Por:
Ana Paula Marques
Foto:
EPA
Os
15 anos de carreira profissional de Alberto Contador estão repletos de
sucessos, entre eles pertencer a um restrito grupo de seis ciclistas que logrou
vencer as corridas de três semanas: Tour, Giro e Vuelta. E fê-lo em todas por
mais de uma vez, o que torna ainda mais valiosas as suas conquistas. Mas nem
tudo foi um mar de rosas no percurso do espanhol, que se despede aos 34 anos.
Não será exagero se dissermos que a sua carreira foi também de sobrevivência.
Primeiro
pela doença (foi mesmo operado ao cérebro em 2004), depois pela polémica
convivência com Lance Armstrong, e finalmente pelo doping. Nos dois primeiros
casos, Contador levou a melhor. Seis meses após ter sido submetido a complicada
intervenção cirúrgica, com riscos de não poder fazer mais ciclismo, regressou
ao mais alto nível; depois ‘ganhou’ o duelo com o norte-americano na estrada e
dentro da equipa, ao ser melhor que ele no Tour. Mas não levou a melhor sobre o
caso de doping. Tentou tudo, numa longa batalha nos tribunais, para provar a
sua inocência, o que não conseguiu.
Mas
o caso de doping não abala em nada a carreira, o respeito de companheiros,
adversários e de pessoas que, fora da esfera do ciclismo, também o aplaudem e
elogiam o seu caráter competitivo.
E
será a forma de correr de Alberto Contador que vai deixar saudades. Muitas. Os
ataques, assim do nada, de longe, em dias sucessivos, como ficaram patentes, de
resto, na sua última Volta a Espanha... Há quem tenha feito as contas e chegado
à conclusão que o ainda ciclista da Trek atacou 11 vezes, em 21 etapas, nesta
Vuelta. A última das quais na tirada do Angliru, que ficará para a história
como o local onde alcançou a sua derradeira vitória.
Contador
nunca escondeu o desejo de ter uma equipa profissional e o seu futuro pode
passar por aí. Aliás, há alguns anos que tem uma formação de escalão inferior,
através da sua fundação, pelo que o salto pode passar por aí. Falou-se muito de
uma associação com o amigo Fernando Alonso, mas o piloto de Fórmula 1, um
apaixonado pelo ciclismo, nunca avançou para um projeto concreto.
Para
já, o que o espanhol quer mesmo é paz e sossego, ainda que as homenagens se vão
sucedendo nos próximos tempos, a começar pela aquela que será feita hoje na sua
terra natal, em Pinto. "Tenho algumas coisas planificadas, mas primeiro
vou encostar a bicicleta e não pensar nela durante algumas semanas", disse
ao jornal ‘Marca’, a quem confessou, de resto, que as quedas no Tour fizeram-no
decidir em definitivo pelo adeus.
Momentos
mais marcantes
O
começo – 2002. Início da carreira profissional, depois de ter começado a andar
de bicicleta já com 12 anos. Fê-lo com a camisola da ONCE. No ano seguinte,
obtinha o seu primeiro grande triunfo, no contrarrelógio da Volta à Polónia,
então com apenas 20 anos.
Doença
que poderia ter sido fatal – 2004. Aquando da sua primeira passagem pela Volta
ao Algarve, em 2009, Alberto Contador contou a Record os momentos dramáticos
que viveu em 2004, quando lhe foi diagnosticado um cavernoma. Teve de ser
operado ao cérebro, com os riscos de não mais poder fazer ciclismo. Após longa
recuperação, regressou em 2005 e para fazer história.
A
glória no Tour – 2007. Três anos após a doença, o espanhol obtém a primeira
vitória na Volta a França. Tinha 24 anos quando entrou nos Campos Elísios como
o novo herói do ciclismo mundial.
Dobradinha
com triunfos no Giro e Vuelta – 2008. Impossibilitado de defender o título no
Tour, porque a sua equipa, a Astana, tinha sido vetada por casos de doping,
Contador conseguia, no mesmo ano, vencer as Voltas a Itália e Espanha.
A
(não) convivência com Lance Armstrong – 2009. A segunda época na Astana
coincidiu com o regresso de Lance Armstrong, após retirada em 2005. O
norte-americano nunca viu com bons olhos a liderança de Alberto Contador na
equipa, mas a estrada tratou de definir a ordem: o espanhol chegava à segunda
vitória no Tour, com o texano a ficar em segundo.
A
carne contaminada – 2010. O terceiro triunfo na mais emblemática corrida foi
anulado, depois de Contador ter acusado doping por clembuterol. Um quantidade
(0,05 nanogramas por mililitro) irrelevante, alegando o ciclista ter ingerido
carne contaminada.
O
castigo e as vitórias retiradas – 2011. Depois de um processo entre avanços e
recursos, suspensões provisórias e levantamento das mesmas, Alberto Contador
apresenta-se na linha de partida, ganhando o seu segundo Giro, fazendo nesse
mesmo ano o Tour, onde foi 5.º. Resultados depois anulados, tal como a vitória
no Tour de 2010, com o Tribunal Arbitral do Desporto (TAS) a confirmar, em
fevereiro de 2012, a suspensão de dois anos, que tinha iniciado em agosto de
2010.
Regresso
triunfal – 2012. Já com a camisola da Saxo Bank-Tinkoff, o madrileno volta a
competir, após a suspensão, ainda em 2012. Faz apenas uma corrida, o Eneco
Tour, antes da Volta a Espanha. No seu país, fez uma das etapas que mais
saudades vai deixar, quando atacou a 50 km da meta, para destronar o então
líder Joaquin Rodriguez. Uma marca de atacante/espetáculo que durou até ao fim
da sua carreira.
As
quedas no Tour e as últimas vitórias – 2014/2015. Foi um Tour atípico o de
2014, com as desistências de Alberto Contador e Chris Froome devido a quedas.
As marcas no corpo de Contador, em especial num joelho, não faziam prever que
sensivelmente um mês e meio depois estaria a festejar o segundo título na Vuelta.
No ano seguinte, fecharia as vitórias nas grandes voltas com mais uma no Giro.
A
retirada em grande – 2017. Alberto Contador tinha anunciado inicialmente
retirar-se em 2016, depois de mais um Tour marcado pelo abandono devido a
quedas. Mas o show que voltou a dar na Vuelta fê-lo repensar e adiar por mais
um ano o adeus. Adeus que aconteceu então no domingo, numa prova onde voltou a
dar espetáculo do ataque. Ainda que não tenha logrado qualquer triunfo este ano
na geral, sai pela porta grande.
Fonte:
Record on-line
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