Por: Marques dos Santos
Na edição passadac a Vuelta
começou na Holanda, com três etapas naquele país do centro europeu. Este ano
volta às origens, com um início que promete em Barcelona. Tal como em 2022, a
primeira etapa será logo um contrarrelógio coletivo que provavelmente colocará
um candidato à geral com uma ligeira vantagem. Mas nada de mais. Até porque as
dificuldades chegarão logo depois, um pouco à imagem do que vimos no Tour, com
um arranque logo a todo o gás... montanha acima.
Ao todo serão pouco mais de 3.100 quilómetros durante 3 semanas (21 dias), num programa que contempla dois contrarrelógios - um coletivo e um individual -, e os tradicionais dois dias de descanso. A montanha será o prato principal desta Vuelta, com sete tiradas de alta montanha, oito com perfil ondulante e, em teoria, quatro a convidar aos velocistas.
A análise, da autoria do
especialista Marques dos Santos, está nas linhas abaixo.
Nota: os gráficos de algumas
etapas surgem com indicações de distância diferentes das oficiais, devido a
alterações de última hora.
Etapa 1: Barcelona a Barcelona (14,8 km - contrarrelógio coletivo)
Tal como a edição transata, o
pontapé de saída da Vuelta será dado com um contrarrelógio coletivo, desta vez
pelas ruas de Barcelona, que marcará o regresso da prova à região da Catalunha.
Com um percurso técnico, mas essencialmente plano e mais curto que o verificado
em Utrecht, em 2022, não se esperam diferenças significativas entre as equipas
com pretensões à classificação geral.
Aposta: Jumbo-Visma
Etapa 2:
Mataró a Barcelona (181,8 km)
Será logo ao segundo dia de competição que os ciclistas vão enfrentar as primeiras montanhas. Com uma 3.ª categoria logo a abrir e uma 2.ª ainda na primeira metade, será o ritmo imposto pelo pelotão que ditará o desfecho da etapa. Devido ao terreno mais acessível após a segunda ascensão da tirada, as equipas dos sprinters tentarão não deixar uma fuga vencer. Contudo, os 900 metros de subida a 9,4% do Montjuïc, já nos quilómetros finais, poderão a levar a ataques dos ciclistas mais explosivos em busca da vitória na etapa e deverão fazer descolar os velocistas mais frágeis.
Aposta: Marijn Van der Berg
(EF Education)
Etapa 3:
Súria a Arinsal/Andorra (158,5 km)
Embora os favoritos possam optar por poupar-se a grandes esforços na segunda etapa, estratégia sensata perante a dureza do percurso que ainda terão pela frente, a terceira tirada já deverá trazer-nos as primeiras movimentações entre os ciclistas da geral. Numa etapa quase sempre em ascensão, duas montanhas de 1.ª categoria já nos 40 quilómetros finais, a últimas das quais a terminar em cima da linha da meta, poderão definir as primeiras diferenças e fazer a primeira seleção entre os candidatos. Quem ainda não estiver nas condições ideais poderá passar um mau bocado, mas entre os ciclistas em melhor forma não haverá grande margem para criar fossos assinaláveis.
Aposta: Primoz Roglic
(Jumbo-Visma)
Etapa 4:
Andorra la Vella a Tarragona (183,4 km)
Depois de uma primeira
passagem pelos Pirenéus, os ciclistas terão pela frente uma etapa que se espera
mais tranquila e uma chance de ouro para os sprinters, que não terão assim
tantas oportunidades de brilhar nesta edição da Volta a Espanha. As
dificuldades dos dias anteriores podem pesar nas pernas de alguns ciclistas e
levar a que uma fuga possa vingar, mas o facto de ainda estarmos no início da
prova torna uma chegada ao sprint com o pelotão compacto o cenário mais
provável.
Aposta: Bryan Coquard (Cofidis)
Etapa 5:
Morella a Burriana (186,5 km)
Apesar de muito sobe e desce e
uma 2.ª categoria a cerca de 50 quilómetros da meta, esta será mais uma etapa
que os sprinters terão apontado no seu planeamento para a prova. A subida do
Collado de la Ibola terá de ser bem gerida pelas suas equipas, por forma a não
deixar escapar a fuga, mas também não sufocar os seus trunfos para a etapa. O
sprint intermédio já perto do fim será um incentivo extra para os candidatos à
camisola verde.
