Iniciou hoje a sua quinta prova como diretor desportivo da Tavfer-Mortágua-Ovos Matinados
Por: Lusa
A nova vida de Gustavo Veloso
como diretor desportivo não poderia ter começado melhor, mas o ex-ciclista
recusa assumir-se como uma 'lufada de ar
fresco' no pelotão nacional,
preferindo insistir que está apenas a começar a aprender.
A iniciar hoje a sua quinta
prova como diretor desportivo da Tavfer-Mortágua-Ovos Matinados, no arranque da
39.ª Volta ao Alentejo, cuja primeira etapa sai de Vendas Novas, o galego de 42
anos já tem no currículo uma vitória, na Prova de Abertura, e a camisola da
montanha da 'elitista' Volta
ao Algarve, onde João Matias surpreendeu a concorrência do World Tour.
"Eu
acho que não revolucionei assim tanta coisa. Simplesmente, como todas as
pessoas que gostam de algo e iniciam um projeto novo, tenho vontade de
trabalhar e fazer as coisas o melhor que sei, com os acertos e erros que, pela
falta de experiência, possa ter deste lado. Isso, juntamente com a experiência
como atleta, o que conheço do ciclismo português e estar numa equipa que, como
digo aos meus corredores, não tem nada a perder, só tem a ganhar, permite-nos
poder, em certos aspetos, a nível tático, arriscar",
avaliou.
O facto de a
Tavfer-Mortágua-Ovos Matinados não se "fechar
a nada" também possibilita, a nível da planificação, a
definição de objetivos que seriam impensáveis noutras equipas, que têm metas
mais complicadas a alcançar.
"Tudo
o que fazes, bem-vindo seja. E penso que esse medo ao fracasso muitas vezes
bloqueia os atletas. Desde esse ponto de vista, qualquer pessoa nova vai dar um
bocadinho de ar fresco", completou, em declarações à
agência Lusa.
Recém-reformado como ciclista,
o bicampeão da Volta a Portugal (2014 e 2015) reconhece que os diretores
desportivos que estão há mais tempo no pelotão enfrentam mais pressão do que um
'novato'.
"Quando
já tens um palmarés, as pessoas esperam que estejas sempre ao máximo nível.
Quando eu era atleta, fazer 10.º na Volta era um fracasso. Para outros atletas,
era um grande êxito. Acho que todos os diretores fazem o melhor que conseguem,
mas também há limitações, de orçamento, até de atletas, [pois] não há atletas
suficientes para garantir uma certa qualidade, para ter uma equipa equilibrada
em termos coletivos", notou.
'Gus'
evidenciou que, "às vezes, não se
valorizam as equipas que, sabendo que vão para as corridas com muita
dificuldade para ganhar, conseguem ser protagonistas, indo para as fugas,
ganhando uma camisola, dando visibilidade".
"Para
haver uns que ganham, há outros que perdem; a minha maneira de entender o
ciclismo é um bocado essa. Sei que com a equipa que tenho não vou chegar ao
Tour e discutir a prova. Não posso ir a pensar em ganhar a Volta a França. Nem
posso ir à Volta a Portugal para tentar discutir, porque não tenho equipa para
isso", concedeu, definindo a sua formação como "jovem, equilibrada" e,
sobretudo, de formação de ciclistas de futuro.
Confessando que tenta passar
aos seus 'pupilos' a
experiência que acumulou durante duas décadas como profissional, uma característica
que já lhe era (re)conhecida nos seus tempos de ciclista -- e que lhe valeu a
alcunha de 'Papá Veloso' -, o galego assume que a transição para a sua nova
vida está a ser fácil, nomeadamente porque deixou de correr quando quis.
"Tinha
ofertas para continuar, mas cheguei ao ponto em que não queria sofrer mais. Não
é uma questão de já não gostar do ciclismo -- continuo a gostar de andar de
bicicleta, mas já não gosto de sofrer, de andar à chuva. Para tudo, há um
momento na vida e achei que o momento de deixar [o ciclismo] era o ano passado
e, por isso, acho que me está a custar menos virar a página. E aqui é aprender
desde o primeiro dia", declarou.
Veloso mostrou-se ainda
agradecido aos seus agora colegas, que o acolheram de braços abertos nesta sua nova
'encarnação' no pelotão
nacional.
"Mesmo
nas primeiras reuniões, quando não sabia algo, eles orientavam-me. Nas corridas
também dão alguns conselhos. Também sou uma pessoa que gosta de ouvir os
outros. Noto e sinto que entre os diretores há uma boa relação. Quando nos
podemos ajudar sem prejudicar os interesses individuais, fazemo-lo. Penso que
isso é uma das coisas lindas do ciclismo",
vincou.
Para aquele que era, até à sua
retirada, um dos mais populares ciclistas do pelotão nacional, o mais difícil na
função de diretor desportivo é "ter
sempre a cabeça a trabalhar".
"Cada
corrida é diferente. A preparação é diferente. A nível logístico, há que tomar
decisões e orientar e organizar. É um trabalho mais mental. Como atleta, já era
um daqueles que ajudam os diretores desportivos. Desse ponto de vista, é algo
que, mais ou menos, fui fazendo. Espero não esquecer o que é andar lá no meio e
aprender da parte de fora. Na Galiza, há um ditado que diz 'vai o velho
morrendo e vai aprendendo'", concluiu.
Fonte: Record on-line
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