Por: Miguel Marques
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
O debate sobre o futuro
financeiro do ciclismo profissional adensou-se, com o organizador da Volta a
França, a ASO, a afastar publicamente o acesso pago à beira da estrada, apesar
de vozes influentes alertarem que o atual modelo económico do World Tour se
torna cada vez mais difícil de sustentar.
Preocupações já tinham sido
levantadas, entre outros, por Valerio Piva, da Team Jayco AlUla, e pelo antigo
chefe da Decathlon AG2R LA Mondiale Team, Vincent Lavenu, que descrevem um
sistema em que a diferença entre as estruturas mais fortes e as mais vulneráveis
aumenta ano após ano, alimentada pelo facto de "o ciclismo não beneficiar
dos direitos televisivos, nem da bilhética". Com "quatro a cinco
grandes equipas" a vencerem a maioria das corridas enquanto outras
"ficam com as migalhas", ambos foram claros: o pelotão tem de
enfrentar a questão de como gerar novas receitas se quiser proteger corredores,
staff e a estabilidade a longo prazo.
Foi nesse contexto mais amplo
que o antigo profissional e ex-diretor da B&B Hotels, Jerome Pineau,
sugeriu que zonas controladas e pagas em subidas como o Alpe d’Huez poderiam
integrar uma solução futura, argumentando que "torna-se possível cobrar
uma entrada" se a área for delimitada e gerida.
A proposta, contudo, encontrou
resistência imediata entre quem defende que a reforma comercial não deve
ocorrer à custa da identidade que define o ciclismo.
ASO fecha
a porta: "O ciclismo é por definição gratuito"
A ASO respondeu agora de forma
direta, assumindo a posição pública mais definida até à data. Em declarações ao
La Derniere Heure, o diretor-adjunto de ciclismo, Pierre-Yves Thouault,
sublinhou que a cultura de acesso livre do desporto não é algo que a organização
esteja disposta a sacrificar.
"O ciclismo é por
definição gratuito. A introdução de vendas de bilhetes está absolutamente fora
de questão".
Esta posição aproxima-se da de
Lavenu, que alertou que "retirar o acesso gratuito não parece uma boa
ideia", ainda que reconheça a necessidade de um debate estrutural
alargado. Ecoa também as palavras do presidente da UCI, David Lappartient, que
avisou que a reação seria imediata e forte, notando que "se tentarem
cobrar para ver o Tour, enfrentarão uma enorme resistência".
Pressão
financeira vs proteção cultural
Esta última resposta evidencia
a clivagem central do debate: os dirigentes de equipas focam-se na
sustentabilidade, enquanto os organizadores privilegiam a acessibilidade.
Nenhuma posição é irrazoável, mas, por agora, puxam em sentidos opostos. A
tensão é evidente, o ciclismo precisa de receitas novas, fiáveis e equitativas,
mas a experiência de beira da estrada continua a ser uma das suas tradições
intocáveis.
Para já, a mensagem da ASO é
inequívoca, mas as preocupações levantadas por Piva e Lavenu não desapareceram.
A questão já não é saber se o ciclismo valoriza a sua identidade de acesso
livre, isso parece claro, mas como o desporto encontra um modelo económico
moderno que não a ponha em risco.
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