Por: Ana Nunes
Portugal enfrentou hoje
uma dura e intensa prova de fundo de 267 quilómetros no Campeonato do Mundo de
Estrada, em Wollongong, na Austrália. Nelson Oliveira foi o português mais bem
classificado, tendo terminado na 44.ª posição, num dia de sonho para Remco
Evenepoel (Bélgica), que conquistou o título mundial.
A prova de fundo de elite
do Campeonato do Mundo de Estrada arrancou de Helensburgh, a partir de onde o
pelotão internacional realizou 42 quilómetros até chegar ao primeiro ponto alto
da corrida, o Mount Keira. Foi precisamente aí que a seleção francesa decidiu
fazer a sua primeira movimentação do dia, acabando por conseguir fragmentar o
pelotão. Portugal conseguiu colocar dois corredores no grupo da frente: Ivo
Oliveira e Nelson Oliveira.
“Quando partimos nunca
sabemos como é que a corrida se vai desenrolar. Queríamos estar o mais bem
colocados possível, mas também sabíamos que o pelotão poderia partir várias
vezes, o que dificultaria o nosso trabalho”, disse o selecionador
nacional.
Este grupo numeroso,
composto por vários nomes importantes como Wout Van Aert (Bélgica), Tadej
Pogacar (Eslovénia) e Stefan Küng (Suíça), chegou a ter cerca de dois minutos
para o pelotão. A fuga acabaria por ser alcançada, pois nunca chegou a haver
entendimento entre os corredores.
Entretanto formar-se-ia
uma nova fuga, esta sim com sucesso, composta por 16 corredores. O grupo de
fugitivos chegou a ter cerca de oito minutos para o pelotão, de onde mais à
frente na corrida sairia o derradeiro ataque que decidiu a corrida. Desta feita
seria, uma vez mais, a França a movimentar as águas, proporcionando a saída de
um grupo de mais de 20 corredores de várias seleções, que se estabeleceria em
posição intermédia.
Portugal não conseguiu
colocar nenhum corredor neste grupo, no qual estava inserido Remco Evenepoel
(Bélgica) e ainda outros corredores que poderiam lutar por um bom resultado,
tais como Neilson Powless (EUA), Nairo Quintana (Colômbia), Jai Hindley
(Austrália), Romain Bardet (França) e Alexey Lutsenko (Cazaquistão).
O selecionador nacional,
José Poeira, explica porque é que Portugal não conseguiu integrar-se nesta
fuga. “Quando
se deu esse ataque ainda era muito cedo e chegámos a pensar que a fuga poderia
não ter êxito. Além disso, no momento em que se deu o ataque não conseguimos
estar no sítio certo para responder”.
Nesta altura, a seleção
nacional já tinha perdido um dos seus quatro elementos, como relata o
selecionador nacional, José Poeira. “O Rui Oliveira teve uma avaria na bicicleta quando estava num
grupo que tentou sair do pelotão atrás do grupo onde seguia o Remco. Este
problema surgiu numa altura complicada da corrida, em que existiam muitas
movimentações, perdeu terreno quando teve de mudar a roda e nunca mais
conseguiu recolar. Sei que no sprint final o Rui poderia ter feito um bom
resultado, mas as circunstâncias da corrida e este percalço que ele teve não o
permitiram estar lá”.
Este grupo em que estava
inserido Remco Evenepoel acabaria por conseguir chegar aos corredores que
seguiam em cabeça de corrida, formando assim uma fuga mais numerosa. Lá atrás,
no pelotão era a seleção de Espanha que assumia as despesas da corrida.
Tal como já seria de
esperar, o ataque por parte de Remco Evenepoel na frente da corrida acabaria
por surgir. O primeiro seria a 60 quilómetros do final, no final da subida ao
Mount Pleasant, com resposta pronta dos restantes elementos do grupo onde
seguia.
No pelotão reinava a falta
de entendimento entre as várias seleções. Perante uma tentativa por parte de
Tadej Pogacar de impor um ritmo mais forte houve resposta por parte de vários
corredores, entre eles João Almeida, que se mantinha entre os primeiros do
pelotão nesta altura da corrida.
Na frente, as
movimentações iam-se sucedendo, com Remco Evenepoel a lançar-se novamente ao
ataque, desta vez levando consigo Alexey Lutsenko, O belga só teve de esperar
pelo momento certo para lançar o ataque que o levaria à vitória, a 25
quilómetros do final. Esta iniciativa extremamente eficaz surgiu também no
final da subida do Mount Pleasant.
Remco Evenepoel foi em
solitário até à linha de meta, onde teria tempo de sobra para celebrar o
culminar de uma temporada de sonho. O grupo de cinco elementos que seguia em
posição intermédia acabaria por ser absorvido pelo pelotão já nos metros
finais, com o francês Christophe Laporte e o australiano Michael Matthews a
conquistarem, respetivamente, as medalhas de prata e bronze. De ressalvar que
Remco Evenepoel ganhou quase 2m30s a este primeiro grupo de corredores.
Nelson Oliveira foi o
primeiro representante da seleção nacional a chegar, a 3m01s do vencedor. João
Almeida chegou depois, em 60.º lugar, a 5m16s. Ivo Oliveira fechou em 81.º, a
9m31s.
“Queremos sempre mais”, sublinhou o selecionador
nacional. “Sei
que o percurso não nos favorecia muito e com o azar que tivemos pelo meio
acabamos por não conseguir o resultado que desejávamos. Queríamos e
acreditávamos que conseguiríamos fazer melhor, mas acho que tendo em conta as
circunstâncias da corrida acho que foi o resultado possível”.
José Poeira falou ainda
sobre a prestação de João Almeida na prova de hoje. “Também acredito que o
problema de saúde que o João Almeida teve e que o impediu de participar no
contrarrelógio também fez com que hoje não estivesse tão forte. Esta era uma
prova muito longa e difícil e o facto de ter estado algum tempo sem treinar
devido a esse problema poderá ter influenciado a sua prestação”.
Fonte:
Federação Portuguesa Ciclismo
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