Ex-diretor desportivo diz que o antigo patrão da equipa era "ditador, mestre da manipulação, que queria ganhar a todo o custo"
Por: Lusa
Foto: Carlos Gonçalves/Arquivo
O ex-diretor desportivo da
W52-FC Porto Nuno Ribeiro assumiu esta segunda-feira que havia doping durante
todo o ano na equipa de ciclismo, financiado e incentivado pelo patrão Adriano
Quintanilha, "mestre da manipulação, que queria ganhar a todo o custo".
Nuno Ribeiro, que falou pela
primeira vez no julgamento da operação 'Prova Limpa', com 26 arguidos,
incluindo ex-ciclistas, e que decorre num pavilhão anexo ao Estabelecimento
Prisional de Paços de Ferreira, pediu para prestar declarações na ausência dos
restantes arguidos, alegando ter vindo a "sofrer pressões e ameaças",
nomeadamente do também arguido Adriano Teixeira de Sousa, conhecido como
Adriano Quintanilha.
O vencedor da Volta a Portugal
de 2003 começou por ler uma declaração escrita, na qual admite que o seu único
erro foi saber o que se passava no seio da equipa e não ter tido a capacidade
para dizer não, por depender economicamente do cargo que exercia, refutando a
acusação de que era o "cérebro" do esquema de consumo de substâncias
dopantes e atribuindo esse papel ao então dono da W52-FC Porto.
Nuno Ribeiro frisou que nunca
exigiu, incentivou ou forçou algum ciclista a tomar substâncias dopantes,
admitindo, contudo, que iam falar com ele, designadamente, para perguntar como
é que podiam "tomar doping" sem serem detetados.
Ribeiro garantiu que nunca
usou a sua ascendência profissional para que os ciclistas "tomassem
doping", mas apenas para que fossem melhores, salientando que os
aconselhava a não ingerirem determinadas substâncias, que "usavam como
entendiam".
"Não me senti um
criminoso. Fui um fraco por ceder. Devia ter dito não e não [ao doping].
Sinto-me triste e arrependido. Sei o quanto errei e peço desculpa à sociedade,
a todos, mas sobretudo aos meus atletas", afirmou, em tom emocionado,
dizendo, mais à frente, que nunca comprou ou vendeu substâncias dopantes,
pedindo ao tribunal que não lhe aplique uma pena privativa da liberdade.
Sobre o esquema de doping na
W52-FC Porto, segundo Nuno Ribeiro, era financiado e incentivado pelo então
patrão da equipa, entre 2020 e 2022.
O ex-diretor desportivo
revelou ao tribunal que a toma de substâncias dopantes pelos ciclistas
"era regular durante toda a época desportiva" e o financiamento para
esse fim advinha do então dono da equipa e ocorria "durante o ano civil
todo".
Além do ordenado, de acordo
com este arguido, Adriano Quintanilha entregava dinheiro, mensalmente, aos
ciclistas para pagarem as substâncias dopantes, que adquiriam através da
internet, de farmácias ou de outras formas.
Nuno Ribeiro explicou que,
para "mascarar esses pagamentos", o antigo patrão da W52-FC Porto
usava "ajudas de custo fictícias", com quilómetros ou despesas
particulares, como almoços, que nunca foram realizados, razão pela qual a defesa
requereu hoje ao tribunal o levantamento do sigilo bancário de uma conta da
Associação Calvário Várzea Clube De Ciclismo - o clube na origem da equipa -,
que seria usada para efetuar esses pagamentos.
Nuno Ribeiro contou ainda que
"a generalidade" da equipa da W52-FC Porto "sabia que havia
doping e que quem financiava era o senhor Adriano".
"Nunca tive dinheiro para
o doping, nem instiguei ao uso do doping. Foi e sempre o senhor Adriano que o
fez. O senhor Adriano gastava milhares de euros a patrocinar essas práticas
dopantes", afirmou o ex-diretor desportivo.
Segundo Nuno Ribeiro, o
discurso de Adriano Quintanilha em todas as provas "era sempre o
mesmo", falando em "ditador e mestre da manipulação".
"O do quero, posso, mando
e pago. Ele sabia de tudo, queria ganhar a todo o custo e dizia: 'pago para
ganhar e ganho'. Atirava isso à cara dos ciclistas e ameaçava. O ambiente era
infernal", declarou.
Ribeiro revelou que
Quintanilha já o abordou três vezes para que "assumisse a culpa
toda", em troca de 2.000 euros por mês durante dois anos, o que nunca
aceitou, acrescentando ter saído do último encontro "cheio de medo",
pois Quintanilha "ameaçava, insultava e humilhava todos".
O julgamento prossegue à
tarde.
Fonte: Record on-line
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