Por: Carlos Silva
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
O antigo profissional e atual
comentador Jan Bakelants trouxe à tona uma questão sensível que tem marcado o
pós-Campeonato do Mundo: até que ponto ainda é permitido criticar o ciclismo
feminino sem ser acusado de estar a ser hostil?
No mais recente episódio do
programa Wielerclub Wattage, Bakelants admitiu sentir frustração com aquilo que
considera ser um ambiente cada vez mais limitado para a análise crítica.
“Depois de algum tempo, começa a parecer que só se pode ter uma opinião se for
unanimemente positiva sobre o ciclismo feminino”, afirmou. “Já não é permitido
expor os factos. Mas certamente que temos o direito de questionar a forma como
as coisas se estão a desenrolar?”
O eco das
palavras de Marijn de Vries
O debate surgiu após uma
reflexão da ex-profissional Marijn de Vries, que apontou para a dualidade de
critérios no ciclismo. Segundo ela, desempenhos dominadores no pelotão
masculino são dissecados e muitas vezes alvo de críticas, enquanto conquistas
semelhantes no feminino parecem ser intocáveis e blindadas contra qualquer
questionamento.
O apresentador Ruben Van Gucht
traçou um paralelo entre o atual domínio de Tadej Pogacar e a supremacia de
Annemiek van Vleuten há alguns anos. Na época, não faltaram vozes a afirmar que
Van Vleuten se destacava mais pela “falta de qualidade do pelotão” do que pela
sua própria superioridade. Bakelants reconheceu que vê sinais de uma situação
semelhante agora.
“Não quero provocar uma
polémica, mas estou de acordo com isso. É simplesmente a situação atual da
modalidade”, disse o belga.
Também presente no debate, Tom
Boonen destacou a dificuldade do tema. “Vivo numa casa cheia de mulheres. Há
discussões que simplesmente não consigo vencer. Temos de as deixar passar”,
comentou.
Já Dirk De Wolf preferiu
encerrar o assunto com prudência. “Continuaremos atentos ao que se passa, mas
não vamos alongar-nos em comentários públicos.”
O dilema:
entusiasmo ou análise crítica?
As observações de Bakelants
deixam em aberto uma questão central: como equilibrar a promoção e valorização
do ciclismo feminino com a possibilidade de uma crítica construtiva e
informada? Para adeptos e analistas, a dúvida é pertinente - será possível manter
um espaço para discussões robustas sem receio de represálias, ou corre-se o
risco de ver qualquer crítica honesta silenciada em nome de uma positividade
absoluta?
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