Aposta: Gerben Thijssen (Intermaché-Wanty)
Etapa 6:
La Vall d'Uixó a Observatorio Astrofísico de Javalambre (183,5 km)
Após dois dias que podem fazer
os sprinters sonhar, a Vuelta volta ao seu terreno de eleição para a sua
segunda chegada em alto. Com duas subidas categorizadas e terreno inclinado
durante a maior parte do percurso, será na subida do Pico del Buitre, que fará
apenas a sua segunda aparição na história da prova, que os favoritos tentarão
fazer as diferenças. Com 10,9 km de extensão a uma pendente média de 8%, a
subida que termina no Observatório Astrofísico de Javalambre contempla rampas
que chegam aos 16%. Um mau dia de qualquer um dos favoritos pode levar a perdas
muito difíceis de recuperar.
Aposta: Enric Mas (Movistar)
Etapa 7:
Utiel a Oliva (201 km)
A segunda etapa mais longa
desta edição da Volta a Espanha, que contempla apenas duas tiradas acima dos
200 quilóemtros, será em teoria mais tranquila para os homens da geral, depois
da dureza do dia anterior. O controlo da corrida estará certamente a cargo das
equipas dos sprinters, que terão aqui uma chegada bem ao seu jeito. O vento nas
estradas junto à costa pode, contudo, ser um aspeto a ter em conta.
Aposta: Bryan Coquard (Cofidis)
Etapa 8:
Dénia a Xorret de Catí (165 km)
Mais um dia recheado de montanha, com cinco subidas categorizadas e pouco terreno plano para os ciclistas recuperarem o fôlego. Embora não acabe numa chegada em alto, a subida ao Xorret de Cati será o momento mais aguardado da etapa. Com apenas 3,9 quilómetros de extensão, esta será uma das mais exigentes ‘paredes’ desta edição da Vuelta, com rampas acima dos 20% de inclinação e uma pendente média de 11,4%. Embora devam existir movimentações entre os favoritos, a vitória poderá sair de uma fuga com ciclistas já atrasados na geral.
Aposta: Lennard Kämna (Bora)
Etapa 9:
Cartagena a Collado de la Cruz de Caravaca (184,5 km)
Na última tirada antes do
primeiro dia de descanso, a 2.ª categoria no final da etapa conta com várias
rampas acima dos 15% que poderão fazer diferenças entre os favoritos. Embora
uma fuga possa sair vencedora, as equipas dos trepadores devem assumir o
controlo da corrida, até porque há bonificações à espera dos mais fortes que
podem ser preciosas.
Aposta: Remco Evenepoel (Soudal–Quick-Step)
Etapa 10:
Valladolid a Valladolid (25,8 km - contrarrelógio individual)
O único contrarrelógio
individual desta edição da Vuelta. O traçado pelas estradas de Valladolid não
trará grandes dificuldades e a relativa curta extensão reduz a probabilidade de
se verificarem grandes diferenças entre os favoritos à vitória final. Nesse
sentido, serão os melhores roladores quem vai retirar mais partido desta
tirada. Remco Evenepoel, acabadinho de se sagrar campeão do mundo nesta
vertente, é a aposta mais óbvia para a etapa.
Aposta: Remco Evenepoel (Soudal–Quick-Step)
Etapa 11:
Lerma a La Laguna Negra (163,5 km)
Mais uma etapa cujo desfecho
dependerá da forma como as equipas dos candidatos à geral optarem por abordar a
corrida. Em 2020, Primoz Roglic foi segundo no alto da única dificuldade desta
tirada, na altura com algumas diferenças entre os favoritos. O esloveno será um
dos candidatos ao triunfo, caso a vitória seja discutida entre os pesos
pesados, embora uma fuga numerosa possa estragar esses planos.
Aposta: Primoz Roglic (Jumbo-Visma)
Etapa 12:
Ólvega a Zaragoza (151 km)
Embora não seja uma etapa
verdadeiramente plana, o regresso da Volta a Espanha a Saragoça não tem
qualquer montanha categorizada e tudo indica que os sprinters terão mais uma
oportunidade para lutar pela vitória. No entanto, o vento será um fator a ter
em conta ao longo da tirada.
Aposta: Alberto Dainese (Team DSM)
Etapa 13:
Formigal a Col du Tourmalet (135 km)
Uma das etapas mais curtas da
prova, mas sem dúvida uma das mais decisivas para a classificação geral. Com
uma chegada em alto numa das subidas mais míticas da Volta a França, o tiro de
partida será dado já numa 3.ª categoria, sendo que até ao Tourmalet os
ciclistas vão enfrentar outra categoria especial e uma 1.ª categoria. Uma
tirada que ajudará a perceber quem são os verdadeiros candidatos à camisola
vermelha e onde um dia mau provocará danos irreversíveis nas aspirações de
vários ciclistas, com largos minutos de perda para os melhores.
