Conheça as apostas de cada formação e também os seus objetivos
Por: Pedro Filipe Pinto
Depois de Giro e Tour, é hora
das equipas jogarem as últimas cartadas na temporada, para uma Vuelta que conta
com um dos elencos mais fortes dos últimos anos. A lógica é a habitual, com 22
equipas presentes, 18 vindas do escalão UCI WorldTeams, 2 do UCI ProTeams e 2
convidadas, que como seria de esperar são espanholas, no caso a Burgos BH e
Caja Rural–Seguros RGA.
Abaixo poderá conhecer um
pouco melhor cada uma delas, saber as suas apostas e quais os reais objetivos.
Uma análise da autoria do especialista Pedro Filipe Pinto.
SOUDAL
QUICK-STEP
Remco contra todos! Com uma
equipa bastante medíocre à sua volta, o recém-coroado campeão do Mundo de
contrarrelógio vai defender a camisola vermelha que conquistou na época
passada, missão que não se avizinha nada fácil. O belga tem um percurso à sua
medida, mas os números poderão fazer a diferença, principalmente quando se olha
para os outros nomes que têm vitória final na mira. Há poucos ciclistas na
história da modalidade que possam dizer que ganharam tanto como Remco aos 23
anos. Isso mostra que estamos a falar de um corredor especial que não se
contenta com o 2º lugar. A Covid-19 traiu-o no Giro quando parecia dois ou três
degraus acima de toda a gente, por isso chega a Espanha ainda mais motivado e
com o objetivo de conquistar a segunda grande volta da carreira. Se Evenepoel
falhar, é bem possível que a Soudal saia da Vuelta completamente de mãos a
abanar.
JUMBO-VISMA
Ganhar ou… ganhar! A Jumbo tem
a oportunidade de fazer história tornando-se na primeira equipa a conquistar as
3 grandes voltas numa temporada. Roglic venceu o Giro, Vingegaard bisou no Tour
e agora dividem a liderança no ataque à Vuelta. O percurso é a cara chapada do
esloveno, mas o dinamarquês já mostrou que, em forma, está um nível acima de
Pogacar e pelo menos dois acima de todos os outros. A estrada vai ditar quem é
o líder, sendo que estes dois trazem uma super equipa para os ajudar: Sepp
Kuss, o melhor gregário de montanha do Mundo, vai fazer a sua terceira grande
volta deste ano, e a ele se juntam nomes importantes como Kelderman, Van Baarle
ou Valter. Vai ser muito complicado desmoronar este bloco…
UAE TEAM
EMIRATES
Tal como a Jumbo, a Emirates
também traz dois líderes – Juan Ayuso e João Almeida –, mas há duas ‘pequenas’
diferenças: estes nunca ganharam uma grande volta e o bloco de apoio está cerca
de 63 degraus abaixo em relação às ‘abelhas’. Marc Soler e Vine vão ter o papel
de deixarem Ayuso e Almeida confortáveis, mas depois caberá aos dois líderes
terem a capacidade de responder a Roglic e Vingegaard. Já há uns meses que
venho a dizer que só Ayuso vai conseguir aproximar-se de Pogacar e Vingegaard
nos próximos anos, e tem aqui uma palavra forte a dizer. Peço desculpa aos fãs
portugueses, vejo-o com fortes possibilidades de ganhar esta Vuelta e, por
isso, acho que vamos ver João Almeida a trabalhar para ele. Mas isso não
significa uma má posição para o português, veja-se o que a Emirates fez no
Tour, colocando dois homens no pódio. Nota ainda para Rui Oliveira, que vai ter
um papel determinante para lançar Molano nas chegadas ao sprint.
MOVISTAR
TEAM
Depois da desilusão que foi a
queda na primeira etapa do Tour, Enric Mas chega com sentimento de vingança e o
objetivo mínimo será repetir o pódio das últimas duas edições – foi segundo em
ambas. O espanhol apresenta-se sempre em boa forma nesta corrida, mas tem
sempre apanhado pela frente ‘monstros’, e isso vai voltar a acontecer. Ou seja:
ou vira monstro também, ou então nem ao pódio irá. Vai fazer grande parte do
trabalho sozinho, porque, perante a concorrência vejo Ruben Guerreiro e Einer
Rubio a focarem-se mais em vitórias de etapa. Uma palavra também para Nelson
Oliveira, que, depois da excelente prestação nos Mundiais de contrarrelógio
(6º), vai ser o principal ajudante de Mas no crono coletivo do 1º dia.
