Por: Miguel Marques
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
O ciclismo profissional
encontra-se no centro de uma das suas polémicas mais debatidas: o uso
generalizado de suplementos de cetonas. O grupo “clean-cycling” Movimento por
um ciclismo credível (MPCC) criticou publicamente a União Ciclista
Internacional (UCI) por não resolver a questão das cetonas, deixando o pelotão
num prolongado limbo.
Um comunicado recente do MPCC
alertou que a longa espera da UCI pelos resultados dos estudos encomendados se
tornou “embaraçosa”, e exigiu uma posição firme: ou aprovar o uso ou proibi-lo
de forma clara. Segundo o MPCC, a avaliação de impacto anunciada pela UCI há
meses poderá ser adiada até ao final de 2025, um prazo que consideram
inaceitável face às implicações para a saúde dos atletas e a credibilidade da
modalidade.
Apesar da pressão crescente, a
UCI não impôs uma proibição, mas, em outubro de 2025, desaconselhou formalmente
a suplementação com cetonas.
O que são
as cetonas e porque geram controvérsia?
As cetonas, muitas vezes
apresentadas como o quarto macronutriente, são apontadas como fonte de energia
alternativa para corpo e cérebro, poupando as reservas de glicogénio e
oferecendo vantagens na endurance e na recuperação. Podem resultar de cetose fisiológica
(jejum ou dietas sem hidratos) ou da ingestão de ésteres ou sais de cetonas
exógenas. As alegações vão de melhor endurance e explosividade nas fases finais
a recuperação mais rápida e maior foco mental.
A adesão do ciclismo às
cetonas acelerou quando várias equipas de topo começaram a associar-se
publicamente a grandes marcas de suplementos, como a Team Visma | Lease a Bike
e a Soudal - Quick-Step. Segundo fontes do pelotão, em provas como a última
Volta a França, até 75 % dos corredores poderão ter usado cetonas. Como os
suplementos de cetonas são legais (não constam da lista de substâncias
proibidas da WADA), equipas e corredores decidem individualmente se os
utilizam.
No seio do MPCC, a tensão
aumenta. O boletim defende que a UCI deve resolver a incerteza. “A questão das
cetonas é mais problemática do que nunca. Ou a UCI tem a certeza de que o uso
de cetonas é aceitável e deve dizê-lo… ou não tem, e deve afirmar clara e
inequivocamente que a instituição não recomenda a sua utilização, ou até que a
proíbe”.
Um
mercado em expansão para lá do ciclismo
Entretanto, a indústria de
suplementos de cetonas explodiu para lá do ciclismo profissional. As campanhas
de marketing visam não só atletas, mas também o público em geral, promovendo as
cetonas como “estimulantes mentais”, “combustível para a endurance” e
“potenciadores de desempenho”.
Mesmo que a UCI as afaste, as
autoridades enfrentarão desafios de aplicação: as cetonas estão amplamente
disponíveis como suplementos nutricionais, não como substâncias proibidas, o
que torna a deteção muito mais difícil. O debate, assim, toca questões mais
profundas: como lidar com suplementos ergogénicos legalmente disponíveis para
todos, sem comprometer a equidade, a saúde e a credibilidade.
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