Aposta: Jonas Vingegaard (Jumbo-Visma)
Etapa 14:
Sauveterre-de-Béarn a Larra-Belagua (156,5 km)
Depois da brutalidade do dia
anterior, os ciclistas despedem-se dos Pirenéus com mais uma etapa duríssima.
Com duas categorias especiais e a meta no topo de uma 1.ª categoria, esta será
mais uma etapa para os favoritos tentarem fazer diferenças. Ainda assim, a
fadiga acumulada do dia anterior faz com que seja provável que o pelotão deixe
fugir trepadores já atrasados na geral, que tentarão conquistar a etapa.
Aposta: Santiago Buitrago (Bahrain)
Etapa 15:
Pamplona a Lekunberri (158,5 km)
Uma etapa perfeita para uma
fuga, especialmente depois da dureza dos dias anteriores. Apesar das várias
subidas categorizadas, nenhuma delas deverá criar problemas de maior ao
pelotão, que deverá aproveitar para gerir o esforço e deixar os ciclistas
escapados discutir a vitória no final. A última montanha, a apenas 8
quilómetros da meta, será o local ideal para o ataque decisivo.
Aposta: Jay Vine (UAE Emirates)
Etapa 16:
Liencres Playa a Bejes (120,5 km)
Após o dia de descanso, os
ciclistas regressam à estrada para uma etapa que guardará as emoções para o
final, onde estará a única dificuldade do dia. Caso o pelotão chegue compacto
ao início da subida, os homens da geral poderão aproveitar as rampas a 15% para
lançar um ataque para a vitória na etapa. A sua curta extensão não deixa, no
entanto, antever diferenças significativas.
Aposta: Primoz Roglic (Jumbo-Visma)
Etapa 17:
Ribadesella a Alto de L'Angliru (124,5 km)
Depois de uma etapa
teoricamente mais calma, as emoções regressarão em força para a tirada que
termina com a mítica subida ao Angliru. Curta, mas explosiva, a 17.ª etapa terá
fortes implicações na classificação geral, com os últimos 6 quilómetros a uma pendente
média de 13,5% a prometerem drama e, claro, muito sofrimento para os ciclistas.
A vitória estará só mesmo ao alcance dos melhores trepadores do mundo.
Aposta: Jonas Vingegaard (Jumbo-Visma)
Etapa 18:
Pola de Allande a La Cruz de Linares (179 km)
Possivelmente a última grande
etapa de montanha da Volta a Espanha, as duas ascensões até La Cruz de Linares,
já depois de três subidas categorizadas e com o cansaço acumulado do dia
anterior, prometem ser mais um momento de decisão para a classificação geral e
quem sabe a última oportunidade para uma reviravolta na liderança. Uma
estratégia bem delineada, suportada por um coletivo forte, poderá fazer toda a
diferença.
Aposta: Remco Evenepoel (Soudal–Quick-Step)
Etapa 19:
La Bañeza a Íscar (177,5 km)
Depois de duas etapas
arrasadoras, os sprinters recebem uma pequena prenda da organização, com uma
tirada perfeita para uma chegada com pelotão compacto. Resta saber se ainda
haverá energia para controlar a corrida e quantos dos homens mais rápidos ainda
estarão em prova.
Aposta: Kaden Groves (Alpecin-Deceuninck)
Etapa 20:
Manzanares el Real a Guadarrama (208 km)
Para o penúltimo dia ficou
reservada a tirada mais longa desta edição da Volta a Espanha, com um total de
dez (!) subidas categorizadas, que certamente serão bastantes disputadas pelos
ciclistas envolvidos na luta pela camisola da montanha. Ainda assim, sem
nenhuma ascensão particularmente exigente, a discussão pela etapa deve passar
pela fuga.
Aposta: David de la Cruz (Astana)
Etapa 21:
Hipódromo de la Zarzuela a Madrid (101,5 km)
Etapa de consagração para os
ciclistas. A tirada mais curta da prova, os sprinters que resistiram ao terreno
montanhoso terão a oportunidade de fechar a Vuelta com chave de ouro.
Aposta: Bryan Coquard
(Cofidis)
Fonte: Record on-line
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