INEOS GRENADIERS
Quando acaba Geraint Thomas?
Parece que o fim ainda não está perto, e nós só podemos agradecer. Porque para
além de uma simpatia de realçar, o galês continua a ser dos melhores voltistas
do Mundo e, depois do 2º lugar no Giro, tenciona intrometer-se entre
(permitam-me de novo esta expressão) os monstros. Aos 37 anos, aponta a outro
pódio numa grande volta e contará com a preciosa ajuda de homens como De Plus,
Arensman, Ganna e Bernal, que tem aqui mais 21 dias de competição na quase
impossível missão que é tentar voltar ao que já foi – o melhor voltista do
planeta. O top 3 é objetivo, mas tendo em conta a concorrência, um top 5 também
não seria um mau resultado.
ASTANA QAZAQSTAN TEAM
Se estão à espera de ver a
Astana na frente… isso só acontecerá nas fugas. Este alinhamento dos cazaques é
digno de 2º escalão e não me admirava que não retirassem nada de bom da Vuelta.
A grande esperança para a geral acaba Battistella, mas acredito mais nas fugas,
também com os experientes David de la Cruz, Dombrowski, Fabio Felline ou Luis
León Sánchez.
TEAM DSM –
FIRMENICH
Romain Bardet está pela
terceira vez alistado para a Vuelta e espera acabar no top 10 pela primeira
vez. Como é normal na DSM, não terá grande apoio à sua volta pelo que a sua
posição final vai depender das pernas (que informação dramática) e da
capacidade que terá para escolher as fugas certas na última semana, com a
intenção de surpreender os adversários e subir algumas posições na geral,
porque no confronto direto não terá qualquer hipótese. Dentro desta equipa,
estou curioso para ver Lorenzo Milesi, recém-coroado campeão do Mundo de sub-23
em contrarrelógio, que também deixou boas indicações na corrida de fundo. Já
Dainese, com a fraca classe de sprinters que teremos, ‘arrisca-se’ a ganhar uma
ou duas etapas e a lutar pela camisola dos pontos.
AG2R CITROEN TEAM
Imaginem estar a escrever a
análise das equipas da Volta a Espanha, super entusiasmados para falar da
Jumbo, da Emirates, do Remco Evenepoel… e depois chegam a esta AG2R. Depois do
excelente Tour que fizeram com Gall no 8º posto, podiam mostrar um pouco mais
de ambição do que Vendrame, Warbasse e Lapeira. Não merecem mais caracteres…
LOTTO
DSTNY
O mesmo se aplica a esta
Lotto, que podiam, ao menos, trazer Arnaud de Lie. Têm ali uma ‘bomba’ de
sprinter, e com a fraca qualidade que há nesta Vuelta no que a homens rápidos
diz respeitam, podiam dar este ‘bombom’ ao belga de 21 anos que leva 7 vitórias
esta época. Depois ia sofrer bem nas montanhas, mas algum dia terá de
estrear-se numa grande volta… Sendo assim, as esperanças estão em Milan Menten
para os sprints e em Eduardo Sepulveda e Korn. Há também De Gendt para as
fugas, veremos se o ‘rei’ ainda tem pernas para sacar uma vitória.
TotalEnergies
Por causa de uma estupidez de
um adepto, Steff Cras caiu e foi forçado a abandonar a Volta a França quando
lutava pelo top 10. Agora tem aqui outra boa oportunidade, mas arrisco-me a
dizer que a concorrência é ainda mais forte. O belga de 27 anos é a grande
esperança da TotalEnergies, que está desesperada para encontrar uma nova fonte
de rendimento (desportivo e não só) devido à já anunciada reforma de Peter
Sagan. Mas para além de Cras, esta equipa tem Pierre Latour. Nunca atingiu o
potencial que lhe era atribuído, mas sabe o que é ganhar na Vuelta: fê-lo em
2016, veremos se tem capacidade para ‘renascer’ 7 anos depois.
