A
Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta (FPCUB) tomou
conhecimento da iniciativa “Pedala com a Carris” a realizar no dia 17 de
Setembro de 2017, através das redes sociais. Saudamos esta acção, pese embora a
FPCUB não tenha sido envolvida. Mais aproveitamos esta ocasião para verificar a
falta de articulação que a Carris demonstra ao não envolver a sociedade civil,
os trabalhadores da própria empresa e os demais utilizadores de bicicleta, com
quem a FPCUB tem vindo a trabalhar no sentido de contribuir para uma saudável
convivência ao longo dos anos. Como é do vosso conhecimento, tem existido
diversos registos que justificam a oportunidade de melhoria do serviço que a
Carris presta aos seus utentes e à cidade de Lisboa. Parte desses serviços, são
do nosso conhecimento e monitorização, dada a relação privilegiada que a FPCUB
tem mantido, tanto com trabalhadores e sucessivas administrações da Carris,
assim como com o crescente número de utilizadores de bicicleta em Lisboa. Esta
desarticulação, na qual não nos revemos, resulta por exemplo no desenvolvimento
desta iniciativa que V. Exas. Promovem, no mesmo dia (e em concorrência) com o
evento da FPCUB “Bicla Fest / Lisboa Ciclável” promovido desde o ano 2000, em
estreita articulação com a Câmara Municipal de Lisboa. Tendo sido a Carris
convidada na pessoa do seu Presidente Tiago Farias, (convite ao qual a Carris
não se dignou a responder), esta atitude leva-nos a concluir que a Carris ou
está a agir de má-fé ou está a exercer as suas actividades em total desrespeito
pelo trabalho da sociedade civil. Apesar desta forma de gestão a FPCUB está,
como sempre esteve, disponível e interessada para contribuir para a melhoria da
mobilidade urbana em Lisboa, tendo aliás, recebido várias propostas de
utilizadores de bicicleta da Carris, que muito contribuiriam para os objectivos
que agora a Carris se propõe. Este conhecimento e experiência que aparentemente
a Carris está a desconsiderar leva-nos a reforçar algumas das necessidades
pelas quais temos vindo a pugnar: 1. Ensinar (a quem não souber) os
funcionários, condutores e seus familiares a andar de bicicleta e a utilizarem
a bicicleta em meio urbano; 2. Voltar a formar e sensibilizar condutores para a
interação com os utilizadores de bicicleta na via pública; 3. Pôr em prática,
em Lisboa, um método usado no Brasil, que consiste em colocar condutores de
autocarros e viaturas pesadas numa fila de bicicletas fixas (estáticas) para
que estes experienciem a sensação de serem ultrapassados à tangente por
viaturas de grande porte, comuns no dia-a-dia na cidade de Lisboa, e cujos relatos
nos têm chegado; 4. Concretização de Bike Meeting Carris / FPCUB promovendo a
partilha informal de experiências. Concluindo, reitera-se à Carris a
necessidade de mudança de posição, tendente a uma partilha de utilização de
faixas BUS, não apenas por motociclos mas também de velocípedes, sendo este,
nalguns casos, um factor de segurança acrescida para os atuais utilizadores de
bicicletas, tal como para potenciais utilizadores que venham a contribuir para
a alteração da repartição modal. Como sabemos, com o início do Sistema de
Bicicletas Partilhadas promovido pela Câmara Municipal de Lisboa através da
EMEL, potenciará um número crescente de utilizadores de bicicleta na via
pública e cuja segurança rodoviária, condução defensiva urge acautelar.
A
propósito deste e outros temas que abordámos, aproveitamos para juntar um
excerto de reclamação apresentada a essa empresa e que justifica uma gestão
mais inclusiva dessa empresa, que não ignore este conhecimento prático
acumulado ao longo de anos na utilização da bicicleta e transportes públicos em
Lisboa:
“Razia
seguida de tentativa de atropelamento por condutor da Carris Dia 2 de Fevereiro
de 2017, por volta das 9:20 da manhã, o condutor do autocarro Carris com a
matrícula 63-HX-33, a circular na Av. de Berlim, tendo saído da Gare do
Oriente, colocou-se atrás de mim, junto ao AKI, indo eu a circular de
bicicleta, na faixa do meio, deixando a faixa do BUS à direita livre, bem como
a faixa da esquerda igualmente livre. Eu pretendia seguir em frente e estava na
posição correcta. O autocarro queria virar à direita, nos semáforos que cruzam
a AV. Infante D. Henrique e que estavam com o vermelho aceso. O condutor do
autocarro começou a buzinar de forma ameaçadora atrás de mim e de seguida
ultrapassou-me pela esquerda, mas não o fez usando a faixa livre da esquerda,
fê-lo muito próximo de mim, assustando-me e quando estava ao meu lado, começou
a virar o autocarro para a direita, para me tentar atingir, com elevado risco
de atropelar ou fazer cair. Fiquei completamente atónito com esta tentativa
completamente inesperada de agressão física, que seria consumada, se não
tivesse reagido prontamente. Nos semáforos, que continuavam com o vermelho
aceso, coloquei-me ao lado do autocarro para confrontar o motorista e este
apenas demonstrou que praticou aquele acto de forma deliberada e intencional,
sem qualquer respeito pela minha vida, que acabara de colocar em elevado risco,
com duas faixas completamente livres para circular. Faço esta avenida todos os
dias de bicicleta, há cerca de 6 anos, para deslocações de trabalho ou levar os
meus filhos à creche e nunca me aconteceu tal coisa. Levar uma razia dum
autocarro de várias toneladas, seguida duma tentativa de abalroamento /
atropelamento, é uma agressão demasiado grave para deixar passar em branco. Sei
que a Carris prima por outros valores e que esta atitude não é digna dum vosso
condutor.”
Somos
da posição que a Carris tem um enorme valor acumulado ao longo dos anos e é
peça fundamental para um futuro de mobilidade sustentável da cidade de Lisboa,
contudo, deve rever esta prática agora iniciada, ouvindo e envolvendo a
sociedade civil, aproveitando o conhecimento que os utilizadores de bicicleta
têm, sobretudo, tendo em conta que pelo menos cerca de 30 associados da FPCUB
são condutores da Carris. Os condutores associados e outros membros da FPCUB,
formaram ao longo dos últimos dez anos, mais de 850 pessoas, a aprender a andar
de bicicleta e saber circular na via pública, em cursos organizados pela FPCUB
e pela Câmara Municipal de Lisboa, estando a decorrer nos dias 9, 16 e 23 de
Setembro, mais uma edição, também por ocasião da Semana Europeia da Mobilidade.
Estamos certos que as relações FPCUB – Carris retomarão o seu curso normal com
as actividades previstas supra citadas.
Lisboa,
12 de Setembro de 2017
A
Direcção FPCUB
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