Antidopagem prevê "um regime sancionatório mais leve".
"Se
o atleta conseguir demonstrar que não existiu da parte dele culpa ou
negligência significativas, o que o código prevê vai desde uma advertência a
dois anos de suspensão. Mas se a UCI conseguir provar que houve uma
intencionalidade do atleta, a pena são quatro anos", apontou.
Segundo
Horta, "a única forma que o atleta tem de ser completamente ilibado é se
conseguir provar através de um estudo farmacocinético controlado, que, com
doses terapêuticas, ele atinge o dobro dos valores previstos".
Fonte:
Record on-line
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