quarta-feira, 16 de março de 2022

“Volta ao Alentejo: O diretor Gustavo Veloso prefere dizer que ainda está a aprender”


Iniciou hoje a sua quinta prova como diretor desportivo da Tavfer-Mortágua-Ovos Matinados

 

Por: Lusa

A nova vida de Gustavo Veloso como diretor desportivo não poderia ter começado melhor, mas o ex-ciclista recusa assumir-se como uma 'lufada de ar fresco' no pelotão nacional, preferindo insistir que está apenas a começar a aprender.

A iniciar hoje a sua quinta prova como diretor desportivo da Tavfer-Mortágua-Ovos Matinados, no arranque da 39.ª Volta ao Alentejo, cuja primeira etapa sai de Vendas Novas, o galego de 42 anos já tem no currículo uma vitória, na Prova de Abertura, e a camisola da montanha da 'elitista' Volta ao Algarve, onde João Matias surpreendeu a concorrência do World Tour.

"Eu acho que não revolucionei assim tanta coisa. Simplesmente, como todas as pessoas que gostam de algo e iniciam um projeto novo, tenho vontade de trabalhar e fazer as coisas o melhor que sei, com os acertos e erros que, pela falta de experiência, possa ter deste lado. Isso, juntamente com a experiência como atleta, o que conheço do ciclismo português e estar numa equipa que, como digo aos meus corredores, não tem nada a perder, só tem a ganhar, permite-nos poder, em certos aspetos, a nível tático, arriscar", avaliou.

O facto de a Tavfer-Mortágua-Ovos Matinados não se "fechar a nada" também possibilita, a nível da planificação, a definição de objetivos que seriam impensáveis noutras equipas, que têm metas mais complicadas a alcançar.

"Tudo o que fazes, bem-vindo seja. E penso que esse medo ao fracasso muitas vezes bloqueia os atletas. Desde esse ponto de vista, qualquer pessoa nova vai dar um bocadinho de ar fresco", completou, em declarações à agência Lusa.

Recém-reformado como ciclista, o bicampeão da Volta a Portugal (2014 e 2015) reconhece que os diretores desportivos que estão há mais tempo no pelotão enfrentam mais pressão do que um 'novato'.

"Quando já tens um palmarés, as pessoas esperam que estejas sempre ao máximo nível. Quando eu era atleta, fazer 10.º na Volta era um fracasso. Para outros atletas, era um grande êxito. Acho que todos os diretores fazem o melhor que conseguem, mas também há limitações, de orçamento, até de atletas, [pois] não há atletas suficientes para garantir uma certa qualidade, para ter uma equipa equilibrada em termos coletivos", notou.

'Gus' evidenciou que, "às vezes, não se valorizam as equipas que, sabendo que vão para as corridas com muita dificuldade para ganhar, conseguem ser protagonistas, indo para as fugas, ganhando uma camisola, dando visibilidade".

"Para haver uns que ganham, há outros que perdem; a minha maneira de entender o ciclismo é um bocado essa. Sei que com a equipa que tenho não vou chegar ao Tour e discutir a prova. Não posso ir a pensar em ganhar a Volta a França. Nem posso ir à Volta a Portugal para tentar discutir, porque não tenho equipa para isso", concedeu, definindo a sua formação como "jovem, equilibrada" e, sobretudo, de formação de ciclistas de futuro.

Confessando que tenta passar aos seus 'pupilos' a experiência que acumulou durante duas décadas como profissional, uma característica que já lhe era (re)conhecida nos seus tempos de ciclista -- e que lhe valeu a alcunha de 'Papá Veloso' -, o galego assume que a transição para a sua nova vida está a ser fácil, nomeadamente porque deixou de correr quando quis.

"Tinha ofertas para continuar, mas cheguei ao ponto em que não queria sofrer mais. Não é uma questão de já não gostar do ciclismo -- continuo a gostar de andar de bicicleta, mas já não gosto de sofrer, de andar à chuva. Para tudo, há um momento na vida e achei que o momento de deixar [o ciclismo] era o ano passado e, por isso, acho que me está a custar menos virar a página. E aqui é aprender desde o primeiro dia", declarou.

Veloso mostrou-se ainda agradecido aos seus agora colegas, que o acolheram de braços abertos nesta sua nova 'encarnação' no pelotão nacional.

"Mesmo nas primeiras reuniões, quando não sabia algo, eles orientavam-me. Nas corridas também dão alguns conselhos. Também sou uma pessoa que gosta de ouvir os outros. Noto e sinto que entre os diretores há uma boa relação. Quando nos podemos ajudar sem prejudicar os interesses individuais, fazemo-lo. Penso que isso é uma das coisas lindas do ciclismo", vincou.

Para aquele que era, até à sua retirada, um dos mais populares ciclistas do pelotão nacional, o mais difícil na função de diretor desportivo é "ter sempre a cabeça a trabalhar".

"Cada corrida é diferente. A preparação é diferente. A nível logístico, há que tomar decisões e orientar e organizar. É um trabalho mais mental. Como atleta, já era um daqueles que ajudam os diretores desportivos. Desse ponto de vista, é algo que, mais ou menos, fui fazendo. Espero não esquecer o que é andar lá no meio e aprender da parte de fora. Na Galiza, há um ditado que diz 'vai o velho morrendo e vai aprendendo'", concluiu.

Fonte: Record on-line

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