Por: Carlos Silva
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
A saúde mental continua a ser
um dos temas mais negligenciados no desporto profissional e o ciclismo não é
excepção. O alerta foi deixado por Martijn Tusveld, antigo ciclista holandês do
World Tour, que revelou que apenas uma equipa do pelotão de elite tem um
psicólogo desportivo a tempo inteiro.
Tusveld, que representou a
Team Picnic PostNL entre 2018 e 2024, terminou a sua carreira esta época e está
agora a preparar-se para seguir um outro caminho, mas fora da bicicleta:
tornar-se psicólogo desportivo. Em entrevista ao In de Leiderstrui, o ex-profissional
mostrou-se surpreendido com a pouca atenção que as equipas de topo dedicam à
componente mental dos seus ciclistas.
“Penso que contribuí com
alguma coisa, apesar de não ter marcado pontos”, afirmou. “A equipa manteve-se
praticamente igual e isso é também um elogio ao pessoal de apoio: treinadores,
nutricionistas e o psicólogo desportivo. Essa estrutura faz diferença.”
Depois de anos no World Tour,
Tusveld terminou a carreira a competir pela BEAT Cycling Club, equipa
continental neerlandesa, onde encontrou um ambiente mais próximo e humano, algo
que segundo ele, falta em muitas estruturas de topo.
“A diferença entre o World
Tour e as equipas continentais é que, nas mais pequenas, os ciclistas correm
muitas vezes para os resultados pessoais. No World Tour, há mais espírito
colectivo, e isso ajuda a evoluir como equipa. Essa abordagem é fundamental.”
O lado
invisível do alto rendimento
Tusveld, agora com 32 anos,
está a realizar um estágio com o psicólogo da sua antiga equipa e acredita que
esse é um campo onde o ciclismo tem muito a aprender.
“Vejo um futuro nesta área,
porque noto que há pouca atenção para ela. Há muito foco no treino e na
nutrição, mas o apoio mental e pessoal continua a ser negligenciado”, explicou.
Segundo o holandês, apenas a
Lidl–Trek dispõe de um psicólogo a tempo inteiro no World Tour. “No World Tour,
só há uma equipa que emprega um psicólogo desportivo a tempo inteiro. É a
Lidl–Trek, e sei que querem fazer mais. Existe procura por esse apoio, mas a
maioria das equipas ainda o ignora. No entanto, acredito que chegará o momento
em que esse suporte será parte integrante das estruturas.”
Um tabu
que persiste
Num ambiente cada vez mais
profissionalizado, onde os ganhos marginais determinam a diferença entre vencer
e perder, Tusveld considera “surpreendente” que equipas com orçamentos de
dezenas de milhões de euros continuem a desvalorizar a vertente mental.
“Veja-se o medo de cair é algo
comum, mas que ainda não pode ser discutido abertamente. É um tema tabu. E
enquanto isso não mudar, os ciclistas continuam a carregar esse peso em
silêncio.”
Além da componente
psicológica, o ex-ciclista identifica também lacunas na cultura interna das
equipas, onde a pressão constante e a ausência de espaços seguros agravam o
problema.
“Ainda há muito a ganhar
nessas áreas. O mesmo se aplica à cultura de equipa. No ciclismo, continua a
existir uma mentalidade conservadora, mas vejo que, aos poucos, estão a surgir
mudanças. E isso é um bom sinal.”
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