Por:
Fábio Lima
Modalidades
de grande tradição no nosso país, o atletismo e o ciclismo vivem, pelo menos
até agora, bons momentos e possuem historial totalmente distinto no que a
desporto adaptado diz respeito. O atletismo é, a par do boccia, a única
modalidade que saiu sempre com medalhas dos Jogos Paralímpicos, ao passo que o
ciclismo é uma especialidade em franco crescimento nos últimos anos, tendo em
2016 colocado pela primeira vez dois atletas nos Jogos Paralímpicos. Ainda
assim, pese embora a distância que as separa a nível de historial, ambas
partilham uma das grandes dores de cabeça do desporto para pessoas com
deficiência: a falta de jovens talentos a surgir.
Record
esteve à conversa com os líderes de ambas as federações e o problema é
reconhecido por ambos. "Precisamos de aumentar a percentagem de jovens com
deficiência que praticam desporto", defende Delmino Pereira. Algo que
também Jorge Vieira advoga, ainda que admita que essa mesma ambição esbarra em
algumas variáveis, como "questões financeiras, de recursos humanos – ter a
especialização e a quantidade necessárias para desenvolver e operacionalizar
estes projetos".
Ora,
se há consenso no problema, também no campo das soluções há igualmente opinião
similar. Ambos defendem que a realização de uma "grande ação de sensibilização",
tanto junto de instituições como de escolas, seria um passo importante para dar
um novo impulso. Contudo, para tal suceder, há um longo caminho pela frente.
"Ainda estamos muito dependentes dos jovens e das famílias, que desbravam
terreno e vão à procura de soluções para uma prática desportiva e depois até
verificam que têm condições para ir mais além e vão. Mas ainda é muito incerto
este processo", lamenta o líder da FPA.
Experimentar
antes de decidir
Na
ótica de Jorge Vieira, ainda antes de escolher uma modalidade para seguir uma
eventual carreira, o jovem deve primeiro de tudo fazer experiências, de modo a
perceber onde está efetivamente o seu talento no que à atividade física diz
respeito. "Os jovens não deviam ser, muito menos as crianças, propriedade
de uma só modalidade. Deveriam ser praticantes desportivos, experimentar várias
modalidades, ensaiar, ver onde têm jeito, onde está o seu gosto, onde sentem
mais prazer e, a partir daí, especializarem-se numa determinada modalidade.
Esse seria o caminho mais correto, mas na realidade tarda em haver planos
transversais nesta área", admite, considerando que qualquer plano definido
neste âmbito deve passar por um entendimento prévio entre as mais variadas
federações. "Não deve ser cada uma por si", defende ainda o
presidente da FPA.
Há
condições para fazer melhor?
"Temos
de apaixoná-los. Fazer-lhes ver que podem ter sucesso noutras áreas." A
receita é da autoria de Delmino Pereira e é vista pelo líder da FPC como sendo
a solução para chamar os jovens ao desporto, o ciclismo em particular. Contudo,
sendo o ciclismo dependente das bicicletas (que neste caso são – ainda mais –
especiais), admite que a questão financeira complica: "Estamos a falar de
um desporto caro". Mesmo assim, garante que a FPC tem "tentado
acompanhar a evolução" da modalidade e realça o papel de
"patrocinadores e organizadores", assim como "uma abertura muito
grande por parte do CPP, do IPDJ e do IPR, que têm sido muito cooperantes e que
têm permitido fazer um bom trabalho".
No
aspeto financeiro, Jorge Vieira vai mais longe e aponta o dedo à forma como o
desporto é encarado por quem governa o país. "Vejo o financiamento do
desporto nacional em números absurdos, de dois dígitos, de 85 a 86 milhões de
euros, quando a cultura tem 400 milhões. É impensável falar em desenvolvimento
desportivo quando o orçamento do desporto e da juventude está nos dois dígitos.
É impensável! Quem disser que vai desenvolver com estes números está a mentir!
Não é possível com estes números criar um desenvolvimento para além daquilo que
vamos conseguindo fazer", garante o líder federativo do atletismo.
Fonte:
Record on-line
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