Por: Carlos Silva
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
Em entrevista ao podcast
Sobr’Watts, o director desportivo da Efapel Cycling, José Azevedo, regressou
aos temas que marcaram o final da Volta a Portugal de 2025. O antigo ciclista
voltou a reafirmar as suas declarações sobre o doping, o estado do ciclismo
português e a necessidade de competir no estrangeiro, reforçando que não se
arrepende de nada do que disse. Azevedo abordou ainda a polémica em torno de
Mauricio Moreira, que está de saída da Efapel para representar a
Feirense-Beeceler em 2026.
“Hoje
respondia exactamente igual”
Confrontado com as críticas
que recebeu após as declarações no final da Volta a Portugal, José Azevedo
manteve-se firme. “Sim, sim, sem dúvida, não me arrependo. Fizeram-me perguntas
sobre o ciclismo português, o estado do ciclismo português e o futuro do
ciclismo português e sobre o projecto Efapel. Eu respondi aquilo que eu penso.
Hoje respondia exactamente igual.”
O director desportivo da
Efapel considera que o tempo acabou por lhe dar razão. “Infelizmente, se calhar
não estava tão errado com aquilo que disse. Apesar de ser acusado, de quase me
terem insultado. Houve um comunicado que saiu que foi quase um insulto à minha
pessoa. Houve alguém que se deu ao trabalho de escrever um comunicado a
insultar-me como pessoa. Mas são opiniões. São posições. Mas se calhar quem
escreveu esse comunicado devia agora escrever um comunicado. Agora é que devia
escrever um comunicado. Agora é que era o momento de escrever um comunicado.”
Apesar das polémicas, Azevedo
garante que as suas intenções sempre foram positivas. “Eu não quero fazer mal
ao ciclismo. Eu não ganho nada em fazer mal ao ciclismo.” E remata: “As
pessoas, se estiverem atentas, vêm que se calhar não me enganei. Eu não sou
doido.”
“Queremos
competir dentro das regras”
Sobre o problema do doping e o
impacto que estas situações têm na modalidade, José Azevedo foi peremptório.
“Deus queira que não. Não me alegra nada este tipo de situações. Não fico
contente com isso. Agora, qualquer equipa em qualquer modalidade, não é só no
ciclismo, queremos competir sempre havendo cumprimento dos regulamentos,
havendo ética, havendo honestidade. Só assim é que se consegue competir. E
quando eu falo não é porque perdi ou ganhei. Esta é a minha opinião. Não é a
opinião de um perdedor.”
O responsável máximo da Efapel
destacou ainda a seriedade do projecto que lidera. “Eu orgulho-me da equipa que
tenho, do projecto que construí, tenho orgulho em dizer que a empresa Efapel
está satisfeita com o projecto que existe há quatro anos. É um projecto sério a
todos os níveis, que cumpre rigorosamente tudo. Mas queremos competir dentro
das regras.”
E acrescentou, em tom crítico:
“Então para que é que se fazem os regulamentos? Então não os fazemos. Andamos a
perder tempo e andamos a brincar uns com os outros. Mas se for para entrar
nesse jogo, eu não vou andar aqui muito tempo. Por muito que goste de ciclismo,
por muito que goste do projecto que montei, eu não vou andar muito tempo a
fazer figura de parvo.”
“O ideal
era que o calendário já fosse oficializado”
O director desportivo
aproveitou ainda para voltar ao tema do calendário nacional, uma das críticas
recorrentes das equipas à Federação Portuguesa de Ciclismo. “Esse era o nosso
objectivo. No entanto, a Federação, numa reunião que teve com os clubes, não
sei se isso já está no regulamento ou não, mas o que nos disseram foi que a
partir de 2026 as equipas portuguesas são obrigadas a cumprir todas as provas
do calendário nacional com um mínimo de cinco ciclistas. Se isso for aprovado e
passar a regulamento, isso vai limitar muito a possibilidade das equipas
portuguesas de fazer calendário internacional.”