CAJA
RURAL-SEGUROS RGA
A minha grande dúvida é: será
que Iuri Leitão não conseguiria bons resultados nos sprints desta Volta a
Espanha? É provável, mas a Caja Rural preferiu o campeão venezuelano ao campeão
do Mundo de omnium. Mas se Oluis Aular ganhar uma etapa na Vuelta terá um pouco
de sabor português, isto porque o corredor de 26 anos conquistou a Volta ao
Alentejo deste ano… sem vencer uma única etapa. Sprinta bem, passa bem as
colinas e tem explosão. Nome interessante para ter debaixo de olho. No que toca
às montanhas, Jefferson Cepeda é o nome forte desta formação espanhola.
BAHRAIN
VICTORIOUS
A última grande volta de Mikel
Landa ao serviço da Bahrain. O fim de um ciclo. Será desta que o espanhol vai
subir ao pódio? Com Buitrago e Caruso, é bem possível que haja uma mudança de
planos ao longo da prova, mas se isso acontecer, há uma boa notícia: o Landismo
estará vivo! Agora a sério: Landa vai lutar pelo top 5, mas a concorrência é
muita e pelo que tem mostrado nos últimos tempos (foi 19º no Tour), não é
líquido que consiga alcançar esse objetivo. Buitrago será um perigo nas fugas
e, com elas, vai ameaçar o top 10. Já Caruso é capaz de ser o homem mais
regular da equipa. Poels, se apresentar a forma do Tour, também poderá atacar a
vitória de etapa.
INTERMARCHÉ
- CIRCUS – WANTY
A própria equipa anunciou que
vai à Vuelta com apenas um objetivo: ganhar etapas. E tem muitas e boas cartas
a jogar. Um dos ases de trunfo é Rui Costa, que está a fazer uma temporada de
excelente nível e, apesar de não ter tido oportunidade para brilhar no Tour,
mostrou em San Sebastian (8º) que continua em boa forma e vai ser uma ameaça
real nas fugas. Kobe Goossens, Rune Herregodts e Taaramäe também serão armas
importantes da equipa belga, mas o outro ás de trunfo chama-se Gerben Thijssen:
o sprinter de 25 anos tem 4 vitórias em 2023 e pode marcar uma posição
importante nesta Vuelta.
TEAM
JAYCO ALULA
A prestação de Dunbar no Giro
(7º), prova na qual chegou a ameaçar o pódio de João Almeida, mostrou que sair
da Ineos foi o passo certo e agora tem na Vuelta mais uma hipótese para se
cimentar como líder da Jayco em grandes voltas. A concorrência é muito mais
forte do que em Itália, pelo que o objetivo deve passar pelo top 10 e, quem
sabe, uma etapa. A estratégia pode ser, tal como Bardet, defender-se numa primeira
instância e depois acerta na fuga certa para fazer perigar os lugares cimeiros.
Tal como no Giro, Filippo Zana estará ao lado do líder irlandês, mas terá
liberdade para procurar uma etapa.
GROUPAMA –
FDJ
Tivemos Pinot, tivemos Bardet,
tivemos (sim, tivemos) Gaudu… agora temos Lenny Martinez. França tem um novo
menino bonito e neste jovem de 20 anos que recaem todas as esperanças de uma
nação que há 38 anos não ganha o Tour – o último foi Bernard Hinault, em 1985.
Tal como os outros nomes mencionados, Lenny é um trepador puro e vai estrear-se
numa grande volta, para, quiçá, preparar-se para o Tour do próximo ano. Tem
apenas uma vitória na carreira, mas foi na Clássica do Mont Ventoux, contra
nomes como Michael Woods, Simon Carr ou Iván Ramiro Sousa. O entusiasmo está lá
todo (tal como estava com os outros), falta saber se o ‘puto’ vai conseguir
responder bem a esta pressão. Storer vai ser o seu principal ajudante em
Espanha.
