Por: Ivan Silva
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
O ciclocrosse belga, símbolo
de resistência e excelência técnica, está a viver um capítulo preocupante.
Laura Verdonschot e Eli Iserbyt, dois dos ciclistas mais emblemáticos da
modalidade, enfrentam o mesmo inimigo invisível: uma doença vascular rara e debilitante
que ameaça pôr um ponto final nas suas carreiras.
Enquanto Iserbyt continua
afastado das competições há nove meses, Verdonschot corre contra o tempo para
manter-se ativa, apesar das dores e do entorpecimento da perna esquerda,
sintomas diretos de uma endofibrose da artéria ilíaca, a mesma condição que afetou
vários ciclistas profissionais nos últimos anos.
A belga de 28 anos, natural de
Bocholt, conseguiu terminar o Campeonato da Europa de 2025 em Middelkerke num
respeitável oitavo lugar, mas o seu desempenho foi uma luta constante contra o
próprio corpo.
“Depois de uma volta, já não
sentia o meu pé esquerdo”, contou Verdonschot ao Sporza. “Em boas condições,
deveria estar a terminar muito mais perto. Já estou habituada às dores. É que
nalguns dias funciona e noutros não. Estou contente por ter conseguido chegar
ao fim.”
Entre a
dor e a sobrevivência
As palavras de Verdonschot
revelam a dimensão de um problema que está a alastrar silenciosamente no
pelotão. Após duas operações de grande complexidade realizadas no início do ano
para restaurar o fluxo sanguíneo nas pernas, a belga continua a competir sob
limitações físicas que a obrigam a gerir cada pedalada.
“Não me submeteria
definitivamente a uma segunda operação”, admitiu. “Isso significaria
provavelmente o fim da minha carreira. Não foi uma operação normal e foi
preciso uma enorme quantidade de energia para regressar. Por isso, é frustrante
estar a correr a este nível. Espero que as coisas melhorem nas próximas semanas
e que o pé dormente desapareça finalmente.”
Verdonschot submeteu-se
recentemente a novos exames, tentando encontrar alguma melhoria, mas a
recuperação tem sido lenta. Ainda assim, a sua persistência é notável, uma
verdadeira prova da tenacidade que caracteriza o ciclocrosse belga.
O caso
Iserbyt: um aviso para toda uma geração
Se a história de Verdonschot é
de resistência, a de Eli Iserbyt é de alerta. O campeão da Pauwels Sauzen–Altez
Industriebouw não compete desde 16 de fevereiro e passou por quatro cirurgias
para corrigir os mesmos bloqueios arteriais. O seu chefe de equipa, Jurgen
Mettepenningen, foi claro nas declarações ao Nieuwsblad:
“Ainda não há luz ao fundo do
túnel. Se não houver boas notícias dentro de quatro semanas, será uma história
muito difícil.”
As palavras soam quase como um
prenúncio. Aos 28 anos, Iserbyt encontra-se numa encruzilhada médica que poderá
definir não só o seu futuro, mas também o modo como o pelotão encara este tipo
de lesões.
Uma crise
médica silenciosa no coração do ciclocrosse
Durante anos, a endofibrose da
artéria ilíaca foi um problema pouco falado, associado a casos isolados. Hoje,
está a tornar-se um fenómeno crescente no circuito de ciclocrosse,
especialmente entre atletas que passam meses a pedalar em alta cadência e binário
elevado, em terrenos pesados e de esforço contínuo.
O diagnóstico é complexo, e o
tratamento implica cirurgias delicadas, com períodos de recuperação longos e
resultados incertos. No caso de Verdonschot, duas operações não bastaram para
eliminar os sintomas; no de Iserbyt, o pesadelo repete-se a cada tentativa
falhada de reabilitação.
Entre o
heroísmo e a vulnerabilidade
O contraste é duro: enquanto o
público vibra com a bravura e o espetáculo dos circuitos belgas, os bastidores
revelam o custo físico devastador da modalidade. As histórias paralelas de
Verdonschot e Iserbyt expõem a vulnerabilidade humana por trás da glória
desportiva, e a urgência de repensar o calendário, o treino e a prevenção
médica num desporto que exige tudo do corpo.
“Estamos a trabalhar nisso e
espero que haja alguma melhoria”, concluiu Verdonschot, com a serenidade de
quem sabe que a luta ainda não terminou.
Dois ciclistas, duas batalhas,
uma só realidade: a linha entre a dor e a glória no ciclocrosse é cada vez mais
fina.
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