Azevedo explica que a medida
exigirá mais meios humanos e financeiros. “A não ser que tenham capacidade para
ter 14, 15 ciclistas e estruturarem-se para duas frentes. Isso obriga ao dobro
dos directores, massagistas, mecânicos, ao dobro de veículos. E isso, a nível
orçamental, obriga a um maior investimento. Isso vai limitar as nossas opções.
Temos de cumprir as regras porque somos uma equipa portuguesa.”
Sobre o planeamento da próxima
temporada, o dirigente lamenta os atrasos na publicação do calendário oficial.
“Mas estamos a ver algumas corridas do calendário internacional. O calendário
nacional ainda não saiu. Há provas internacionais que já sabemos, o calendário
UCI já saiu. As provas nacionais, pelo que se fala, vamos sabendo onde vão ser
colocadas, mas oficialmente o calendário ainda não saiu. Quando ele for
oficial, sabemos as datas e então vamos procurar fazer algumas provas
internacionais. Estamos em novembro. O ideal é que o calendário já fosse
oficializado. Estes atrasos, estes timings, não beneficiam em nada o ciclismo.”
O caso
Mauricio Moreira: “Ele devia ter dito a verdade”
Azevedo falou também sobre
Mauricio Moreira, que rescindiu com a Efapel. “Não me arrependo de o ter
contratado. Podia ter terminado de outra maneira. Ele devia ter dito a verdade.
Atirar assim acusações que soam um bocado a desculpas, não beneficiou em nada o
Mauricio.”
O dirigente explica o contexto
da época difícil do uruguaio. “Quando eu ouço aquelas palavras, criam-me alguma
indignação. O Mauricio desde que chegou à equipa teve alguns problemas físicos.
Grande parte do ano não competiu por estar lesionado. Ele correu no Beiras, que
teve a infelicidade de cair logo na primeira etapa, foi transportado para o
hospital e acabou por abandonar. Na semana a seguir veio fazer o Abimota
limitado. Estávamos em maio, junho. Ele estava a regressar à competição, não
podíamos esperar que tivesse uma grande prestação. Depois foi ao Douro, na
primeira etapa acabou por se ressentir novamente da lesão e abandonou, e eu
disse-lhe para parar, para não continuar a forçar, porque não sabíamos se ia
agravar ou não. Voltou no GP de Torres, fez um bom prólogo, na primeira etapa
descolou, na segunda etapa ao quilómetro 40 descolou. Era o último corredor em
prova e o primeiro a descolar, e acabou por abandonar essa prova.”
“Uns dias depois foi para
estágio com a equipa. Ao terceiro dia abandonou o estágio. Estavam os juniores
lá presentes e os profissionais. Os juniores continuaram o estágio, o Mauricio
abandonou. Fisicamente não estava capaz. No dia seguinte eu tive uma reunião
com ele e disse-lhe que, atendendo a todas essas situações, a situação física
dele não permitia que ele fosse correr a Volta a Portugal.”
Segundo o director desportivo,
a decisão foi tomada por razões puramente desportivas. “Mas isso era algo
lógico, visível. Não é uma acusação. Até analisando tudo o que aconteceu
durante o ano, a condição física dele não lhe permitia ir correr a Volta a Portugal.
Então ia levar o Mauricio sabendo que a possibilidade dele terminar a prova é
reduzida, e deixar em casa um colega que está a trabalhar e dá mais garantias.
Era injusto, e isso eu expliquei ao Mauricio.”
“Quando eu ouço nas
declarações dele, que foi uma surpresa, eu fico perplexo. Quando alguém que me
abandona um estágio ao terceiro dia diz que foi uma surpresa não correr a Volta
a Portugal…”
Por fim, Azevedo deixou uma
palavra sobre o médico da equipa. “O Dr. Benjamim é o médico da equipa, é a
pessoa em que eu confio toda a parte médica. Eu não sou médico, não entendo
nada de medicina. Sempre que o Dr. Benjamim me disser que o atleta A, B ou C
não deve competir, eu irei seguir as suas palavras.”
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