TEAM
ARKEA – SAMSIC
Não há muitas chegadas para
pelotão compacto, mas, como já disse, a classe de sprinters é fraca, pelo que
até Hugo Hofstetter pode ter uma oportunidade para brilhar e ser o salvador de
uma Arkéa que não leva grandes nomes a Espanha. Cristian Rodríguez será a
aposta para as etapas de montanha, sendo que Ries e Gesbert também vão tentar a
sorte.
LIDL –
TREK
Já disse que a qualidade dos
sprints vai ser muito má? Já? Então vou mudar: imaginem que vão ao Lidl a meio
do mês, com pouco dinheiro para comprar uma vitória de etapa. Só conseguem
comprar se estiver em promoção, porque a vossa carteira não é muito funda.
Sabem como se chama? Edward Theuns. Até ele pode ser candidato. Se Roglic
quiser arriscar, até ele poderá sacar uma vitória. Peço desculpa aos sprinters
desta Vuelta, estou a exagerar e a ser mau. No que toca à geral, a Lidl Trek
tem Bauke Mollema como líder, mas acredito que o objetivo seja mais a conquista
de etapas, com o holandês e também com o talentoso Juanpe López.
EF
EDUCATION – EASYPOST
Foi na Volta a Espanha que Hugh
Carthy conseguiu o melhor resultado da carreira – 3º lugar final – mas a
verdade é que nunca mais se viu esse corredor. Agora é apenas e só um bom
trepador com pouco potencial para fazer top 10 nas grandes voltas com o talento
que agora há no pelotão. Deverá focar-se em tentar ganhar uma etapa, tal como a
restante equipa, com principal destaque para Caicedo e Marij van de Berg,
sprinter que recentemente venceu na Volta à Polónia. Bisegger é candidato no
contrarrelógio individual, mas depois da desilusão nos Mundiais (16º) já não
digo nada…
COFIDIS
Depois de um excelente Tour
(apesar de não ter nenhuma etapa), Bryan Coquard será dos principais candidatos
à vitória nas chegadas em pelotão compacto e o grande favorito para a
classificação dos pontos. Para além dele, Jesús Herrada procurará nova vitória
através de fugas e estou curioso qual será o papel de André Carvalho, português
de grande talento que se estreia em grandes voltas.
BORA –
HANSGROHE
É loucura eu achar que numa
equipa com Vlasov, Kamna, Higuita e Buchmann, Cian Uijtdebroeks vai ser a
principal figura? O jovem belga terá liberdade para lutar por aquilo que bem
lhe apetecer, porque a Bora ainda precisa de perceber bem onde é que o potencial
tremendo deste jovem de 20 anos vai dar. Foi 7º na Suíça, 6º na Romandia, 9º na
Catalunha e em Omã. Consistência ao longo de todo o ano mostra que há ali algo
especial, não é um Remco, mas há potencial. Dos nomes seguros, Vlasov será o
líder e o top 5 é o objetivo mínimo, principalmente quando tem uma equipa tão
forte à sua volta. Kamna, se não estiver bem colocado na geral, será um perigo
à solta nas fugas.
BURGOS-BH
Lembram-se do Daniel Navarro?
Os resultados não o mostram, mas era um super trepador e em 2013 fez o seu
único top 10 numa grande volta, e logo no Tour. Admito que era fã do espanhol e
gostava de o ver ganhar uma etapa nesta Vuelta. Só há um pequeno problema: tem
40 anos. Não será fácil para ele nem para a equipa. Curioso para ver o que consegue
fazer José Manuel Díaz, que ganhou uma etapa no Troféu Joaquim Agostinho. Jetse
Bol tentará os sprints e Barthe está ativo nas fugas.
ALPECIN-DECEUNINCK
O melhor sprinter do pelotão
ficou guardado para o fim. A Alpecin foi a última equipa a anunciar os
convocados para Vuelta e isso deu-lhe a vantagem de perceber que o seu homem
rápido seria, teoricamente… o mais rápido de todos. Kaden Groves, vencedor de
uma etapa no Giro, traz um bloco completamente concentrado em si tem 6 etapas
boas para si. Veremos é se consegue chegar ao fim. Em Itália desistiu na 12ª
etapa.
Fonte: Record on-line
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