Por: Carlos Silva
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
O conflito entre a SRAM e a
União Ciclista Internacional (UCI) subiu de tom. O CEO da marca
norte-americana, Ken Lousberg, publicou uma carta aberta onde critica
abertamente o novo Maximum Gearing Protocol da UCI, uma medida que limita as
relações de transmissão utilizadas nas bicicletas do pelotão profissional. A
SRAM, sentindo-se injustamente visada, apresentou uma queixa formal junto da
Autoridade da Concorrência da Bélgica.
A origem
da polémica
Em junho, a UCI anunciou a
introdução experimental de restrições no escalonamento de transmissões,
justificando a medida com a intenção de aumentar a segurança dos ciclistas. No
entanto, a decisão gerou desconforto imediato entre as equipas e fabricantes,
sobretudo porque o sistema de transmissão 1x da SRAM - utilizado, entre outros,
por Jonas Vingegaard na sua nova Cervélo S5 durante a Volta a França 2025 -
seria um dos mais penalizados pelas novas regras.
Na carta aberta publicada, Ken
Lousberg afirmou que a empresa tentou dialogar com a UCI “de boa fé”, mas que
as suas preocupações “ficaram sem resposta”.
“O novo Maximum Gearing
Protocol vai restringir o equipamento em que muitos de vocês confiam para
pedalar e competir ao mais alto nível. Limita a escolha, sufoca a inovação e
prejudica injustamente os ciclistas da SRAM - e a própria SRAM”, escreveu o dirigente.
“Não pedimos muito. Apenas
queremos que os nossos ciclistas possam competir em igualdade de condições e
que a indústria seja reconhecida como um parceiro essencial, trabalhando em
conjunto para tornar o ciclismo mais seguro e inspirador”, acrescentou.
Lousberg sublinhou ainda que a
nova regra “já provocou confusão, ansiedade e perturbações”, reiterando que o
compromisso da SRAM com a segurança e inovação “permanece inalterado”.
Queixa
formal e danos reputacionais
Num comunicado oficial, a
marca norte-americana explicou que, embora a UCI classifique a medida como um
“teste”, a sua implementação “já causou danos tangíveis”.
“As transmissões da SRAM foram
publicamente rotuladas como não conformes, o que gerou danos reputacionais,
confusão no mercado, ansiedade entre equipas e atletas, e possível exposição
legal”, lê-se na nota.
A SRAM argumenta que é o único
grande fabricante cujos grupos utilizados por equipas World Tour são afetados
de forma direta, o que, na sua perspectiva, cria uma desigualdade competitiva
evidente.
Opiniões
divididas no pelotão
As restrições de transmissão
têm dividido profundamente o pelotão e a comunidade técnica do ciclismo. No
início do ano, ciclistas como Chris Froome e Wout van Aert defenderam
publicamente a ideia de limitar a evolução tecnológica para melhorar a segurança.
Froome chegou a dizer que “talvez seja altura de discutir a limitação do avanço
tecnológico no ciclismo, algo tão simples como restringir as relações de
transmissão”.
Mas outros nomes de peso
contestaram a proposta. Antes da Artic Race, em agosto, Tom Pidcock, da Q36.5
Pro Cycling Team, afirmou que “limitar as mudanças só tornará tudo mais
perigoso”.
Na mesma linha, Dan Bigham,
responsável de engenharia na Red Bull – Bora – Hansgrohe, apresentou na
conferência Science and Cycling em Lille um estudo que conclui que as novas
restrições “não terão qualquer impacto na velocidade do pelotão” e, por isso, “não
contribuirão para aumentar a segurança dos ciclistas”.
“Temos poder para implementar
mudanças reais, mas restringir as relações de transmissão apenas desvia a
atenção das medidas verdadeiramente relevantes para proteger os ciclistas”,
sustentou Bigham.
O debate
continua
A polémica entre a SRAM e a
UCI promete marcar os próximos meses. Por um lado, o organismo internacional
insiste que o protocolo é apenas um teste destinado a recolher dados sobre
segurança. Por outro, a SRAM afirma que o processo carece de diálogo, transparência
e equidade.
Enquanto a batalha legal
avança, o debate sobre até que ponto a inovação tecnológica deve ser limitada
em nome da segurança continuará a dividir o mundo do ciclismo entre quem vê
progresso e quem vê risco.
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