Por: Lusa
Egan Bernal levanta-se todas
as manhãs com o propósito de regressar ao melhor nível, confessando já nem
saber o que é “normal” para si dois anos após uma colisão contra um autocarro
quase lhe ter custado a carreira de ciclista.
“Já não
sei o que é normal para mim. Espero estar melhor do que no ano passado, em que
sofri muitíssimo, demasiado. Este inverno já pude treinar sem problemas. Os
treinos vão bem, a motivação existe. Continuo a levantar-me todas as manhãs a
pensar que quero voltar a ser melhor”, revelou em
conferência de imprensa na Corunha (Espanha), onde na quinta-feira começa a
terceira edição d’O Gran Camiño.
Vencedor do Tour2019 e do
Giro2021, o ciclista colombiano da INEOS não voltou ao seu velho ‘eu’ desde
que sofreu um gravíssimo acidente em janeiro de 2022: colidiu a alta velocidade
com um autocarro enquanto treinava com outros colegas de equipa no norte de
Cundinamarca, nos arredores de Bogotá, sofrendo múltiplas fraturas, além de
perfuração dos pulmões, o que obrigou a várias intervenções cirúrgicas.
"Melhorar?
Essa é a minha motivação. Conseguir ou não, é diferente. Não depende apenas de
mim. Tentarei, espero que o ano vá bem e que a sorte me acompanhe. E, sobretudo,
desfrutar da bicicleta”, completou.
As primeiras indicações que o
corredor da INEOS deixou esta temporada foram animadoras: conquistou a medalha
de bronze na prova de fundo dos Nacionais, depois de já ter sido sexto no
‘crono’, e terminou a Volta à Colômbia na quinta posição
“Sou
muito competitivo e quero sempre mais. Por um lado, deu-me moral não estar tão
longe dos melhores, mas, ao mesmo tempo, era a corrida de casa. Quando fiquei
em quarto (na quarta etapa), pensei ‘raios, queria ganhar?’. Motiva-me estar na
discussão, mas estar tão próximo deles dá-me vontade de continuar a treinar e a
fazer as coisas bem”, contou.
Bernal, único colombiano a
vencer a ‘Grande Boucle’,
dividirá pelotão nas estradas galegas com um dos homens que lhe sucedeu no palmarés
da prova francesa, considerando que é “uma
grande honra correr contra” Jonas Vingegaard.
“Ele é um
dos melhores corredores do pelotão neste momento. Espero estar próximo dele e
criar-lhe dificuldades para ganhar esta corrida. E é isso. Não tenho demasiadas
expectativas para esta prova, mas, pelo menos, temos de tentar endurecer a
corrida e ver o que acontece”, assumiu.
Para o ciclista de 27 anos, a
tática para contrariar a teórica superioridade do atual bicampeão do Tour e da
sua Visma-Lease a Bike é “ir ao máximo”.
“Temos de
fazer um bom contrarrelógio e nunca ter medo deles. Temos uma equipa forte
aqui, o Carlos também é um dos melhores. Não é só a Visma, há outras equipas,
mas somos competitivos. Não vamos alinhar a pensar que vamos ser segundos”, defendeu,
referindo-se ao quinto classificado da última Volta a França.
Sentado ao seu lado, um
discretíssimo Carlos Rodríguez detalhou que “as
sensações estão a ser boas” neste início de temporada, em que
ainda só participou na Clássica da Jaén (foi 19.º).
“O
trabalho que fizemos neste início de época parece que correu bem. No outro dia,
encontrei-me bem, mas a sorte não me acompanhou. Se tudo correr bem, aqui,
vamos tentar estar a lutar pelos primeiros postos”,
prometeu.
O espanhol de 23 anos elogiou
o traçado d’O Gran Camiño, definindo-o como “bastante
atrativo”, por ter “um pouco
de tudo”, nomeadamente um contrarrelógio na Corunha, que vai
marcar diferenças logo na primeira etapa.
Rodríguez abordou ainda as
declarações, horas antes, de Vingegaard, que previu que a próxima Volta a
França será a mais difícil pela qualidade da concorrência.
“Pela
participação, vai ser um dos mais renhidos, com mais nível. Estou ansioso por,
se tudo sair bem, estar no início desse Tour. E, com sorte, estar a lutar com
eles”, declarou.
O jovem espanhol da INEOS
reconheceu, no entanto, que ‘eles’ Vingegaard, os eslovenos Tadej Pogacar e Primoz
Roglic, e o belga Remco Evenepoel, todos vencedores de grandes Voltas “já mostraram estar noutro nível” quando
comparados consigo.
“Ver como
está o meu estado de forma em comparação com Vingegaard pode ser uma referência
para eu perceber em que posso continuar a melhorar, no que me aproximo mais e
até, com sorte, no que lhe estamos a ganhar”,
concluiu.
A terceira edição d’O Gran
Camiño arranca na quinta-feira, na Corunha, e termina no domingo, no Monte
Aloia, em Tui, perto da fronteira com Portugal.
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